O gabinete do ex - primeiro-ministro José Sócrates tinha dois cartões de crédito, que eram usados pelo seu chefe de gabinete e por um assessor. A confirmação do uso desse meio de pagamento no gabinete de José Sócrates foi feita ontem pelo próprio gabinete de Pedro Passos Coelho, atual chefe do Governo, em resposta a questões do CM.
"O José Sócrates não tinha cartão de crédito em nome dele. Tinha [cartão de crédito] o chefe de gabinete e o assessor administrativo" afirmou Rui Baptista, assessor de imprensa de Pedro Passos Coelho. Quanto ao montante financeiro atribuído a esse meio de pagamento, Rui Baptista acrescentou que "o plafond do cartão de crédito era o fundo de maneio", cujo valor ascendia a 30 mil euros.
Já no início de 2012, o CM enviara ao gabinete de Pedro Passos Coelho várias perguntas sobre este assunto, entre as quais esta: "No anterior Governo, o primeiro-ministro, secretários de Estado na dependência do primeiro-ministro e respetivos chefes de gabinete tinham cartão de crédito?" A resposta foi esta: "Sim."
Confrontado com a contradição entre esta resposta e a dada ontem, o assessor de imprensa de Passos Coelho referiu: "Os serviços dizem que deram uma resposta genérica a uma pergunta genérica."
Na segunda-feira, José Sócrates, em reação a uma notícia do CM sobre o inquérito do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa à utilização de cartões de crédito no seu último Executivo, afirmou à Lusa: "Acontece que, enquanto fui primeiro-ministro, nunca tive nenhum cartão de crédito do Governo."
Na sequência das questões enviadas pelo CM aos ministérios em 2012, foi possível constatar, a partir das respostas enviadas, que havia gabinetes ministeriais com cartões de crédito cujo plafond financeiro ultrapassava os quatro mil euros.
DIAP ouviu funcionários
O Departamento de Investigação e Áção Penal (DIAP) de Lisboa já ouviu, no âmbito do inquérito sobre a utilização de cartões de crédito no Governo de José Sócrates, funcionários dos gabinetes ministeriais e responsáveis da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública - IGCP. Em causa está o eventual uso abusivo de dinheiros públicos.
Os investigadores já solicitaram também a diversas entidades documentos sobre as despesas realizadas com cartões de crédito no Governo de José Sócrates. Entre as testemunhas ouvidas pelo DIAP constam, segundo o 'Público' de ontem, funcionários dos gabinetes e responsáveis do IGCP.
O inquérito do DIAP foi aberto na sequência de uma queixa-crime apresentada no Ministério Público pela Associação Sindical dos Juizes Portugueses (AS JP), então liderada por António Martins. A ASJP fez a queixa por, após ter analisado os documentos enviados pelos ministérios, ter ficado com dúvidas sobre a utilização de dinheiros públicos com cartões de crédito e telefones móveis e fixos.
O Tribunal de Contas já alertou para a falta de regras na atribuição de cartões de crédito nos gabinetes ministeriais.
António Sérgio Azenha | Correio da Manhã | 18-06-2014
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Mas ainda quero acreditar que isto não vai acabar assim.
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