Na segunda-feira um militar da GNR pôs termo à vida, na terça foi a vez de um agente da PSP se matar nas instalações da Direção Nacional. Setor reclama medidas urgentes
Neste ano já se registaram cinco suicídios na PSP e outros cinco na GNR, o que está a tornar 2015 como um dos piores anos para estas forças de segurança neste capítulo: na PSP, em 2000, foram seis os agentes que se suicidaram, e em 2011 foram sete. Já na Guarda o pior ano foi em 2008, quando 11 militares decidiram pôr termo à vida.
Na GNR, o quinto caso do ano aconteceu na segunda-feira, quando um guarda de 34 anos se suicidou em Torres Vedras, como confirmou o porta-voz do comando-geral, major Marco Cruz. Na terça-feira, acontecia a quinta morte na PSP: um agente principal de 53 anos matou-se com uma arma de fogo nas instalações da Direção Nacional da PSP, em Lisboa, frisou Paulo Flor, porta-voz da Direção Nacional. O agente, natural de Mirandela, casado e com dois filhos, trabalhava na arrecadação do material de guerra e tinha acesso fácil a armas.
O "fenómeno" tem sido estudado nas forças de segurança, concluindo-se que as causas são exteriores às instituições, sendo de ordem emocional, financeira ou ambas, "e que se refletem depois na desmotivação e no desinteresse profissional", sublinha Mário Andrade, presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP), organização que dispõe há muitos anos de um gabinete de psicologia que acompanha agentes com depressões e que também colige os dados sobre suicídio e analisa as causas.
Retirar a arma não é solução
Para as associações sindicais, a resolução do problema não passa apenas por retirar a arma de serviço a um elemento que esteja sinalizado como potencial suicida, porque isso já acontece na PSP e na GNR. Alguns casos são identificados pelos gabinetes de psicologia das duas forças, mas muitos outros ficam no desconhecimento quando vão para o acompanhamento psicológico no privado. "A grande parte dos elementos que se suicidam nem estão referenciados", diz Paulo Rodrigues, presidente da maior associação sindical da PSP, a ASPP. O dirigente reclama há já muito tempo junto do Ministério da Administração Interna (MAI) a "criação de uma comissão que analise o que se está a passar e que aplique medidas preventivas urgentes porque este ano está de novo a ser negro na PSP". O total de mortes autoprovocadas na polícia neste ano já equivaleu ao conjunto do ano passado (cinco).
Para Paulo Rodrigues, mandar retirar a arma de serviço a todos os agentes ou oficiais que procuram apoio psicológico "iria apenas agravar o problema". E lembra que "quando se retira a arma a um polícia está-se a remeter esse elemento para serviço administrativo, o que significa que fica sem suplementos de patrulha e de turno e não pode fazer serviços remunerados". O dirigente sindical defende que "muitos dos elementos da PSP com formação em Psicologia podiam ser usados para ajudar a sinalizar estes casos, uma vez que têm maior facilidade de aproximação com os colegas do que o Gabinete de Psicologia da Direção Nacional da PSP".
Entre 2000 e 2014, 60 militares da GNR suicidaram-se, alguns no local de trabalho e quase todos com a arma de serviço, segundo um estudo divulgado em abril. César Nogueira, líder da APG, associação sindical da GNR, também não advoga a retirada da arma, defendendo antes "um reforço na medicina preventiva da GNR". A Guarda apostou na prevenção, criou uma linha de SOS em 2007 e mais recentemente "criou as consultas de rastreio, de checkup físico e de psicologia para os guardas com mais de 40 anos de idade". O problema é que não são extensíveis aos quase 23 mil militares da Guarda, diz César Nogueira, "devido à falta de meios e à redução que os cortes orçamentais provocaram nos serviços clínicos".
GNR: 15% pensaram em suicídio
"Poucos dos suicídios têm uma relação direta com a instituição mas ser polícia agrava tudo", afirma César Nogueira. Em abril, o dirigente sindical apresentou um questionário sobre prevenção de suicídio distribuído pela APG na corporação. Cerca de 15% dos militares da GNR já ponderaram suicidar-se, mais de 80% admitiram ter sentido "desalento e desânimo" devido ao excesso de trabalho e à relação com as chefias, e quase 7% confessaram já ter tentado pôr termo à vida. O estudo desenvolvido pelas psicólogas Susana Pinto Almeida e Sofia Fonseca identifica ainda os principais fatores de risco na Guarda: exposição crónica ao stress, sentimento de inutilidade, facilidade de acesso a meios de autodestruição e problemas de funcionamento familiar ou social.
Rute Coelho | Diário de Notícias | 06-11-2015
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