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REVISTA DE 2015

"Anonymous" e "Tugaleaks" alvo de operação da Judiciária

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Sete pessoas foram detidas esta quinta-feira pela Polícia Judiciária por crimes de sabotagem informática, dano informático, acesso ilegítimo e associação criminosa envolvendo o acesso a diversos sistemas informáticos do Estado e também de empresas do setor privado. Entre os detidos está Rui Cruz, responsável pela página "Tugaleaks", e membros do grupo "Anonymous".

A Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou que a operação envolveu duas dezenas de buscas domiciliárias e uma a um órgão de comunicação social. Presume-se que se trate se do "Tugaleaks", uma página internet que se apresenta como órgão de comunicação social inspirado no "Wikileaks" de Julian Assange, já que o seu responsável está entre os detidos.

Em várias páginas online é dado como certo que entre os detidos estão membros do grupo "Anonymous", sendo um dos detidos uma mulher. Um texto publicado ao final da manhã afirma que se trata de "prisões políticas" de "ativistas digitais".

As detenções ocorreram após a Diretoria de Lisboa da PJ, em articulação com o Gabinete do Cibercrime da Procuradoria-Geral da República (PGR), desenvolver em vários pontos do território nacional, uma vasta operação de combate à criminalidade informática e tecnológica, designadamente à atividade ilícita conhecida como "hacktivismo".

De acordo com a PGR, entre os factos em investigação encontram-se os ataques informáticos a servidores que alojam sites do Ministério Público, da Polícia Judiciária, do Conselho Superior da Magistratura, da EDP e da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista.

Na operação "Caretos" participaram 70 funcionários especializados, tendo a mesma visado apurar as responsabilidades criminais de grupos de cidadãos envolvidos, de forma reiterada, em crimes daquela natureza.

Segundo a PJ, a investigação iniciou-se em abril de 2014, tendo-se, agora, após recolha de informação e de material probatório, desenvolvido com a realização de 24 buscas domiciliárias e a detenção de sete presumíveis autores, um deles de sexo feminino.

Os detidos têm entre os 17 e os 40 anos e residem nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Serão agora submetidos a primeiro interrogatório judicial, no qual serão sujeitos à aplicação das medidas de coação adequadas.

Além das detenções, foram, ainda, constituídos 14 arguidos, face ao seu envolvimento nos factos delituosos.

A operação permitiu a apreensão de dezenas de sistemas informáticos, que serão objeto de análise forense digital a efetuar pelo departamento especializado da Polícia Judiciária.

"A atividade destes grupos centrava-se no ataque frequente e lesivo a sistemas informáticos institucionais, públicos e privados, sendo que as consequências práticas do cometimento destes tipos de crimes conduzem à inesperada inoperabilidade institucional dos mesmos, com os prejuízos daí resultantes", refere a PJ

Nos casos de sistemas informáticos privativos do Estado Português, os ataques provocaram, segundo a PJ, uma "clara afetação da sua imagem, quanto a matérias de fiabilidade e segurança".

"Este tipo de criminalidade tem, ainda, um efeito erosivo sobre a confiança dos cidadãos nas estruturas nacionais da rede internet, prejudicando a sua credibilidade, nível de segurança e funcionamento regular, bem como comprometendo uma maior e mais segura adesão aos serviços nas redes de informação, processamento e comunicação", conclui aquela polícia.

A PJ revela que prossegue as investigações, para apurar a natureza e a extensão das ligações criminosas destes grupos.

De que são acusados os hackers detidos pela PJ

A operação de combate à criminalidade informática e tecnológica C4R3T05 (CARETOS), desta quinta-feira, resultou na detenção de sete pessoas. Segundo a Polícia Judiciária, os detidos estão acusados de, alegadamente, terem participado em atos de "hacktivismo". Mas o que é "hacktivismo" e o que é que estes alegados piratas informáticos fizeram?

Hacking - Hacking tornou-se, hoje em dia, sinónimo de pirataria informática, mas o conceito de "hacker" é bem mais abrangente. Normalmente, um "hacker" é-o por conseguir alterar um sistema, por forma a dar-lhe uma função que não estava originalmente nos planos de quem o criou. Existem diversas formas de "hacking" mas a mais conhecida é a pirataria informática, em que os "hackers" fazem uso de computadores para executar os seus planos. Os "bons da fita" do mundo dos piratas informáticos usam os seus conhecimentos para o bem e são conhecidos como "white hats", pois trabalham com o intuito de proteger a segurança de um sistema. Quem tenta violar essa mesma segurança é conhecido como "black hat" e encarado como um criminoso.

Hacktivismo - É uma forma de ativismo realizada, como o próprio nome indica, por "hackers", ou piratas informáticos com objetivos ideológicos (e sem fins lucrativos próprios). É considerada uma atividade ilícita por parte das autoridades, pois pressupõe um ataque a um sistema informático, com um objetivo social ou político relevante para quem executa o ataque. As pessoas que decidem fazer este tipo de ataques são denominadas de hacktivistas. O mais conhecido grupo hacktivista do planeta chama-se "Anonymous" e nasceu em 2003.

DDoS - Um dos tipos mais comuns de ataque informático passa pela sabotagem, com um "Distributed Denial of Service", ou DDoS. Um DDoS acontece sempre que uma organização se vir privada de um recurso ou de acesso a um serviço por causa de um ataque coordenado de várias máquinas. Ou seja, sempre que um grupo quer fazer um DDoS, utiliza diferentes computadores e, ao mesmo tempo, envia pedidos e informações a um determinado servidor, obrigando o mesmo a desligar devido ao excesso de pedidos em simultâneo. Apesar de não ser um ataque intrusivo, pois, normalmente, ninguém acede a informação interna com esta tática, é um tipo de ataque fácil de executar e que, facilmente, consegue deitar abaixo um site em poucas horas, fazendo o seu alvo perder muito tempo...e dinheiro.

Defacing - É um tipo de ataque em que a página de apresentação ao público é modificada, normalmente para fazer passar uma determinada mensagem. Para conseguir executar um "defacing" é preciso entrar no servidor onde a página está alojada e substituir a mesma por uma página própria, redirecionando os utilizadores que consultarem o endereço original para a página que se quer mostrar. Funciona, assim, como uma espécie de assinatura digital para muitos piratas informáticos e é usada, muitas vezes, para passar mensagens ou ameaças a instituições. É uma das mais comuns armas usadas pelos hacktivistas.

Exfiltração de dados - A expressão não deixa muito espaço à imaginação. Uma exfiltração de dados acontece, como o nome deixa adivinhar, sempre que o atacante tem acesso não autorizado a informação particular, que consegue extrair de um determinado sistema. É uma das mais graves acusações que pendem sobre os suspeitos detidos esta quinta-feira, pois implica o acesso a um sistema fechado através de um ciberataque.

Daniela Espírito Santo | Jornal de Notícias | 26-02-2015

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