O director do "Jornal de Notícias" pediu este mês conselhos à Procuradoria-Geral da República sobre como agir no processo que envolve José Sócrates. A conversa aconteceu dois dias antes de o "Correio da Manhã" ter noticiado a existência de escutas em que Afonso Camões é referido. O director daquela publicação foi recebido no passado dia 15, a seu pedido, pela procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, e pelo director do Departamento Central de Investigação e Acção Criminal, Amadeu Guerra, para prestar alguns esclarecimentos.
No seu editorial de ontem, o responsável editorial daquele jornal descreve o encontro e adianta mesmo que soube da investigação ao ex-primeiro-ministro em Maio por um jornalista de outra publicação. A informação teria partido "directamente da investigação liderada pelo juiz Carlos Alexandre e pelo procurador Rosário Teixeira".
A AUDIÊNCIA. Segundo uma nota enviada ao i pela PGR, no dia do encontro Afonso Camões "manifestou receios quanto à possibilidade, que considerava iminente, de serem publicadas notícias relativas às suas ligações pessoais com José Sócrates, tendo por base escutas realizadas no âmbito da Operação Marquês".
De acordo com a PGR, Camões disse ainda recear que tais escutas, cujo conteúdo já fora tornado público, acabassem por prejudicá-lo a si e ao "Jornal de Notícias". "Disse temer que as referidas notícias prejudicassem não só o seu nome, mas também o do 'Jornal de Notícias'", refere a nota.
Neste caso, o director daquela publicação "pediu à procuradora-geral que o aconselhasse sobre o que fazer", algo que Joana Marques Vidal não fez por considerar que isso só poderia ser feito por um advogado.
A PGR confirma ainda que Joana Marques Vidal esclareceu na altura "desconhecer totalmente se o nome do director do JN constava das escutas telefónicas efectuadas no referido processo", adiantando que "sempre que há indícios de crime de violação de segredo de justiça é instaurado inquérito". No âmbito da Operação Marquês existem já investigações em curso por violação do segredo de justiça.
UMA FUGA COM OU SEM CARA. No editorial de ontem, Afonso Camões expôs que pedira uma audiência com a PGR, mas que à chegada também encontrou o director do DCIAP. De acordo com o director do JN, Amadeu Guerra disse que "não há política neste caso" e terá ainda sublinhado ter confiança "nos seus homens no terreno", ou seja, nos investigadores responsáveis.
Depois disso, segundo a PGR, Afonso Camões não foi capaz de apontar o dedo a quem terão sido as origens das fugas neste caso: "A procuradora-geral da República e o director do DCIAP perguntaram ainda ao director do JN se o conhecimento sobre a eventual violação do segredo de justiça tinha origem na investigação, tendo o director do JN optado por nada dizer sobre essa matéria."
Por outro lado, no seu artigo de opinião, Camões sugere de onde podem ter saído as informações: "Erro criminoso é ser verdade a possibilidade de a fuga de informação [...] ter vindo do juiz Carlos Alexandre", disse.
Nesse mesmo texto acusa ainda o "Correio da Manhã" de tentar atingir Daniel Proença de Carvalho, presidente do conselho de administração do grupo que detém o JN e faz parte de órgãos sociais da Galp, da Cimpor, do BESI e da Renova. O i contactou ontem Afonso Camões, que preferiu não fazer qualquer comentário sobre o assunto.
O CASO. Tal como o i publicou na edição de ontem, Sócrates terá falado com Proença de Carvalho sobre a venda da Controlinveste, admitindo que poderia ajudar a arranjar capital para o negócio. Proença de Carvalho é presidente do conselho de administração da empresa detentora do "Diário de Notícias", do "Jornal de Notícias" e da TSF. Mais tarde, Sócrates terá convencido Afonso Camões, actual director do JN, de que o melhor era ficar a liderar aquele diário, em vez do DN. De acordo com o "Correio da Manhã", Afonso Camões terá sido uma das primeiras pessoas a avisar Sócrates de que estava a ser investigado. Tê-lo-á feito em Maio de 2014, durante uma viagem oficial do Presidente da República à China.
