A partir de março, e sob o lema de garantir a autossustentabilidade da ADSE, os funcionários e pensionistas do Estado vão passar a descontar 3,5% para o subsistema de saúde. Mas, economistas consultados, esta terça-feira, pelo Jornal de Negócios, provam que a ADSE já se paga a si própria desde 2012.
Depois de os sindicatos terem, ontem, discutido com o novo secretário de Estado da Administração Pública o terceiro, em menos de meio ano, aumento dos descontos de pensionistas e funcionários públicos para a ADSE, o Jornal de Negócios foi ouvir vários economistas para tentar perceber a justificação do Governo ao aplicar esta medida.
Acontece que, todos são unânimes na defesa de que o subsistema de saúde do Estado já é autossustentável, contrariamente ao que afirma o Executivo.
"A despesa em 2012 rondou os 457 milhões de euros, mas se descontarmos daí medicamentos, meios complementares de diagnóstico e terapêutica, e outros cuidados que teriam de ser assegurados de qualquer forma pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), a despesa [da ADSE] fica-se pelos 170 milhões de euros", destaca o economista Mendes Ribeiro.
Neste sentido, prossegue, se os beneficiários deste subsistema de saúde do Estado contribuíram nesse ano com 214 milhões de euros, a despesa, conclui o economista, "ficava mais do que paga".
No mesmo sentido, o economista Pedro Pita Barros sublinha que aumentar para "3%" os descontos para a ADSE seria "mais do que suficiente". Também ao Jornal de Negócios, outro economista, Eugénio Rosa, conclui que "o aumento brutal dos descontos nos vencimentos e pensões torna-se ainda mais chocante quando visa criar excedentes para financiar o Orçamento do Estado".
Recorde-se porém que, quando a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, anunciou esta medida, repetiu que tal prende-se com a antecipação de um compromisso firmado com a troika de garantir a autossustentabilidade dos subsistemas públicos de saúde.
Notícias ao Minuto | 21-01-2014
Comentários (14)
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cavenon equivocado
a adse é igual ao s.n.s. em quase tudo, sendo que a diferença advem de os fp descontarem para ela. quanto ao s.n.s., todos temos direito a ele, incluindo os fp, que pagam impostos.
é por isto que desisti da adse a favor de um seguro de saúde privado, mais barato. é que, quanto ao sns, continuo com os mesmos direitos de todos os cidadãos.
na verdade, um fp paga 2 vezes a sua ida ao sns, pois paga impostos e é a adse que paga a despesa dp fp no sns.
tudo isto que este governo neoliberal está a fazer ou é incompetência ou é uma ajuda aos seguros de saúde privados, ligados ao bes, ao bcp e á cgd. infelizmente, tive de sair da adse e fazer um seguro privado de saúde.
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Esta gente é marada.
Aliás, os sistemas de saúde tal como o de ensino (mesmo o não o obrigatório) não têm de ser autossustentáveis. Existe um benefício público pelo facto de se formarem licenciados, tal como existe um benefício público do facto de os trabalhadores do Estado - ou quaisquer outros - andarem ou serem saudáveis. A acrescentar a isto, os funcionários que utilizam os acordos da ADSE não empastelam as estruturas do SNS. Imagine-se, com os problemas que este já tem, se mais umas dezenas de milhar de utentes caem no SNS.
E não me esqueço que os contribuintes para o SNS somos todos, porque o seu custo é pago pelo orçamento do Estado, através dos impostos de todos inclusive dos utentes da ADSE que raramente o utilizam.
Ou os privados esqueceram que não descontam nada especificamente para o SNS ao contrário do que se desconta para a ADSE? Desconto este que é manifestamente obsceno. É como acrescentar um imposto de 3,5 aos nossos rendimentos. Esta gente está marada.
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Foi agora anunciado um novo aumento da contribuição para a ADSE por parte dos seus beneficiários, e segundo declarações atribuídas à ministra das finanças “por uma questão de facilidade de tratamento orçamental, nós vamos manter esse 1,25% [que é pago pela entidade patronal - serviço do Estado - ] que se traduzirá em saldo dos subsistemas que reverte a favor do Orçamento do Estado”. O valor pode ir até 3,75% do ordenado.
Estas declarações revelam mais do que parece. E é de separar duas situações: a) os 3,75% de contribuição correspondem realmente ao auto-financiamento da ADSE; b) os 3,75% de contribuição geram receitas que ultrapassam as despesas da ADSE, criando um excedente, mesmo que a contribuição do departamento do estado onde se encontra o trabalhador seja reduzida a zero.
