Num reality show, assim se transformou o caso de Daniel, o menino de 18 meses desaparecido e reencontrado três dias depois. Um agente da PSP da Calheta tirou fotos de telemóvel do menino logo que foi encontrado e terá vendido imagens a órgãos de comunicação social. O ato pode ser uma infração disciplinar grave e configurar crimes de exposição de menor e de fotografia ilícita. Trata-se de uma criança, que, apesar de ter estado desaparecida, tem o direito a ser protegida, sendo esse o dever das autoridades. A PSP foi questionada pelo DN mas não reagiu.
O agente em causa, da esquadra da PSP da Calheta, fez-se fotografar com o menino nos braços logo no momento em que Daniel foi encontrado. Também tirou fotos de Daniel nos braços do levadeiro que o encontrou. A imagem do polícia publicada na primeira página do semanário madeirense Tribuna é prova disso, apesar de vir assinada por outra pessoa.
Também polémicas são as fotos inseridas na última edição da revista Nova Gente, tiradas no Centro de Saúde da Calheta com a criança e a mãe, e que terão sido obtidas e vendidas pelo mesmo polícia, que já admitiu os factos em textos no Facebook, onde argumentou que iria entregar o dinheiro à família da criança.
O caso foi exposto na página do Facebook por um fotojornalista. Os comentários chegaram ao ponto de o agente, Ricardo de seu nome, com "15 anos de serviço público", responder, evocando o seu "direito à defesa", "já que estou a ser julgado na praça pública por quem nada fez para encontrar a criança". Assume que na terça-feira (dia 21) colocou "a foto com o menino" no seu Facebook, dizendo:" Hoje foi o dia mais feliz da minha carreira."
No texto explica que a "primeira comunicação para a esquadra foi que a criança tinha aparecido mas estava já cadáver". Que saiu de imediato para o local "percorrendo a levada, cerca de 10 a 15 km a correr, quando vejo o Sr. Teixeira [o levadeiro] com a criança ao colo e viva. (...) Tal foi a minha alegria que parei e registei esse momento. Fiz um exame sumário à criança e logo verifiquei que esta se encontrava bem de saúde embora com frio e com a roupa húmida. Segurei a mesma nos meus braços e ao percorrer a levada de regresso e sempre sem parar foi registado esse momento de alegria, como podem ver na minha página agora partilhada com o público", esclarece o agente.
No Centro de Saúde da Calheta informa alguns jornalistas que "tinha tirado fotos", tendo sido "aliciado" para partilhá-las, o que recusou.
Só que após "vários contactos efetuados, decidi que se alguém tinha de ganhar com as fotos seria a família, pelo que todo o dinheiro que supostamente foi ganho com as fotos irá a seu tempo reverter para a família como solidariedade em nome da esquadra da Calheta", que irá "angariar fundos, alimentos, roupas para doar à família". Num comentário seguinte, refere que "deu a foto ao Tribuna", só as que "vêm na revista foram vendidas e foi comunicado à mesma revista que o dinheiro seria para entregar à família, tendo os e-mails a confirmar isso mesmo", sublinhou.
O DN contactou o comando da PSP no Funchal e foi solicitado o envio de e-mail com as perguntas. Até ao fecho da edição não houve resposta. Paulo Flor, porta-voz da Direção Nacional da PSP, argumentou não ter elementos suficientes para comentar a situação mas, garantiu, "se houver infrações, serão consideradas".
Lília Bernardes | Diário de Notícias | 27-01-2014
Comentários (5)
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Chover no molhado!
Toda a gente conhecia já a carinha do miúdo, a mãe, o pai, o tio, a avó e o cão também, parafraseando a canção!
Terá o agente agido incorrectamente sim, mas não violou privacidade nenhuma!
Por outro lado revertendo o dinheiro em favor da família o agente nem sequer lucrou com isso!
Tudo me parece uma questão de "dor de cotovelo" dos paparazzi que teriam vendido a foto por muito mais! E ARRECADADO A MASSA NO BOLSO!
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