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REVISTA DE 2014

Mais de 27 mil queixas de violência doméstica

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Neste ano, quatro mulheres já foram mortas pelos companheiros ou ex-companheiros. As queixas subiram em 2013: aumentaram as denúncias de maus-tratos, o que não acontecia desde 2010. Ontem, foi encontrado o corpo do agente da PSP que terá morto a ex-namorada, no sábado. Suspeita-se de suicídio. Ela já tinha feito queixa dele.

As polícias receberam 27 433 queixa de violência doméstica em 2013, período em que 37 mulheres foram mortas por companheiros ou ex-companheiros. Neste ano são já quatro as vítimas mortais de violência doméstica.

A mais recente foi Margarida Martins, 38 anos, morta pelo ex-namorado quanto ia buscar os filhos a casa do ex-marido, em Branca, concelho de Albergaria-a-Velha. Já tinha apresentado queixa na GNR de Carlos Junqueira, agente da PSP e que até há um mês tinha uma relação com ela, afirmando que ele lhe tinha apontado uma arma. No sábado, quando o viu aproximar-se, trancou-se no interior do carro, mas os disparos de pistola feitos da rua atingiram-lhe o peito. Chamadas ao local, as autoridades declararam o óbito.

Já Carlos Junqueira foi encontrado ontem à tarde morto. Suspeita-se de suicídio. O corpo estava a poucos quilómetros do local onde foi baleada mortalmente Margarida Martins. Este caso foi o quarto mortal deste ano. Em 2013 foram 37, segundo as contas do DN. Já o número de crimes de violência doméstica denunciados à PSP e GNR aumentaram - 27 433 -, quando estavam a diminuir desde 2010.

Há três anos, as autoridades policiais registaram 31 235 crimes de violência doméstica, um recorde destas ocorrências no País. As denúncias tinham vindo a diminuir nos dois últimos anos, voltando a subir no ano passado: 27 433, mais 5,2% do que em 2012 (26084).

Mas, como salienta Elisabete Brasil, dirigente da União das Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), é difícil perceber se há uma tendência de subida, "por não existirem dados científicos" sobre a dimensão deste fenómeno, ou que as vítimas se queixaram mais. O facto de haver mais informação, recursos e mecanismos locais de apoio poderá levar a um aumento de participações, justifica a diretora executiva da UMAR para a área da violência.

A GNR (Núcleos de Investigação e de Apoio à Vítima Especial) e a PSP (Equipas Especiais de Violência Doméstica) salientam, também, o reforço da intervenção de proximidade. A Guarda registou proporcionalmente um maior aumento dedenúncias(11639, no total), embora a PSP continue a ter mais casos (15 794). Na grande maioria são queixas contra homens (maridos, namorados, companheiros ou ex) e há casos em que utilizaram armas para maltratar a vítima, na maioria arma branca.

Não aceitou fim da relação

Carlos Junqueira foi encontrado morto, com ferimentos na cabeça, no interior de uma viatura nas imediações da ponte de Palhal, no lugar de Fradelos, na freguesia de Branca. Os bombeiros de Albergaria-a-Velha transportaram o corpo para o gabinete médico-legal de Aveiro, onde hoje deverá ser realizada a autópsia. Tudo indica que o agente da PSP cometeu suicídio pouco tempo depois de ter baleado mortalmente a ex-namorada.

O suspeito, que fugiu na viatura depois do crime, agiu por motivos passionais. Não terá aceite o fim do relacionamento com Margarida. A arma usada nas duas situações será a mesma, mas não é a de serviço. O DN soube que a de serviço Úie foi retirada por estar de baixa psiquiátrica "há algum tempo". O agente estava colocado na Divisão de Segurança a Instalações Diplomáticas, da PSP, em Lisboa. A corporação disponibilizou ontem à tarde apoio psicológico à família do agente, depois de saber que este se tinha suicidado.

Na polícia, Carlos Junqueira era visto como um agente com um perfil "especial". Entrou tarde na corporação, ao abrigo do regime especial para as forças armadas que permitia aos candidatos ingressar até aos 30 anos. Era introvertido e aparentemente com autodomínio. Divorciado, com dois filhos, residia na freguesia de Dornelas (Sever do Vouga).

CASAS DE ABRIGO

Bofetada em namoro não foi um alerta
Sandra, 37 anos, dois filhos, vive há um ano escondida Fugiu ao fim de 18 anos de casamento. Uma bofetada quando namoravam e ameaças constantes não a alertaram. A situação agravou-se quando ficaram desempregados. Ele encostou-lhe uma faca, ameaçou que a atirava da janela. Pediu apoio no Núcleo de Atendimento à Vítima de Violência Doméstica. O tribunal decretou a visita das crianças ao pai e ele pôs um GPS nas mochilas para saber onde ela está. Vivem com medo.

Sofreu 14 anos, não esperou desta vez
Matilde, 37 anos, quatro filhos, está pela segunda vez numa casa de abrigo, fugindo de duas relações diferentes. A primeira foi depois de ser maltratada durante 14 anos pelo marido. A segunda, seis meses após o namoro, quando começaram as ameaças, com facas e pistola. E diz: "Às vezes, penso que a vida tem sido muito injusta, mas depois penso que tenho os meus filhos e estou viva. Há muitas mulheres que morreram. E mais nenhum filho da mãe vai pôr-me a mão em cima!"

5,2 % mais queixas apresentadas em 2013 às autoridades policiais. PSP regista maior número

37 mulheres mortas em 2013. Neste ano, são já quatro os homicídios conjugais

Céu Neves | Diário de Notícias | 03-02-2014

Comentários (1)


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As queixas valem o que valem. Estas ou outras que as autoridades lhes fazem d orelhas moucas tem depois o triste fim
Kanimambo , 04 Fevereiro 2014 - 12:14:33 hr. | url

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