Francisco Moita Flores - Há um enorme contingente que prepara a cama onde os juízes se deitam. É injusto apuparmos juízes injustiçados.
Os juízes ameaçam as autárquicas com uma greve. Por outro lado, cada vez que sai um estudo de opinião sobre as classes profissionais, surgem sempre nos últimos lugares da tabela, desprezados e, até, descredibilizados, por razões que os estudos não esclarecem. Mas que gozam desse triste lugar na desconsideração social, não há dúvidas.
Quem conhece a atividade de muitos juízes fica perturbado com estes resultados. Ao longo de 40 anos fui acompanhando o trabalho de muitos destes homens e mulheres. Trata-se de gente que trabalha incansavelmente, sem tempo para a família e tempo livre, carregados de processos, de julgamentos, com agendas saturadas de manhã à noite.
Confesso que quando era mais jovem sonhava que um dia gostaria de ver um dos meus filhos como juiz. Depois de conhecer a intensidade de trabalho em que vivem, percebi que era um pesadelo. Ser pai de um juiz é ser pai de um escravo de processos.
Poderá haver uma outra ovelha ronhosa, mas a regra é a vida dedicada exclusivamente ao trabalho. Se é assim, qual a razão da impopularidade e da despromoção social? Há muitos factores. Porém, não duvido que o linguajar popular que os desclassifica está muito associado à apreciação dos resultados de sentenças.
Porém, cada decisão judicial tem por detrás um processo. E muitas vezes os processos que lhes chegam às mãos são tão mal instruídos, tão fragilmente sustentados, que facilmente surgem absolvições e penas suspensas.
Atrás da decisão de um tribunal há um enorme contingente que prepara a cama onde os juízes se deitam: polícias, funcionários judiciais, peritos, magistrados do Ministério Público. Basta um desleixo fazer descambar um processo para o mesmo tombar com estrondo sobre a cabeça de quem o julga.
É injusto apuparmos juízes injustiçados. Mas ao ponto a que chegou a nossa injusta Justiça, estão condenados. Continuarão a ser os últimos no reconhecimento público.
Francisco Moita Flores | Correio da Manhã | 04-06-2017
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