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REVISTA DE 2016

O sol quando nasce não é para todos

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Paulo Barradas - Foi necessário esperar 42 anos para finalmente Portugal ter uma Assembleia da República repleta de deputados com apurado sentido de justiça social.

A tarefa hercúlea da justa repartição de rendimentos com base no aumento de impostos indirectos em detrimento dos impostos directos, só poderia ser defendida e realizada pelos partidos políticos que sabem bem o que o povo precisa.

Que não é necessariamente o que o povo quer, mas também isso há-de ser uma questão de tempo até o povo aprender. O que interessa é que a “narrativa” contra os ricos seja explorada até ao limite, mesmo quando isso não representa um favorecimento dos pobres.

Da mesma forma que este novo conceito de justiça “popular” social foi aplaudido pelo povo, aquando do aumento do imposto sobre o consumo de combustíveis e sobre a compra de automóveis dos ricos, hoje volta-se a fazer história em Portugal.

A partir de hoje, justiça vai ser feita e os ricos dos andares mais altos do seu prédio vão passar a pagar mais IMI do que os pobres que vivem no primeiro andar ou dos desgraçados que moram no R/C.

Alguém irá decidir subjectivamente qual a vista mais apropriada para os ricos e qual a vista com que os pobres terão que acordar todos os dias. Tal exercício com tamanha subjectividade requer um muito elevado nível de detalhe de regulamentação. Decidida por quem sabe o que é melhor para todos.

Como se não bastasse já a sempre boa relação entre os contribuintes e a Administração Fiscal, vêm agora as autarquias também participar na festa do poder local.

Para além de já receberem as receitas do IMI sobre a construção que as mesmas autorizam, podem agora também requerer reavaliações dos imóveis dos contribuintes que têm o privilégio de usufruír da sua grande capacidade de gestão, agora aplicada à caça ao imposto.

O que vale é que os ricos ja estão todos de férias, porque se não fossem ricos não iam de férias a gastar combustível nos seus ricos automóveis, e por isso nem vão notar a diferença quando regressarem às suas vidas faustosas nos solarengos apartamentos nos andares altos lá do bairro.

Ainda bem que os pobres não vivem em andares altos com vista, nem as suas casas apanham sol, porque senão os partidos da esquerda haviam de crucificar o governo.

Até haveriam de dizer que aumento de impostos é aumento da austeridade e que os impostos indirectos são injustos para os mais pobres porque pagam o mesmo que os mais ricos.

Votos de boas férias para os ricos e os pobres que aproveitem o calor para arejar as casas sem sol e que saiam à rua para ver as vistas dos ricos, porque afinal o sol quando nasce não é para todos!

Paulo Barradas | Expresso | 02-08-2016

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