Sobre esta matéria, no seu editorial de ontem, o director daquele diário confirma que já é amigo do ex-primeiro-ministro há 40 anos e que em Maio do ano passado soube da investigação: "Se o avisei, e se foi em Maio, eu era administrador e presidente da agência Lusa [...] não estava jornalista, muito menos director do nosso 'Jornal de Notícias'."
Carlos Diogo Santos | ionline | 20-01-2015
Comentários (11)
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Senão, será um autêntico massacre.
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e se tiver, haverá sempre trás-os-montes!!!!!!!!
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A tragédia dos políticos ladrões
É feiticeiro aprendiz.
Mesmo um juiz indecente
Não faz um culpado inocente
Quem foge a ser julgado
É presumível culpado.
Se acontecer prescrição
Lá se vai a presunção.
Porque:
Quem cabritos vende e cabras não têm
De algum lado lhe vem.
Coitado do mentiroso
Mente uma vez mente sempre
Ainda que fale verdade
Todos lhe dizem que mente
Voz do povo é voz de Deus.
Verdade, verdade, os Juízes são os únicos representantes directos e servos de Sua Majestade o Povo Português.
...
1.
«Por outro lado, no seu artigo de opinião, Camões sugere de onde podem ter saído as informações: "Erro criminoso é ser verdade a possibilidade de a fuga de informação [...] ter vindo do juiz Carlos Alexandre", disse».
Aqui há uma imputação em termos hipotéticos e subterrâneos no sentido de poder ser verdade que a fuga de informação possa ter vindo de Carlos Alexandre.
Pois pode, tudo aquilo que não é fisicamente impossível é possível.
Mas os acontecimentos não têm todos a mesma probabilidade de terem ocorrido.
2.
Pense-se um pouco:
Que interesse podia o juiz de instrução satisfazer ao prestar informações a um terceiro sobre factos do processo? O que ganhava com isso?
Esta é que é a questão.
Não consigo ver um interesse, com consistência prática, que possa dar sentido a uma tal acção de violação do segredo de justiça por parte do juiz de instrução.
Claro que exercitando a imaginação sempre se consegue arranjar uma hipótese.
Como se disse, o que não é impossível é possível.
Depois temos outro aspecto que é este: se o juiz prestasse informações a um terceiro ficava refém deste, o qual a qualquer momento o poderia denunciar.
Ora, pergunto, para quê um juiz de instrução colocar-se numa situação destas?
3.
Mais uma observação:
Vi em tribunal, mais que uma vez, duas e três pessoas, daquelas que se apresentam de facto e gravata, afirmarem factos que se revelaram falsos.
...
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É que, não tarda, inicia-se a campanha eleitoral e depois já não interessa quem está preso.
Ganhando o Costa, este não vai querer dividir poder ou prestigio com um meliante que, durante todo o tempo que deveria servir o país, se servia a si próprio e aos seus (inúmeros) amigos.
Nenhum chefe quer uma sombra sobre si que lhe imponha ou condicione a sua actuação. A não ser que ganhe alguma coisa com isso, que não sejam apenas preocupações.
Precisa-se de um Moisés...
Uma coisa é preservar tudo o que tenha importância para as investigações e outra é incluir no "segredo " aquilo que toda a gente sabe (ou acha que sabe), desde as 15 testemunhas, os 52 vizinhos, a cabeleireira, os 5 taberneiros e respetivos clientes, os 12 cães e os 23 gatos lá da rua!
Acrescentam-se ainda os carteiros, os policias e os jornalistas que falaram com essa gente toda.
Depois vem a "justiça" dizer que não se pode falar nisso porque é "segredo"!
Anedótico não?
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