Sucessão. Henriques Gaspar foi eleito à primeira volta pelos conselheiros do STJ, com mais de metade dos votos, contra quatro candidatos. Reservado, não gosta que digam mal da Justiça
Há uma coisa que incomoda particularmente Henriques Gaspar, ontem eleito pelos seus pares presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ): que falem mal da Justiça. O juiz-conselheiro foi ontem eleito por 33 dos 64 votos dos seus pares do STJ e torna-se o primeiro magistrado com origem na carreira do Ministério Público a ser a 4ª figura na hierarquia do Estado. De personalidade reservada, é avesso às luzes mediáticas, às quais atribuiu boa parte da responsabilidade pela imagem negativa que os cidadãos têm da Justiça. Na sua tomada de posse como vice-presidente do STJ, em 2003, disse, a esse propósito, que "as novas exigências da sobreposição mediática – não as de exposição pública, que é neces: sária e mediática – exponenciam o ambiente em que se proclama a crise da justiça".
Mais recentemente, em 2011, numa entrevista à revista da Ordem dos Advogados, dizia que os media "têm contribuído muito para que se crie na opinião uma imagem tão distorcida do sistema de justiça". Lamentava que não se via "um escrito, uma personagem que seja entrevistada, que, mesmo a despropósito, não tenha uma referenciazinha, o mais negativa possível sobre a Justiça. Se lhe perguntarem porquê", sublinhou, "não expressam razões, porque geralmente não sabem do que estão a falar, porque não conhecem". Seu colega de faculdade, o juiz-conselheiro Mário Mendes não ficou supreendido com o consenso que reuniu logo à primeira volta da sua eleição. "Todos lhe reconhecem as suas grandes qualidades intelectuais", afirma o ex-secretário-geral do Sistema de Segurança Interna. Recorda-o na faculdade de Direito de Coimbra- onde Henriques Gaspar teve como colegas de curso personalidades como Maria de Belém Roseira e José Miguel Júdice – como "aluno discreto e brilhante" que na crise académica de 1960 "esteve do lado dos contestatários".
Os elogios completam todo o "retrato" sobre o seu percurso que é descrito pelos seus pares. "Em momentos de crise como o que vivemos é muito importante que o poder judicial tenha a representá-lo ao mais alto nível alguém com a dimensão intelectual, cultural e jurítica acima de qualquer suspeita", declara o presidente da Associação Sindical de Juizes, Mouraz Lopes. Para Laborinho Lúcio, ex-ministro da Justiça e também conselheiro do STJ, Henriques Gaspar "resume um conjunto de características que o recomendam vivamente para este cargo", sendo um "bem imenso para a cidadania e justiça portuguesas". Não ousa dar-lhe "conselhos". Apenas tem a "expectativa de que ele continue a ser como sempre foi". Seu conterrâneo, de Pampilhosa da Serra, e membro com Henriques Gaspar da associação de juristas daquela localidade, o ex-diretor da PJ José Braz caracteriza-o como "um jurista brilhante de uma integridade pessoal e valor científico a toda a prova", destaca. Em segundo lugar, com 15 votos, ficou Orlando Afonso, seguido de Pereira da Silva, com oito, Pires da Rosa, com três e Nuno Carneira, com um voto.
Valentina Marcelino | Diário de Notícias | 05-07-2013
Comentários (3)
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Todos os juízes assim o esperam.
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In Verbis
Henriques Gaspar eleito novo presidente do STJ
POST: 04 JULHO 2013 IN: TRIBUNAIS
Um magistrado do MºPº a mandar nos juízes.
Pires, o sadino , 05 Julho 2013
É evidente!
É evidente que vai encostar discretamente.
Aliás, faz parte do ADN combativo de Henriques Gaspar que sempre se salientou pela assunção de posições frontais e perfil de emérito lutador.
Pelo Ministério Publico ainda hoje se contam os feitos quando da sua passagem.
Acresce a pesada legitimidade que lhe é conferida pelo peso dos sessenta e dois votos dos Senhores Juizes Conselheiros o que, convenhamos, é um denso aval do universo judiciário.
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