À medida que ministro das Finanças ganhava peso, núcleo duro de Passos foi-se distanciando. Ministros revelam cansaço e podem sair na próxima mexida.
A influência que Vítor Gaspar tem junto de Passos não causa apenas tensão entre o CDS e o primeiro-ministro. Também os ministros do PSD que há dois anos eram seus conselheiros têm mostrado algum desagrado e, hoje, o núcleo duro do primeiro-ministro pouco tem a ver com o que existia à data da tomada de posse do Executivo.
Miguel Macedo, Paula Teixeira da Cruz e Miguel Relvas foram apresentados como três dos 'pesos-pesados' em termos políticos do Governo e a face do PSD nesta coligação. Por motivos diferentes, todos estão hoje mais distantes, à medida que Gaspar vai ganhando protagonismo junto de Passos. A própria escolha dé Jorge Moreira da Silva para número dois do PSD ajudou a aumentar as distâncias e Relvas, que era o seu ministro-adjunto e mais próximo conselheiro, saiu mesmo em ruptura com Passos.
Miguel Macedo e Teixeira da Cruz ainda se mantêm ao lado do primeiro-ministro, mas o Diário Económico sabe que já manifestaram várias vezes von-, tade em serem substituídos. Passos, diz fonte próxima do chefe do Executivo, tem desvalorizado estes "estados de alma" e vai adiando a sua substituição nas mini-remodelações que faz. Na mexida que na passada semana fez no Executivo, Passos acabou por não atender aos pedidos de alguns ministros para sair, mas no PSD há quem admita que numa próxima remodelação mais profunda - e ninguém arrisca antecipar datas - o primeiro-ministro possa fazer-lhes a vontade.
Além do desgaste que a crise e as imposições da troika têm provocado nestes governantes (que se vêem sem grande margem de manobra e confrontados com a crescente contestação social), têm sido vários os episódios em que Miguel Macedo e Teixeira da Cruz - a quem se juntam Nuno Crato (Educação) e Paulo Macedo (Saúde) - se manifestaram em Conselho de Ministros contra as políticas apresentadas por Gaspar e Passos (caso da TSU ou das inconstitucionalidades do OE/2013). Gaspar ouve mas não recua. Nem Passos.
Ganha, por isso, força a tese de que "chega da ditadura das Finanças", como dizia ao Diário Económico um dirigente do CDS, lembrando que o sentimento se estende ao PSD. Os núcleos mais políticos de cada um dos partidos da maioria estão a ficar irritados com o poder que Gaspar detém na condução política do país, centrado apenas nos números e com pouca noção do efeito social das medidas que impõe. Nos conselhos de ministros, Portas é outra das vozes críticas e ainda este domingo no Conselho Nacional do CDS insistiu que é urgente impulsionar a economia e não radicalizar a posição em relação ao PS, com quem o líder do CDS diz ser necessários consensos para levar a bom porto a resolução da crise.
Inês David Bastos e Márcia Galrão | Diário Económico | 16-04-2013
Comentários (9)
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José Pedro Faria (Jurista) - Que faz Paulo Macedo neste Governo?
Recordo o seu extraordinário trabalho enquanto diretor-geral dos Impostos, grande responsável pela modernização e informatização da máquina fiscal.
O que é que o Dr. Paulo Macedo, um homem inteligente e de bom senso, faz num Governo irresponsável, vingativo, tecnicamente débil, rastejante com os fortes, implacável com os fracos, liderado por pessoas tão arrogantes quanto inexperientes, e completamente desligadas da realidade do País? Eu não sei.
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Num país a sério isto era uma boa notícia.
Aqui como agora não há rebuçados para dar...o pessoal amua, fica em depressão.
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Confesso que não vejo o Dr. Paulo Macedo como uma personagem negativa deste (des)governo. Porém, há quem tenha opinião contrária e diga mesmo que afinal não está a fazer melhor do que fez enquanto Administrador do Hospital de Santa Maria, onde o desastre foi total, contando-se mesmo a história de um médico que numa cirurgia pediu compressas e alguém teve que ir a correr a uma farmácia comprar as ditas, pois ele tinha cortado os stocks, porque era dinheiro parado.
Depois, nos impostos, deu corpo à tão desejada reforma fiscal, onde a fotografia ficou um pouco desfocada. Consta que a culpa maior não seria dele, mas de Amaral Tomás. Talvez.
O seu valor e a sua grandeza vamos poder ver nos próximos capítulos, se bem que o início não se tenha mostrado bom. A frase "não é nossa intenção aumentar as taxas moderadoras" é normalmente lido como "nós não queríamos aumentar as taxa moderadoras, mas a troika impôs".
Vamos aguardar.
Respeitosamente
José Pedro Faria (Jurista) - Respsta ao Sr. Comentador Orlando Teixeira
Confesso que não me recordo desse "desastre total" que teria sido essa passagem, que refere, de Paulo Macedo pelo Hospital de Santa Maria. Nem do desastre nem da passagem (e, por favor, não reduza tudo a historietas de algibeira). Será que me poderia indicar alguma fonte que permitisse descortinar a que tipo exato de "desastre total" se refere?
Quanto a Paulo Macedo, enquanto diretor-geral dos Impostos, não vejo como pode haver grande discussão, nem percebo que a fotografia fique desfocada como diz. Compare-se a Direção-Geral antes e depois da presença de Paulo Macedo e assinale as diferenças. Aqui não estou mesmo de acordo consigo. O único ponto de discussão aqui terá sido o salário, relativamente elevado, de Paulo Macedo.
