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REVISTA DE 2015

Crime à portuguesa. O melhor do pior de 2014

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É preciso jeito e esperteza para o crime. E sorte. Em 2014 foram muitos os criminosos que não deram trabalho nenhum à polícia. Por serem desastrados, demasiado audazes, ingénuos ou simplesmente tontos, foram apanhados em menos de nada. A selecção do i dos criminosos e condenados mais excêntricos deste ano inclui ladrões de ovelhas e de pizzas e assaltantes de padres e de caixas de esmolas. Também houve quem tivesse roubado comida para gato e chapéus. E bandidos que usaram o carro da polícia para fugir

O pirilampo mágico. Ladrão tenta roubar PSP
Eram 4h30 da madrugada. Dois polícias estacionaram o carro na praia da Rocha para fazer uma patrulha apeada. Depois de se afastarem do estacionamento viram um homem a tentar arrancar o pirilampo de sinalização do carro da PSP. Antes de tentar pôr-se a andar, e assim que percebeu que os polícias o estavam a observar, o ladrão ainda tentou esconder o material nas calças. Só que não conseguiu, porque os pirilampos eram demasiado grandes. Quando foi detido ainda disse aos gentes que o dinheiro dos impostos servia para pagar o estrago, por isso não compreendia a indignação.

O herói. Fugiu no carro da GNR a grande velocidade
Há noites de azar. Um casal ficou sem gasolina, a meio da noite, no vale de São Cosme, em Famalicão. Os moradores chamaram a GNR e os militares perceberam que o condutor era procurado por vários furtos. Algemaram-no e mandaram-no entrar para o banco de trás de um dos carros de patrulha. A mulher foi encaminhada para outra viatura e, enquanto os guardas discutiam o passo seguinte, o homem pôs-se ao volante do carro da GNR e, algemado, conseguiu fugir a grande velocidade. A viatura foi encontrada horas mais tarde em Braga, mas sem o fugitivo.

O ateu. Apanhado a gamar na casa do padre
Lamas do Cavalo, freguesia de Avintes. Um rapaz de 21 anos, natural da aldeia, foi visto a entrar à socapa e em plena luz do dia em cada do padre. Os vizinhos chamaram a GNR e o sacerdote (que estava num café de Mascarenhas, concelho de Mirandela), apanhou o ladrão em flagrante. Antes de as autoridades chegarem já duas dezenas de habitantes da aldeia tinham cercado a casa – de maneira a não permitir a fuga do criminoso. Quando a GNR apareceu, o ladrão já tinha conseguido reunir uma série de objectos valiosos. Foi detido e teve de receber protecção policial a caminho do posto de Mirandela porque os habitantes da aldeia estavam determinados a fazer justiça pelas próprias mãos. A justiça divina funciona assim.

A mentirosa. Afinal a culpa era da empregada
Aconteceu duas vezes: uma empregada interna de uma casa em Queijas, Oeiras, foi sequestrada e brutalmente agredida por um mesmo ladrão quando estava sozinha em casa. Foi espancada e amarrada, enquanto o bandido "limpava" a habitação. Das duas vezes, a empregada acabou no hospital. Da última, em Novembro, o desfecho foi diferente. Depois de receber alta médica, a mulher confessou que afinal não tinha havido ladrão nenhum. Tinha sido ela a autora dos dois assaltos. Confissão feita, foi constituída arguida e teve de devolver tudo o que roubou aos patrões: 1200 euros em notas, um portátil no valor de 339 euros e uma série de peças de ouro avaliadas em mais de mil euros.

O desgraçado. Sem-abrigo teve de dar morada
Um sem-abrigo de Lisboa foi obrigado pelo tribunal a "não mudar de residência". Em Fevereiro, o homem de 33 anos foi detido pela PSP por suspeitas de furto. Ao ver um carro da polícia a passar na rua desatou a correr e foi esconder-se atrás de uns caixotes do lixo. Os agentes estranharam o comportamento e, quando o revistaram, encontraram 1165 euros em dinheiro, uma carta de condução roubada e vários cartões de memória micro USB. Como uma tragédia nunca vem só, quando foi a tribunal o juiz decidiu constituí-lo arguido com termo de identidade e residência – ficando obrigado a "não mudar de residência nem dela se ausentar por mais de cinco dias sem comunicar a nova morada".

O exibicionista. Pôs fotos do roubo no Facebook
Podia ser, simplesmente, um erro de principiante. Mas não: o rapaz de 20 anos apanhado em Esposende, em Junho, por ter roubado roupa desportiva até já tinha cadastro. A seguir ao furto, numa loja do centro da cidade, decidiu vestir-se com algumas das peças, fotografar-se e colocar as imagens na sua página pessoal no Facebook. O dono da loja fez uma pesquisa na internet, reconheceu a roupa e avisou a GNR, que acabou por deter o ladrão. "Na altura por acaso não estava detido com a roupa furtada", contou à TSF uma fonte da GNR. Só por acaso.

O religioso. Roubar esmolas em Fátima
Uma ideia peregrina acabou com uma detenção em flagrante. A GNR apanhou, em Novembro, um homem de 60 anos a roubar esmolas no Santuário de Fátima. A detenção aconteceu às 6h20 da manhã e, segundo os militares, o ladrão, natural de Vila Nova de Gaia, usava um "engenhoso esquema" para conseguir roubar das caixas de esmolas apenas as notas. O homem já tinha usado o mesmo método em 2010, sempre na Basílica de Nossa Senhora do Rosário. Quando foi apanhado, o "peregrino" já tinha conseguido juntar 225 euros. Não vá o Diabo tecê-las, a polícia nunca quis revelar em que consistia afinal o tal mecanismo "engenhoso" para retirar só as notas.

