Passos perde liderança dos municípios e é ultrapassado pelo PS. Primeiro-ministro responsabiliza as medidas de austeridade mas garante que vai manter o mesmo rumo.
Aquele que era o pior cenário que Passos tinha em cima da mesa para os resultados autárquicos acabou ontem por tornar-se realidade. O PSD perdeu a maioria das câmaras, perdeu a liderança da AssociaçãoNacional de Municípios, perdeu o Porto e dois dos mais populosos concelhos portugueses: Sintra e Gaia.
Na Madeira o rombo foi o pior deste sempre e à hora do fecho desta edição (23h00) o PS superava o PSD em percentagem de votos, com um total de 37,12% contra os 28,21% dos social-democratas (sozinho e coligado com o CDS). A CDU foi uma das coligações que mais cresceu e o BE desapareceu do mapa autárquico. Apesar da derrota do PSD, Seguro não consegue capitalizar e perde câmaras para independentes ou para a CDU.
Ao início da noite, assim que se soube da derrota de Luís Filipe Menezes no Porto contra Rui Moreira (apoiado pelo CDS) e de Fernando Seara em Lisboa, os piores receios dos ministros do PSD e dos históricos do partido começaram a tomar forma. Marcelo Rebelo de Sousa e Paulo Rangel falavam em "pesada derrota" e Marques Mendes disse mesmo que o país estava a assistir "ao que se passou em 2001 mas ao contrário". Neste ano, Guterres demitiu-se da chefia do Governo após um desaire eleitoral.
Embora estes históricos do PSD concordassem que tanto Governo, como Passos saem fragilizados deste resultado, ninguém antecipava cenários. Apenas José Luís Arnaut, próximo de Durão Barroso, veio dizer que, apesar de não estar em causa a liderança do Governo, o PSD devia discutir internamente os resultados e antecipar o congresso. Para já, o PSD está a digerir a derrota que Passos assumiu ontem ser "um dos piores resultados" desde os anos 80. Justificando-a com o facto de o Governo ter tomado medidas de austeridade para tirar o país da crise.
Numa curta declaração, o líder do PSD assumiu "a derrota", felicitou Seguro pela "vitória expressiva e significativa" e fez questão de deixar claro: vai continuar com os dois pés no Executivo, mantendo exactamente o mesmo caminho, sem recuos por causa do resultado autárquico. Isto é, vai manter as reformas do Estado que estão pensadas para que, disse, possa cumprir o ajustamento. "Como presidente do PSD e primeiro-ministro continuo a bater-me pelo caminho que temos vindo a fazer. E isso exigirá decidir matéria com relevo e sacrifícios", avisou Passos, minutos depois de a oposição ter considerado que o país deu um cartão vermelho ao Governo, exigindo uma mudança.
Passos sai fragilizado para impor futuras reformas
É precisamente aqui que os comentadores e históricos do PSD adivinham um caminho mais difícil para Passos após o desaire eleitoral das eleições autárquicas de ontem. Isto porque acreditam que este resultado não deixará de ter leituras nacionais e de fragilizar o primeiro-ministro na hora de avançar com as reformas que a 'Troika'' impõe para o cumprimento do programa de assistência. Um caminho que já não se estava a revelar fácil para o Governo, que tem contado não só com a oposição dos sindicatos da Função Pública, como dos chumbos do Tribunal Constitucional a umas das medidas. Ainda há uma semana, o Governo viu os juízes do Palácio Ratton chumbar normas do Código do Trabalho e a lei das 40 horas, bem como a convergência de pensões arriscam não passar no crivo dos magistrados. Com o PSD a dispersar em termos autárquicos e a registar uma erosão no eleitorado, eram vários ontem os militantes do partido que reconheciam dificuldades do Governo em impor no futuro, nesta segunda etapa da governação, as reformas impostas pela 'Troika'' (que se encontra em Portugal nas 8ª e 9ª avaliações).
A situação de dificuldade atingiu tal limite que nas últimas semanas o primeiro-ministro chegou a ameaçar com o risco de um segundo resgate caso estas reformas não avançassem. Passos tentou sensibilizar o eleitorado para a necessidade de as reformas serem mesmo aprovadas como única forma de o Governo cumprir o ajustamento e conseguir regressar aos mercados em 2014. Mas estas ameaças acabaram por ter pouco eco nos portugueses e ontem o Executivo recebeu um claro cartão vermelho.
No entanto Seguro acabou por não capitalizar deste desgaste. Ganha a ANMP, de facto, mas perde três capitais de distrito, não consegue o Porto, nem Braga, nem Matosinhos (dois bastiões), nem Loures. E perde Évora e Beja para a CDU, que acabou por ser outra força a ganhar terreno nestas eleições. No entanto, o líder do PS cantou vitória e fez questão de dizer que o país confirmou que o PS é a alternativa. Certo é que, tirando Gaia e Lisboa, onde o protagonista é António Costa, o socialista que uma ala do partido gostaria de ver na liderança, Seguro não consegue grandes conquistas.
Economico.pt | 30-09-2013
Comentários (0)
Exibir/Esconder comentários
Escreva o seu comentário
< Anterior | Seguinte > |
---|