Não é por se fazer parte de um péssimo governo que se é "promovido", per se, à condição de estúpido ou de incompetente. Mas Paulo Macedo deve compreender que o seu tempo está a esgotar-se e que não tem condições para desenvolver o seu trabalho e os seus projetos. Para não comprometer irremediavelmente a sua imagem, deve demitir-se. Até porque Paulo Macedo não é um político, não precisa do Governo (e ainda menos deste Governo) para coisa alguma.
...
Dr. José Pedro Faria
Apesar do cuidado e rigor que tento emprestar aos meus comentários, os erros também acontecem, e pelos quais me penitencio.
A personagem em causa era outra e, se me permite, omito o nome.
Não, não vale a pena tentar encontrar a razão para a confusão, pois soaria sempre a desculpa à medida. Apenas lamentar e pedir desculpa.
Quanto à DGCI, talvez exteriormente a imagem tenha sido boa, mas internamente não, até pelo facto como foi requisitado e, sobretudo pago, com o Estado a pagar ao fundo de pensões do BCP uma boa maquia, tal como a ele próprio um diferencial que fez dele o Ministro melhor pago, a ganhar mais de 20 mil Euros por mês, numa relação claramente perigosa num Ministério muito especial.
Internamente o facto de ter colocado a DGITA ao serviço exclusivo da DGCI, retirando-a de onde ela nasceu.
À parte a história do terreno de Benavente que nunca me pareceu cabalmente esclarecido, o que marcou mesmo o seu consulado como DGCI foi o facto que apontou.
De todo o modo, como refiro na abertura do comentário anterior, não censuro especialmente o presente ministério, se bem que lhe falte força para se impor ao todo poderoso MF. E é isso que eu espero ver em breve. Curiosamente temia uma aposta maior nos seguros, oferecendo-lhes de bandeja o SNS. Felizmente isso não está a acontecer, o que não deixa também de ser muito positivo.
Respeitosamente
...
José Pedro Faria (Jurista) - Para o Sr. Comentador Orlando Teixeira
Fica muito bem a V. Ex.ª o reconhecimento do erro cometido. Não há ninguém que não se engane, um erro é desculpável, desde que não ocorra dolosamente, Sem embargo, é bom não esquecer que é desta forma que, muitas vezes, nascem boatos hediondos (aquela coisa do "ouvi dizer que...", que às tantas se transforma numa "verdade" insofismável).
Quanto ao resto, mantenho a minha absoluta discordância relativamente à parte mais relevante da sua posição, poderíamos dialogar um pouco mais acerca desta questão, mas o essencial já ficou dito.
Uma vez mais, obrigado pela sua coragem em assumir o lapso involuntário.
...
Dos meus contributos (e já passaram uns anos desde que iniciei), não creio que tenha dado motivos a que os mesmos sejam ajuizados como historietas ou afins. Erros? Não posso memorizar todos os contributos, mas posso assegurar que os mesmos são raros e, de certeza que não são dolosos, por uma questão de formação, mas também porque não estou em guerra com ninguém, e muito menos tenho inimigos. Não tenho certezas, frequentemente tenho dúvidas e engano-me mais vezes do que eu próprio desejo, mas mesmo esses enganos procuro que sejam raros, esforçando-me para que isso não aconteça.
O facto contado sobre o Hospital de Santa Maria, teve como base uma conversa com um director de serviços daquele hospital, e ocorreu com ele próprio. Não tenho razões para duvidar do que disse.
Já a desfocagem externa encontra fundamento numa entrevista do então presidente do OTOC, a respeito da forma como era processado o direito de reclamação do contribuinte, enquanto a desfocagem interna surge no facto de ter retirado a DGITA de onde nascera, com reflexos negativos na economia lusa, mas também de ter sido o único DG que intentou um processo a um funcionário de outra DG, que envolveu a PJ e a Interpol. Não conheço outro.
Na altura (estamos a falar de 2007) a DGAIEC estava a proceder a importantes alterações e melhores práticas para facilitar a circulação de bens e mercadorias, com a informatização dos seus serviços, iniciada por Sanches Branco, Penha Coutinho e Costa Martins. Ao retirar a DGITA para si, todo esse trabalho ficou atrasado, como atrasado ficou o processo de agilização na importação e exportação.
A informatização da DGCI idealizada pela equipa de Amaral Tomaz foi consumada por Macedo (que teve o mérito de premir o botão, e apenas isso). Mas com que custos para a economia?
Já a queixa contra Vitor Sancho, o autor do blog "O Jumento", surgiu como resposta a uma hipotética violação de sigilo, por ter publicado uma falta de pagamento de IMI de um terreno em Benavente. Se bem que como DGCI o exemplo não era o melhor, a verdade é que é um erro que acontece a qualquer um. Mas envolver a PJ e a Interpol no caso, soa a exagero e a uma atitude vingativa.
Positiva foi a informatização da DGCI, com a possibilidade de todos nós cumprirmos as obrigações fiscais, e a possibilidade de recurso das imposições da DGCI, se bem que à mesma não correspondesse a agilização da análise dos recursos. Mas mesmo nestes casos, todo o trabalho já estava feito, aguardando apenas luz verde para avançar. Ele deu essa luz verde, e a isso se reduziu o seu mérito. Para alguns teve também o mérito de ter aberto a porta a muitos licenciados em Direito e Economia, que se encontravam parados à espera de um porto de abrigo.
Posso até não ter razão (o que não é drama), podem ter outra opinião, o que é salutar e conduz decerto a uma verdade mais cristalina, mas de certeza que não são historietas ou bocas atiradas irresponsavelmente para este espaço, que pelo respeito que me merece o digníssimo Administrador, mas também todos os que nele participam, nunca faria.
Respeitosamente
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