Exactamente um dia após entrar em funções um amigo de José Sócrates como director de Informação da TVI, foi à TVI que o prisioneiro Sócrates deu a primeira entrevista. Sócrates, que chegou ao poder pelos media e pelos media governou, quer agora dobrar a Justiça através dos media.
O ex-primeiro-ministro passou a perna ao Expresso, de cuja tentada entrevista se falou várias semanas, depois de o jornal, diz ele, ter divulgado as perguntas sem antes lhas dar a conhecer. É mais provável que fosse por ter desprezado as perguntas factuais do Expresso e preferido as do canal agora dirigido pelo seu amigo Sérgio Figueiredo. As perguntas da TVI eram bem mais fofinhas, menos factuais e mais orientadas para ele poder clamar opiniões contra a justiça, etc.
Claro está que a TVI fez muito bem em pedir a entrevista e Sócrates em dá-la. Quantas mais entrevistas, melhor. Cumpre- -se o direito a informar e a opinar e a ser informado. Que ironia, Sócrates usando as mesmas armas de liberdade que ferozmente combateu enquanto primeiro-ministro! Que ironia trágica, o prisioneiro Sócrates dando uma entrevista ao canal que calou quando primeiro-ministro! Já não estão lá os que ele conseguiu afastar. Estão os que vieram depois, José Alberto Carvalho e agora Figueiredo. A apresentação da entrevista 24 horas depois da entrada em funções de Figueiredo na TVI é fatal: já sabemos com o que contamos. Veremos se a TVI também não deriva para notícias favoráveis à EDP, onde Figueiredo, por sugestão de Sócrates, foi administrador durante anos.
A forma de apresentação da entrevista, dada por escrito, revelou uma total subserviência ao entrevistado. A leitura das respostas de Sócrates, totalizando 3000 palavras, durou 22 minutos: jamais, em 20 anos, a TVI apresentou uma entrevista escrita ou um documento deste tipo na íntegra, sujeitando a eficácia do jornalismo ao documento original. Carvalho, director cessante na TVI, que o foi também da RTP quando Sócrates a dominava, desfez-se em desculpas aos espectadores pela chateza do aspecto audiovisual da entrevista, quando não fez corresponder a totalidade do texto escrito de uma resposta à totalidade da sua leitura.Na realidade, foi a Sócrates que pareceu pedir desculpa.
Sócrates, que chegou ao poder pelos media e pelos media governou, quer agora dobrar a Justiça através dos media. Por muito que se queixe, não lhe faltam meios: tem os media de Proença de Carvalho, TSF, DN e JN, tem um exército de comentadores na SIC e SICN e tem agora a TVI.
Eduardo Cintra Torres | Correio da Manhã | 04-01-2015
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