O ex-primeiro-ministro José Sócrates afirmou à TVI que este processo é uma caixinha de presunções, que as detenções do amigo e do motorista são injustas e injustificadas e que "falta provar tudo".
José Sócrates respondeu por escrito a seis perguntas enviadas pela TVI ao estabelecimento prisional de Évora como forma de se defender da "sistemática e criminosa violação do segredo de justiça" de que, afirma, está a ser alvo. Explicou que respondeu a estas questões porque foram as primeiras que lhe chegaram.
Foram seis questões que lhe foram dirigidas, ao longo das quais José Sócrates garantiu que durante o interrogatório pelo juiz Carlos Alexandre, que lhe ordenou a prisão preventiva, não foi confrontado com provas ou factos; que este processo é uma "caixinha de presunções"e que lutará pelo triunfo da verdade.
Foi confrontado com provas, quando foi interrogado pelo juiz Carlos Alexandre?
José Sócrates garantiu que nunca foi confrontado com provas aquando do interrogatório. "Não fui - nem confrontado com factos quanto mais com provas. E isto é válido para todos os crimes que me imputam, que considero gravíssimos para quem exerceu funções públicas", respondeu na primeira questão que lhe foi colocada. Quanto à acusação de corrupção afirma que "é uma pura invenção, uma 'hipótese de trabalho' teórica da investigação, um crime presumido, sem qualquer concretização ou referência no tempo ou no espaço e do qual não há, nem podem existir, indícios ou provas. E por uma razão simples: porque não aconteceu". Por isso, concluiu: "Fui detido e preso preventivamente sem me terem sido referidos nem factos, nem provas de que tenha cometido quaisquer crimes, a começar pelo crime de corrupção que estaria na origem de tudo". José Sócrates defendeu que "este processo é todo ele uma caixinha de presunções, em que as presunções assentam umas nas outras numa construção elaborada mas absolutamente delirante." "A prisão funciona como prova aos olhos da opinião pública", considerou, ainda na resposta à primeira questão, defendendo que não há indícios fortes e que se estes existissem já teriam sido publicados na imprensa. "Falta provar rigorosamente tudo", rematou, dizendo que a prisão preventiva é ilegal e que confia no recurso que a sua defesa apresentou. "Lamento dizê-lo, mas daqui à suspeita de perseguição política não é um passo de gigante, é um pequeno passo", disse.
O que pensa sobre o que está a acontecer?
"De um lado, podem ser divulgadas todas as mentiras e todas as falsidades; do outro, são proibidas as entrevistas e cortado o direito de defesa da honra. Não me submeto a tal imposição, que é contrária aos direitos fundamentais", diz comparando a posição do Ministério Público e a sua.
Como classifica prisão do amigo Carlos Santos Silva e do motorista João perna?
José Sócrates diz que "ambas são injustas e injustificadas", defendendo que ambas "foram ordenadas sem factos que as possam fundamentar". No caso do motorista, considerou que foi usada a prisão "para aterrorizar uma pessoa que julgavam vulnerável". No caso do amigo Carlos Santos Silva, defendeu: "Está a sofrer por ser essencialmente meu amigo e ter-me ajudado quando precisei".
Sabia que estava a ser investigado?
José Sócrates garantiu à TVI que "não sabia, não fazia a mínima ideia" que estava a ser investigado" até às buscas realizadas na casa do filho.
A menos de um ano de eleições, considera que este processo pode ter fins políticos?
O ex-primeiro-ministro afirmou desconhecer as motivações deste caso, mas reafirmou a sua convicção de que este caso "tem contornos políticos". "Este processo é na sua essência político. Já para não falar nas consequências que terá na disputa política", disse.
Que comentário lhe merece as suspeitas que têm surgido a propósito do apartamento de Paris e do seu estilo de vida, da venda das casas da sua mãe, dos negócios com Rui Pedro Soares, das entregas de dinheiro que Carlos Santos Silva lhe fez, e das idas a Paris do seu motorista alegadamente com malas de dinheiro?
No que respeita às "entregas de dinheiro ao amigo Carlos Santos Silva, o antigo primeiro-ministro admitiu que "face a algumas dificuldades de liquidez" recorreu várias vezes a "empréstimos" que o amigo lhe concedeu "para pagar despesas diversas". "Mas, sinceramente, não me parece que pedir dinheiro emprestado a um amigo seja crime", realçou.
Sócrates considera que falar do motorista e das malas de dinheiro que este terá levado para o estrangeiro é entrar "na dimensão galática da investigação". "Nunca o meu motorista foi a Paris; nunca me levou nenhuma mala de dinheiro; e nunca o meu carro foi além de Espanha", reafirmou.
Quanto ao "apartamento de luxo em Paris", Sócrates voltou a dizer que só a partir de meados de 2012 viveu, durante cerca de 10 meses, nesse apartamento, de que é proprietário, diz, o amigo Eng. Carlos Santos Silva. A partir de janeiro de 2014, alugou um outro apartamento, cujo contrata terminou a 31 de dezembro e cuja renda pagou até então. Por isso, garantiu ser "absurda" e sem "a mais pequena sustentação" a tese de que é dono do apartamento. "Há suspeitas que só existem quando se quer muito acreditar nelas", rematou à TVI. Relativamente à venda da casa da mãe da Rua Braacamp, em Lisboa, José Sócrates resumiu: "O que se fez foi trocar o imóvel que a minha mãe já tinha pela liquidez correspondente ao seu verdadeiro valor". No que respeita aos negócios do futebol com Rui Pedro Soares, José Sócrates comentou que "este ponto se não fosse trágico, era de rir à gargalhada" e garantiu que nada tem a ver com os negócios entre este empresário e o seu amigo.
Diário de Notícias | 02-01-2015
Comentários (3)
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... da bola?!
O prisioneiro 44 quererá fazer de nós parvos?
Entendo razoável que contrarie tudo o que entenda, mas há coisas que por serem absurdas e/ou mentiras crassas mais cedo ou mais tarde se virarão contra ele... Pensará, porventura, que no fim quem o julgará é um coletivo de "comentadores" "da Malta"? E que se não atentará nestas afirmações? Com elas arredando "os factos e as provas"...
Pensará que está na arena eleitoral?
Não há quem o elucide?
...
"O recluso 44 continua mentiroso compulsivo e convicto. Não desconhecia que estava a ser investigado e foi confrontado com todas as provas disponíveis no processo para ser preso preventivamente. Basta ler o que os jornais têm publicado para perceber o alcance da mentira e o estratagema habitual deste tipo de indivíduos que se servem das armas politicas para se livrarem dos problemas criminais de delito comum. Um aldrabão, como sempre foi.
Grave, por outro lado, é a actual direcção de informação da TVI que se prestou a este frete ao recluso 44. Sérgio Figueiredo, vindo da Fundação EDP para dirigir a informação da TVI já fez o primeiro frete. A seguir vêm mais.
Se a PGR e o poder judicial agora atacado de modo vil e mafioso se conformarem com este tipo de actuações, deixam muito a desejar do Estado de Direito que temos."
...
Mais grave é a ameaça que deixou para ser difundida por Pinto da Costa. “Vou-me vingar”, prometeu o ex-primeiro-ministro ao dirigente portista. Assegurou que era tudo uma cabala
Esta afirmação, se verdadeira, é fundamento para a sua prisão preventiva, pois se pretende vingar-se, obviamente do juiz e do procurador, constitui "perigo de perturbação do decurso do inquérito ou da instrução do processo e, nomeadamente, perigo para a aquisição, conservação ou veracidade da prova" - artigo 204.º, alínea b) do CPP.
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