O amigo dos animais. Onze ovelhas e cinco borregos
Quando se anda no gamanço e não se tem carta de condução, o melhor é não conduzir. Uma patrulha da GNR estava a fazer uma operação STOP numa estrada nacional nos arredores de Redondo e mandou parar um carro em que circulavam dois homens. A fiscalização durou mais tempo que o previsto porque o condutor não tinha carta. Ao abrirem a mala do carro, os militares encontraram um borrego – que tinha sido roubado numa herdade. Num comunicado, a GNR anunciou que, a seguir à fiscalização, fez "diligências" que permitiram "recuperar outras 11 ovelhas e cinco borregos que se encontravam junto da residência dos detidos". Os dois ladrões ficaram com termo de identidade e residência a aguardar julgamento.

O esfomeado. Dá-me as pizzas já
Data e local da ocorrência: 13 de Janeiro, Alameda D. Afonso Henriques, Lisboa. Relato do crime, segundo a PSP: "A polícia, alertada por uma testemunha que se encontrava nas imediações do local da ocorrência, localizou de imediato a vítima, um estafeta motorizado de uma empresa de restauração e distribuição, o qual foi abordado pelos três suspeitos que sob coação física lhe subtraíram duas pizzas, encetando de imediato fuga apeada." Trocado por miúdos (e com recurso ao muito útil dicionário de linguagem policial – linguagem normal): alguém viu um estafeta ser abordado por dois ladrões, que queriam a todo o custo levar as pizzas que trazia na mota. Os ladrões foram detidos. Um deles tinha cadastro desde os dez anos.

A descarada. Roubou morto no funeral
Quase todos os crimes falham por culpa de um erro – normalmente muito pequeno. E o erro de uma mulher de 55 anos detida pela GNR da Batalha foi ter parado num café para pedir indicações sobre o melhor caminho a seguir para a casa que se preparava para assaltar. Perguntou pela rua de um homem que tinha morrido e seria sepultado nessa mesma tarde. O dono do café deu-lhe as indicações, mas acrescentou que não iria encontrar ninguém em casa porque eram 15h e estava a decorrer o funeral. Por ter achado estranho, avisou a polícia. Nem uma hora depois, a GNR apanhava a mulher na casa do morto, com um saco cheio de objectos valiosos.

O apressado. Atirar armas pela janela
Se os ladrões não circulassem demasiado depressa talvez não tivessem sido apanhados. A velocidade excessiva de um carro despertou a atenção da PSP de Rio de Mouro. Quatro homens seguiam dentro do carro e não acataram a ordem de paragem da polícia. No meio da perseguição, desataram a atirar armas de fogo – que tinham roubado – pela janela. O quarteto acabou por ser apanhado e os agentes da PSP tiveram de andar a apanhar pistolas e caçadeiras do meio da rua. Um dos ladrões estava em liberdade condicional e tinha sido condenado a sete anos de cadeia por vários crimes de roubo. Foram-lhe apreendidos gorros, luvas e uma faca de mato.

O miau. Arriscar por comida de gato
Podiam ter levado dinheiro, mas preferiram embalagens de detergente, 24 latas de comida para gato e uma botija de gás. Dois homens de 35 anos – um desempregado e outro operador de caixa – foram apanhados no Porto, em Abril, quando carregavam o material de uma loja assaltada para uma carrinha. Assim que viram os agentes da esquadra do Bom Pastor, os dois ladrões fugiram a grande velocidade. Foram apanhados em Gaia, depois de uma perseguição de filme e quando se despistaram. E que não se subestime o valor dos artigos furtados. Segundo o dono da loja, entre detergentes e latas de comida de gato, os produtos valiam mais de 450 euros.

O chapeleiro. 21 chapéus debaixo do braço
Chapéus há muitos. Em Julho, a PSP apanhou em plena Baixa de Lisboa, durante a tarde, um homem de 34 anos que tinha acabado de roubar 21 chapéus de uma loja. O furto teria sido bem sucedido não fosse o ladrão ter decidido andar na rua, calmamente, com "uma quantidade anormal de chapéus ainda com as etiquetas de preço colocadas". Dois polícias acharam o comportamento estranho, mas mais suspeito ainda foi o ladrão ter desatado a correr assim que viu os agentes virem na sua direcção. Acabaria por ser apanhado poucos metros mais à frente e os chapéus, avaliados em quase 300 euros, foram imediatamente devolvidos ao dono da loja. A PSP percebeu, ainda nessa tarde, que já não era a primeira vez que o homem roubava chapéus.

Os ocupas. Buraco para a ourivesaria
O plano era habilidoso. Três ladrões entraram numa loja nas traseiras de uma ourivesaria de Barcelos onde montaram uma sala de operações para cometer o crime. O objectivo era abrir um buraco na parede para chegar ao ouro. Para não levantar suspeitas decidiram forrar as vitrinas da loja com papel de jornal. Mas as janelas forradas chamaram a atenção do dono da ourivesaria, que, quando espreitou para dentro da loja, viu luvas, sacos grandes, um macaco hidráulico e um maçarico e decidiu alertar a PSP. Os polícias montaram uma vigília de 12 horas e apanharam o trio em flagrante. O dono da ourivesaria relatou o feito à CMTV e contou que os agentes da PSP "foram umas pessoas impecáveis".

Rosa Ramos | ionline | 31-12-2014

Comentários (1)


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O Gato não tem Culpa...
«... detergentes e latas de comida de gato...»

São lavadinhos e amigos dos animais...
Só por isso, mereciam alguma compreensão... e, qui ça, compaixão...
Giulia , 16 Janeiro 2015 - 21:36:43 hr.

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