Nesta segunda alternativa, a contribuição de 3,75% ser suficiente para gerar uma receita superior às despesas efectivas da ADSE em cuidados de saúde, funcionará como um imposto adicional sobre os funcionários públicos beneficiários da ADSE. O “preço” do “seguro” estabelecido é superior às necessidades, revertendo o “lucro” para o “accionista” (o ministério das finanças).
Na primeira alternativa, como o aumento da contribuição dos beneficiários ainda não é suficiente para cobrir todos os custos da ADSE, a não redução da contribuição do serviço do estado do beneficiário corresponde a uma forma de distribuição do “corte orçamental”.
Em qualquer destas situações, um aumento para 3,5% ou 3,75% poderá começar a alterar o equilíbrio financeiro da ADSE por saída de beneficiários – a minha expectativa é que sejam os mais novos e mais saudáveis, com rendimentos médios / elevados, a ganhar com essa saída.
O grande atractivo actual da ADSE é a cobertura acima dos 65 anos e a extensão dessa cobertura nalgumas áreas (como a oncologia). As vantagens dessas coberturas serão menos evidentes para os grupos etários mais novos.
Mas há um outro grupo que poderá ser afectado, os beneficiários reformados – para os quais a subida da contribuição para a ADSE se adiciona aos cortes de pensões. Por uma questão de mera restrição financeira, alguns destes beneficiários poderão deixar a ADSE, levantando um de dois problemas: a) ou são relativamente saudáveis, e como tal contribuintes líquidos, e a sua saída contribui para agravar o desequilíbrio financeiro da ADSE; b) ou são utilizadores frequentes dos serviços disponibilizados pela ADSE, e neste caso a sua saída favorece o equilíbrio financeiro, em detrimento do tratamento e do estado destas pessoas, que terão de recorrer apenas ao Serviço Nacional de Saúde.
Pode ainda dar-se um outro efeito – com um aumento das contribuições, passar a existir uma maior utilização por parte dos beneficiários – dado que pagam e sentem que pagam, então vão usar “para valer a pena”. Mas se houver maior utilização, o equilíbrio financeiro poderá voltar a ser um problema.
Devido à presença de diferentes motivos para deixar a ADSE, o efeito líquido sobre o seu equilíbrio financeiro é difícil de prever, uma vez tomadas decisões de saída por alguns dos actuais beneficiários.
Nas declarações públicas sobre as medidas adoptadas para o ajustamento da taxa de contribuição para a ADSE não é referido, que eu tenha reparado, o aspecto de qual o ajustamento de comportamento dos beneficiários. Aparentemente, a hipótese subjacente aos cálculos é a de que as saídas serão negligenciáveis, e se for de facto esta hipótese, seria bom conhecer que base de evidência é usada para a estabelecer.
Thank you for voting!
Tenho ADSE e vou (estou a pensar) sair / já saí - 42.86%
Tenho ADSE e não vou sair 35.71%
Não tenho ADSE, mas se tivesse manteria - 15.71%
Não tenho ADSE, mas se tivesse saía - 5.71%
Optei por não ter ADSE (decisão tomada antes de 2010) - 0%
10 de Janeiro de 2014 by Pedro Pita Barros | 2 Comments
http://momentoseconomicos.wordpress.com/2014/01/10/adse-o-que-significa-a-nova-taxa-de-contribuicao/
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A ADSE está morta e só ainda não percebeu quem "não quer perceber" (como o Ministro da Justiça). O funeral será anunciado quando saírem os 40 ou 50.000 "beneficiários" de maiores rendimentos (e, não tenham a menor dúvida de que, quando forem ao chinês comprar uma máquina de calcular, saem no dia seguinte).
Princípio da desigualdade
Onde está a Constituição?
Desiludido
2. A ADSE permite o acesso privilegiado a meios de diagnóstico e cuidados de saúde no privado - a preços muito mais vantajosos que os obtidos pela generalidade dos Cidadãos que também queiram aceder a eles. E esses privilégios não podem ser pagos pelo SNS - já muito depauperado - nem por quem não beneficia deles. Curiosamente, agora que é pedida uma percentagem dos rendimentos unicamente aos beneficiários da ADSE, cai o carmo e a trindade com muitos a saltarem fora para não pagarem tanto. E mesmo assim, já li noutros sítios uns tantos a ofenderem os privados que durante anos e anos lha pagaram.
