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REVISTA DE 2015

Juízes querem mapa judiciário no Constitucional

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Os juízes vão insistir junto da Procuradora-Geral da República para que envie para o Tribunal Constitucional (TC) a norma do Mapa Judiciário que permite a mobilidade de juízes e processos entre tribunais, por entenderem que é inconstitucional. Até que o TC decida, a Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) aconselha os magistrados a impugnarem todas as decisões de deslocação com que não concordem. A acontecer, a acção bloqueará a eficiência das novas 23 comarcas.

A orientação da ASJP consta de um documento interno de trabalho - a que o Diário Económico teve acesso - onde o órgão que representa os interesses profissionais dos magistrados clarifica os poderes dos juízes-presidentes das novas comarcas e define um "Manual de Boas Práticas" para os tribunais.

Isto porque, assume a associação no "Estudo sobre o exercício das competências do juiz-presidente", têm existido desde Setembro, data em que o Mapa entrou no terreno, "denúncias" de abusos e "interferências" da parte do juiz-presidente em decisões e "orientações" de gestão processual.

O estudo da ASJP visa também, reconheceu ao Diário Económico uma fonte do sindicato, pressionar o Conselho Superior da Magistratura (CSM) a uniformizar, de vez, os procedimentos dos juízes-presidentes e a dar "instruções para que determinados comportamentos sejam "corrigidos". A ausência de regulamentação tem gerado conflitos dentro das comarcas entre o juiz-presidente e os juízes titulares dos processos e há mesmo comarcas em 'pé-de-guerra''.

A possibilidade de o CSM, a pedido do juiz-presidente, aprovar a deslocação de juízes ou de processos para outros tribunais dentro da mesma comarca, sem o consentimento destes - em nome da "eficiência dos serviços" - está na base de muitos conflitos. Os juízes entendem que "está a ser praticada uma ilegalidade" nos tribunais dado que tanto a Constituição, como o Estatuto dos Magistrados Judiciais, impõem o princípio da inamovibilidade dos juízes (não podem ser transferidos para evitar interferências externas ou políticas) e do juiz natural (um processo tem um juiz pré-determinado).

Juízes estão a ser deslocados sem o sem consentimento

Como a ministra não chegou a rever o estatuto e já disse que não conseguirá fazê-lo nesta legislatura, a lei que regula o Mapa Judiciário, e que possibilita a deslocação quando necessidades de serviço o exijam, viola aqueles dois diplomas.

Apesar disso, os juízes-presidentes das 23 comarcas têm ordenado a afectação de juízes a outros tribunais e de processos a outros magistrados que não o titular, como admite a ASJP no próprio estudo, o que leva a associação a aconselhar os juízes que se opõem a impugnarem a decisão do CSM, disponibilizando todo o apoio jurídico.

A associação sindical diz mesmo que uma decisão do Conselho Superior nesse sentido, sem o consentimento do juiz em causa, é juridicamente inválida. A par destas afectações, as alegadas interferências dos juízes-presidentes na própria gestão dos processos que pertencem a outros juízes estão também a causar mal-estar nas comarcas (ver texto ao lado). A ASJP avisa: "Num caso e noutro, as competências dos juízes-presidentes não poderão colocar em causa a independência dos juízes, valor constitucional basilar".

Como um dos objectivos da reafectação na Lei da Organização Judiciária passa pelo aumento da eficiência da comarca e pela melhor distribuição dos processos - para reduzir pendências - a recusa e impugnação dos juízes pode paralisar a "mãe das reformas" de Paula Teixeira da Cruz, que arrancou 'coxa'' em Setembro com o colapso do sistema informático. [CORTE_PAGINACAO]

Sem estatuto, magistrados cortam relações com ministra

A relação dos magistrados com o Ministério da Justiça deteriorou-se nas últimas semanas por causa do estatuto. Este diploma devia ter sido revisto em 2014 para entrar em vigor no dia em que o Mapa Judiciário começou a ser implementado precisamente para evitar conflitos jurídicos, mas o processo atrasou-se. A ministra criou grupos de trabalho para os juízes e para os procuradores e só em Dezembro de 2014 recebeu as propostas. O MP entregou ainda alguns contributos em Março deste ano.

