Ex-primeiro-ministro pretendia candidatar-se à Presidência. Objetivo era uma entrada em força no congresso e dar início a uma vaga de fundo.
José Sócrates preparava-se para atacar o Palácio de Belém. A sua candidatura a Presidente da República, para substituir Cavaco Silva, estava a ser estudada, e o ex-primeiro-ministro tinha previsto estar no congresso do PS no fim de semana imediatamente a seguir a ter sido preso pelo Ministério Público em novembro último. Seria a última cartada, o regresso em grande à política, depois da derrota nas legislativas e após o afastamento para Paris. A estratégia tinha sido definida ao pormenor. Dias antes, Ferro Rodrigues, ex-ministro socialista, tinha dado o mote. O PS não era um partido estalinista, a história não se apagava, o legado socrático estava bem vivo. Disse-o na Assembleia da República, a propósito da troika, e agitou tudo e todos. "Um pedido de ajuda contra o qual muitos se bateram até aos limites de forças e possibilidades. E aqui há que salientar uma pessoa, um nome: José Sócrates", especificou Ferro Rodrigues Todas estas movimentações estão registadas nas milhares de horas de escutas telefónicas que foram feitas ao ex-governante. As escutas não foram destruídas - encontram-se em envelope lacrado, precisamente devido a uma alteração penal feita pelos próprios socialistas.
Na sequência processo Casa Pia, e para evitar que conversas relevantes para a defesa fossem apagadas, o legislador previu que as mesmas devam manter-se até final.
Apenas as conversas com o advogado, com os médicos e relativas à intimidade foram destruídas. O CM sabe que toda a luta política está retratada nessas mesmas escutas. José Sócrates sabia que Guterres não estava disponível para a candidatura a Belém, o que lhe deixava espaço para avançar. Há mais de um ano que o previra. Regressara aos palcos mediáticos com a crónica dominical na RTP, lançara um livro que, muito devido à intervenção do amigo Carlos Santos Silva, liderara os tops das livrarias.
No domingo, 30 de novembro, José Sócrates previra estar no congresso de consagração de António Costa. Seria lançada a semente para a vaga de fundo que o levaria a Belém.
PREVENTIVA
José Sócrates ficou em prisão preventiva, por decisão do Tribunal Central de Instrução Criminal. A decisão foi proferida pelo juiz Carlos Alexandre. É passível de recurso para a Relação.
MINISTÉRIO PÚBLICO
Só em meados do mês é que o procurador Rosário Teixeira vai responder ao recurso da defesa do ex-primeiro-ministro. Deverá contestar o pedido de alteração à medida de coação. O magistrado defende que só a preventiva acautela o processo.
Socialistas desejam melhor ano a Sócrates
Os socialistas Manuel Pizarro, Helena André e José Mota foram as primeiras visitas de José Sócrates em 2015 no Estabelecimento Prisional de Évora. "Vim visitar um amigo. Espero que 2015 lhe corra melhor do que este fim de ano de 2014. Acredito que a Justiça vai fazer o seu caminho e ele também", foram as únicas palavras de Manuel Pizarro. O ex-secretário de Estado da Saúde do governo Sócrates saiu da cadeia acompanhado por Hele naAndré. A ex-ministra do Trabalho e Solidariedade Social não quis prestar declarações. Já José Mota, ex-presidente da Câmara de Espinho, disse que o antigo primeiro-ministro está a ser vítima de uma situação "inadmissível" por parte da Justiça. "Está revoltado mas a lutar com muita força contra esta grande injustiça. Em Portugal, prende - se para investigar", frisou.
Eduardo Dâmaso | Correio da Manhã | 02-01-2015
Comentários (2)
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1-um jornalista do correio da manhã está especado no MP a ler o processo todos os dias;
2-existe uma bola de cristal na redacção do correio da manhã;
3-é tudo inventado e a ver se acertam;
4-eu imagino tudo e nada disto foi publicado no correio da manhã.
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