In Verbis


icon-doc
REVISTA DE 2014

MP teme fuga de procuradores da investigação criminal

  • PDF

Procuradora que coordena combate à corrupção diz existir risco de "fuga dos melhores". Sindicato já alertou ministra para o problema das diferenças salariais.

Um procurador-adjunto que faça julgamentos de multas da ASAE e detenções por consumo de álcool vai ganhar, em média, mais 400 euros do que um colega seu que trabalhe dias e noites na investigação criminal. Esta é a consequência da entrada em vigor da Lei do novo Mapa Judiciário que classificou os juízos criminais e tribunais de pequena instância criminal como "especializados", deixando de fora da tal especialização os Departamentos de Investigação e Acção Penal.

A diferença salarial, como disse ao DN Rui Cardoso, presidente do Sindicado dos Magistrados do Ministério Público (SMMP), pode levar a uma "debandada" da investigação criminal. "O problema colocou-se depois de a lei ter sido alterada no Parlamento, tornando-a injusta para os colegas que fazem investigação criminal e têm anos de experiência acumulada em certos tipos de crimes, como a corrupção e o crime violento". O SMMP reuniu no passado dia 23 de maio com a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, a quem expôs o problema, mas ainda não obteve nenhuma garantia de que o mesmo será resolvido. "As diferenças salariais entre os colegas podem atingir os 700 euros, dependendo do índice em que se encontrem", reforçou ainda Rui Cardoso.

Também a procuradora Teresa Almeida, que coordena a 9ª secção do DIAP de Lisboa, especializada em crimes económico-financeiros, teme uma "fuga dos melhores" procuradores adjuntos. "Esta situação de profunda e inexplicável desigualdade, significa a desvalorização da nobre e complexa actividade de direcção da investigação criminal e de acusação que "alimenta" os tribunais de julgamento e tem, como consequência imediata, a "fuga" dos melhores", declarou a magistrada, numa declaração ao DN.

"Com a entrada plena em vigor da Lei de Organização Judiciária, os procuradores-adjuntos colocados nos Departamentos de Investigação e Acção Penal, responsáveis, por exemplo, pela

direcção da investigação e acusação de redes internacionais de tráfico de pessoas e de droga, de crimes de manipulação de mercado, de burlas e fraudes fiscais complexas e graves, de

redes de corrupção nas estruturas superiores da Administração Pública, irão receber algumas centenas de euros a menos que os seus colegas, com a mesma categoria profissional, dos tribunais de julgamento (Pequena Instância Criminal e Cível, Juízos Criminais e Cíveis)", explicou ainda Teresa Almeida, para quem esta situação "a médio e longo prazo, traduz-se no retrocesso de dezenas de anos na investigação da criminalidade cada vez mais complexa"

"Este não é, não pode ser, um problema de dinheiro. É uma questão crucial de política criminal", acrescentou a procuradora da República que coordena a 9ª secção do DIAP de Lisboa. O DN enviou um conjunto de questões ao ministério da Justiça sobre esta matéria, mas não obteve resposta.

Carlos Rodrigues Lima | Diário de Notícias | 29-05-2014

Comentários (5)


Exibir/Esconder comentários
...
Chamem a polícia...
transfuga , 30 Maio 2014 - 12:45:30 hr.
...
Será que vem aí uma lei a legalizar os colarinhos brancos?
Maria do Ó , 30 Maio 2014 - 18:19:02 hr.
...
isto resolve-se com mais uns tachos, uns coordenadores do m.p., uns pga sem concurso público, umas vagas de juiz, etc....
desgraças , 30 Maio 2014 - 20:44:05 hr.
...
já com os polícias entre se dirigirem de uma chamada para multar alguém mal estacionado e de uma chamada de alguém a ser assaltado não pensam duas vezes. Ah! isto se não estiverem ocupados a separar as cores de tampinhas de garrafas. Viva a ministra de Justiça! urra! País de terceiro mundo que nos encontramos.
jj , 01 Junho 2014 - 14:41:46 hr. | url
...
É por demais evidente que esta situação vai ter que ser corrgida pois é uma situação que não foi legalmente prevista.
Agora, isto de dar o correcto valor a quem trabalha na competência genérica é de inteira justiça.
Aliás, fazem-se coisas do arco da velha na competênia genérica que os senhores da competência especializada nem sonham que existem.
Ai Ai , 01 Junho 2014 - 21:51:28 hr.

Escreva o seu comentário

reduzir | aumentar

busy

Últimos conteúdos

O Supremo Tribunal Administrativo fixou jurisprudência a rejeitar providências cautelares contra o novo mapa judiciário,...

O que é uma embaixada? Foi em torno da precisão deste conceito que se decidiu uma das batalhas judiciais em disputa entr...

Um erro das Finanças. Mais de três dezenas de pareceres, relatórios de quatro comissões. Mas só o parlamento açoriano fe...

O banco norte-americano vendeu mais de 4 milhões de ações do BES no passado dia 23 de julho, ou seja poucos dias antes d...

Últimos comentários

Forense Magistrados: Ministério Público MP teme fuga de procuradores da investigação criminal

© InVerbis | Revista Digital | 2014.

Sítios do Portal Verbo Jurídico