Certo é que, agora, no Parlamento, Paula Teixeira da Cruz alegou escassez de tempo para fechar o 'dossier'' a tempo do fim da legislatura e dificuldades em fazer passar nas Finanças "as elevadas" e "irreais" reivindicações salariais dos magistrados.

Esta declaração caiu que nem uma bomba nos juízes e procuradores, que acusaram a ministra de estar a usar o estatuto remuneratório dos magistrados como desculpa para falhar a aprovação do estatuto (uma meta incluída no programa de Governo). Indignados, os magistrados cortaram relações oficiais com Paula Teixeira da Cruz. É neste ambiente de tensão que pedem a intervenção do Constitucional.

Inês David Bastos | Economico.pt | 29-06-2015

Comentários (11)


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Finalmente!
abc , 29 Junho 2015 - 15:01:27 hr.
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É esta a forma de lutar contra o satus quo. É este o caminho certo, mas isso depende da coragem dos juízes e da união de todos em torno da ASJP.
Espero que a Presidente da ASJP consiga agregar toda a classe em torno dessa luta.
Mendes de Bragança , 29 Junho 2015 - 16:02:11 hr.
...
Mal ouvi falar em presidentes da comarca, percebi imediatamente a lança em África que o poder politico estava lançar para o seio da magistratura e alertei para o enorme problema que ter um "capataz" na comarca poderia causar aos juízes. Ninguém me ligou, mas, agora que a lança começa a picar, já muitos Juízes estão a ficar nervosos. Quanto à cenoura do aumento de 10% do ordenado do presidente da comarca, nem havia necessidade, caro legislador: ganhar o ordenado ao fim do mês sem ter nada que fazer, já seria incentivo mais do que suficiente para que muitos fossem para a fila.
Observador atento , 29 Junho 2015 - 23:47:12 hr.
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Os Juizes vão insistir junto da PGR? Estarei a ler bem? Então e porque não insistem junto do CSM ou junto da ASJP??
Samuel Fabiano , 30 Junho 2015 - 11:48:50 hr. | url
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Porque quem insiste, Samuel Fabiano, é a própria ASJP. Porque quem tem competência para suscitar a inconstitucionalidade da norma, Samuel Fabiano, é a PGR.
www , 30 Junho 2015 - 14:07:31 hr.
...
Ah, já percebi. Os Juizes querem-se considerar superiores aos Magistrados do MP, mas precisam, neste caso, dos Magistrados do MP, mais propriamente da PGR. para enviar ao TC o mapa judiciário. É fácil, senhor www. Mude-se a lei. Será que não haverá por aó alguns deputados da maioria que queiram fazer este favorzinho aos juízes??
Samuel Fabiano , 30 Junho 2015 - 16:51:04 hr. | url
...
Os juízes não necessitam dos Magistrados do MP, Samuel Fabiano. A solicitação à PGR é feita à... PGR (que pode até nem ser um magistrado ou ser juiz).
eee , 30 Junho 2015 - 17:34:37 hr.
...
E é um funcionário de expedientes na PGR que vai suscitar a inconstitucionalidade da norma, ó seu esperto que nem um calhau "eee"? Eu sei que oa juizes se consideram Deus e que não gostam de se rebaixar àqueles que pensam que são imaculados. Mas nem um nem outros são Deus, porque se fossem, muitos estariam onde está o preso 44.
Samuel Fabiano , 01 Julho 2015 - 09:12:56 hr. | url
...
PGR = Procuradora (não Procuradoria) Geral da República. A procuradoria inclui outros órgãos, para além da Procuradora (com competência própria para suscitar a inconstitucionalidade), como o CSMP.
iii , 01 Julho 2015 - 12:02:37 hr.
...
iii, ri, ri, ri.
Lopes Marcelo , 01 Julho 2015 - 14:43:34 hr. | url
...
III gri gri ... gri gri...
Daniel Freire , 01 Julho 2015 - 17:31:49 hr. | url

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