Luís Bernardo - O Conselho de Estado cavaquista é, provavelmente, o órgão consultivo mais inoperante e teatral da democracia portuguesa. Através das suas fileiras, podemos identificar o nexo de poder que transformou o país num exemplo paradigmático da regressão feliz: um conjunto panglossiano de Senadores, convencido de que vive no menos mau dos mundos austeritários. É evidente que existem excepções; a questão é saber qual a importância dessa excepcionalidiade.
Dado que, para este Presidente da República, apenas membros, históricos ou pouco históricos, dos partidos do arco austeritário podem aconselhá-lo (não vá dar-se o caso de alguém ferir os ouvidos sensíveis dos ínclitos conselheiros com propostas desagradáveis), trata-se de uma instituição sem capacidade para debater o pós-troika (que não virá) ou o próximo QREN (porque o Conselho não tem capacidade técnica para discuti-lo). Para o efeito de uma discussão séria acerca do Conselho de Estado cavaquista, as declarações dos seus conselheiros são irrelevantes: a hegemonia determina os limites exteriores do que pode ser dito.
Os indisciplinados, como Manuel Alegre, são vistos como vozes críticas e aceitáveis desde que os decíbeis da crítica nunca ultrapassem a tolerância do arco austeritário. A realidade é um dado irrelevante para a maioria dos membros do Conselho. A sensatez também não entra nas contas de alguns dos seus membros: as declarações de Luís Marques Mendes, a respeito do Tribunal Constitucional, mostram que labora numa contradição insanável a respeito das suas funções; Vítor Bento, uma das eminências visíveis do ordoliberalismo português, não é questionado acerca da sua visão excludente e distópica da sociedade portuguesa, cujo contrato social, na opinião do dito economista, terá de ser refeito - porque toda a gente abusou, mas só quem manda pode ser isentado da prestação de contas.
Este é o Conselho de Estado cavaquista. Uma instituição vazia, ocupada por sábios versados em astrologia austeritária e presidida por um chefe de Estado sem visão, ideias ou disposição para reequilibrar o sistema político português. Diga o que se disser, o Conselho é inteiramente desaconselhável.
Luís Bernardo, Politólogo | Diário Económico | 04-07-2014
Comentários (4)
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Esta presidência e o próprio regime
O problema é que já não temos capitães com eles no sítio e com plena virilidade!!!