3. Se o argumento dos economistas supra acolhesse, estaria também aberta a porta para as seguradoras se negarem ao pagamento dos cuidados e assistência dos seus segurados no SNS e hospitais privados. Venderiam seguros que garantissem sobretudo acesso aos hospitais privados - como já fazem - e depois cobrariam a totalidade das despesas aos SNS sem esquecer uma generosa percentagem aos prestadores com quem tivessem acordos. Em suma, ganhariam dos segurados, do SNS e dos prestadores - tudo sem qualquer despesa. Essa gente sabe-a toda...
Saudações.
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Ler mais em:
- Rui Cerdeira Branco, Contribuição para a ADSE pode chegar aos 3,5%: pode evita-la saindo do sistema
http://economiafinancas.com/2014/contribuicao-para-a-adse-pode-chegar-aos-35-pode-evita-la-saindo-do-sistema/
- Pedro Pita Barros, Sair da ADSE é possível? é, mas a decisão é menos óbvia do que parece.
http://momentoseconomicos.wordpress.com/2014/01/03/adse-nova-taxa-de-contribuicao-e-saida/
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Cordiais saudações.
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1. Apenas para esclarecimento dos leitores que não saibam, digo que o Estado cobra à ADSE as comparticipações de medicamentos "quando prescritos por médicos no exercício de atividades privadas e fora do âmbito do SNS". Mas creio que o artigo supra não se limita a querer que os medicamentos deixem de ser pagos por esse subsistema de saúde, ou pelo menos tal não bastaria para o tornar autossustentável.
2. Em 2012 (os dados de 2013 ainda não devem estar disponíveis ou pelo menos não os encontrei) a ADSE gastou 483,9 milhões de euros (segundo o próprio relatório desse subsistema): 73 milhões em comparticipações de "medicamentos", 272,7 milhões em "regime convencionado" e 138,2 milhões de euros em "regime livre". Mesmo retirando o valor pago em "medicamentos", a despesa seria ainda de 410,9 milhões de euros - muito acima dos 214,7 milhões resultantes da contribuição dos beneficiários e que continuaria a obrigar toda a população a pagar 196,2 milhões de euros em privilégios que a maioria não usufrui.
3. Face aos dados, é evidente que a ADSE está longe de ser autossustentável. Para isso acontecer, o Serviço Nacional de Saúde teria de assumir pelo menos a despesa do "regime convencionado" que custa 272,7 milhões de euros e permite aos beneficiários da ADSE terem, por exemplo, consultas a 5 euros em hospitais privados - enquanto a maioria da população tem de pagar 70 e mais euros pelo mesmo ato. Sobrecarregar o SNS com a despesa desses privilégios parece-me inaceitável; bastaram as décadas em que o Orçamento de Estado as suportou.
4. Qualquer solução de financiamento da ADSE terá de passar por cobrar integralmente o custo aos seus beneficiários. Continuando parte dela a ser paga pela generalidade dos Portugueses, o seu usufruto tem de ser alargado a toda a população. Essas questões deviam ter sido resolvidas antes de se ter permitido que os funcionários públicos pudessem abandonar a ADSE. Porque entretanto sairão aqueles que mais pagam - debilitando o orçamento desse subsistema - e porque, espantosamente, quem dela não usufrui não pode livrar-se de continuar a financiá-la com os seus impostos.
5. Uma das alternativas poderia passar por cada beneficiário pagar mensalmente uma percentagem do seu rendimento e outra percentagem no momento em que usufrui das regalias - com um limite máximo por ano de forma a que ninguém tivesse de passar necessidades. Assim manter-se-ia a solidariedade entre beneficiários sem sobrecarregar em demasia os que ainda gozam de boa saúde. Creio que também permitiria a moralização de um subsistema que tem sido fonte de financiamento dos grandes grupos económicos em detrimento dos Serviços Públicos.
6. Desconhecia que o Estado não cobrava as comparticipações de medicamentos às seguradoras, mas não fico surpreendido... Aliás, não lhes deve cobrar nada pois em 2012 elas já deviam 418,3 milhões ao SNS. É o país que temos. Se as companhias vendem seguros de saúde, têm de assumir todos os custos e não ser o Estado a garantir os seus lucros milionários. E isso deve ser resolvido quanto antes pois estão a colocar em causa o Estado Social. Lembro que as seguradoras apenas retribuem uma ínfima parte daquilo que os segurados pagam; e se necessário for, aumentam os prémios, cortam nas regalias ou excluem quem der prejuízo. Não vão em cantigas; Viva o SNS!
Cordiais saudações

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