Estão a exigir às famílias sobre-endividadas o pagamento de cerca de quatro mil euros para se iniciar o processo de declaração de insolvência. Os abusos, cometidos por alguns advogados, já foram denunciados ao Gabinete de Apoio ao Sobre-endividado da Deco por famílias que se encontram em situação financeira desesperante.
Mas o cenário pode ser mais preocupante. Mesmo pagando a quantia, "as pessoas não são, na maior parte das vezes; esclarecidas sobre as consequências de ir a tribunal pedir a insolvência" diz Natália Nunes, responsável do Gabinete.
O teor das queixas enviadas à Deco revela como a situação de fragilidade de muitos agregados familiares está a ser aproveitada como um 'negócio da China'. A situação é tanto mais preocupante quanto o facto de a maioria das falências ocorridas em Portugal ser de pessoas singulares e não de empresas.
Um sobre - endividado enviou à Deco este email: "(...) encaminharam-me para um advogado que me aconselhou a requerer a insolvência, só o referido advogado pede 2500 euros de honorários mais 990 euros para abertura de processo. Uma vez que não tenho dinheiro para pagar e regularizar as minhas dívidas, eu fico a pensar como conseguirei pagar as custas judiciais." Conhecedora da situação, Natália Nunes é categórica: "Os honorários que são pedidos pelos advogados são significativos: para iniciar o processo de insolvência, são pagos entre dois mil euros a quatro mil euros."
Para a responsável da Deco, as verbas são "injustificadas".
A própria Natália Nunes dá um exemplo dos abusos praticados:" Uma senhora foi encaminhada para uma empresa que trata de processos de insolvência singular. Disseram-lhe que tinha de pagar 3500 euros para o processo de insolvência ser aberto. Como ela não tinha dinheiro, disseram-lhe que deixasse de pagar as suas dívidas, para lhes pagar, durante dez meses, 350 euros por mês. Ao, fim de um ano, iam para tribunal pedir a insolvência."
Para a Deco, "a insolvência pode ser um caminho positivo se a família beneficiar da exoneração do passivo restante" refere o Gabinete. Dessa forma, poderá recomeçar a vida do zero dentro de cinco anos.
Menos salário sobe risco de insolvência
Cada vez mais funcionários públicos e pensionistas pedem ajudai Deco para fazer face ao sobre-endividamento. E a principal causa do excesso de dívidas resulta já, segundo os dados do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado (GAS), da deterioração das condições laborais, onde estão incluídos os cortes nos salários dos funcionários públicos e nas pensões
Os dados da Deco mostram que os pedidos de ajuda de funcionários públicos revelam uma tendência de aumento preocupante: em 2013, num total de 29 214 pedidos de ajuda, os funcionários públicos representavam 15,6%, mas este ano, ao fim de dois meses, esse peso cresceu para 18,9% dos 4144 pedidos de ajuda chegados à Deco.
Para Natália Nunes, responsável do GAS, "a tendência é para que a situação se agrave nos próximos meses." A mesma tendência afeta os pensionistas: em 2013, os pedidos de ajuda de pensionistas representou 11,6% do total, mas este ano esse peso atinge já os 11,9%.
A falência das pessoas singulares, onde se incluem famílias e indivíduos, tem um peso cada vez maior no total das insolvências: no final do terceiro trimestre de 2013, das 3641 insolvências decretadas pelos tribunais de 1.ª instância, 67% correspondiam a pessoas singulares contra 32,9% de empresas.
Os últimos dados da Direção-Geral da Política de Justiça (DGPJ), organismo responsável pela elaboração das estatísticas das insolvências, deixa claro que entre o terceiro trimestre de 2010 e igual período de 2013, período coincidente com a crise financeira e económica no País as insolvências de pessoas singulares mais do que triplicaram.
António Sérgio Azenha | Correio da Manhã | 10-03-2014
Comentários (12)
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Estes dos 4.000 euros estão todos em Lx e Porto.
Bem hajam
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Milhares são perdidos é nos processos grandes, pagos À sociedade de advogados que todos conhecem...processo face oculta que em nada vai dar...
Defensores do Povo
é culpa é de quem dá ouvidos aos seus representantes, que dizem de boca cheia que são eles que representam e defendem o povo.
Já agora, passaram recibo?
Isto é uma selva.
Apresentam declarações de IRS que mais parecem pedintes e cobram à grande e à francesa.
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São eles que fazem as leis
Alterem-se e simplifiquem-se as leis do processo, e os advogados deixam de m***r tanto dinheiro, pois os chamados fracos e indefesos conseguem apresentar e defender os seus direitos. O Código de Processo Civil não pode obrigar a constituir advogado para ir a Tribunal, isso é uma violação dos direitos das pessoas, para proteger interesses profissionais.
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Face Oculta, Freeport, BPN...Enfim!
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