Na semana em que o Orçamento do Estado começa a ser discutido, fomos ver como os ministros de Passos Coelho governam as suas próprias carteiras. Há quem aposte na banca nacional, na europeia ou na americana, há quem tenha no imobiliário o seu porto de abrigo. E há quem não tenha nada...
O investidor-tipo, entre 45 e 64 anos e educação superior Entre 45 e 64 anos de idade, um nivel de educação superior, empresário, quadro superior ou profissional liberal e com um rendimento mensal entre três e quatro mil euros. Segundo o estudo mais recente da CMVM (2009) é este o perfil do investidor tipo português - não muito distante do perfil dos ministros. ão tenho poupanças neste momento." A frase de Maria Luís Albuquerque, em entrevista à SIC, causou burburinho. Seria possível que a ministra das Finanças não tivesse um pé de meia? Com passados profissionais e, já agora, políticos bem diferentes, entre os 15 ministros do Governo liderado por Pedro Passos Coelho há carteiras para todos os gostos. Das mais compostas, como as de Pires de Lima e Paulo Macedo, às mais modestas, caso de Passos Coelho ou Pedro Mota Soares, e uma certeza - Maria Luís Albuquerque não tem de facto qualquer poupança em seu nome. Em São Pedro do Estoril, a responsável pela saúde das finanças nacionais tem uma moradia em construção e no banco, a Caixa Geral de Depósitos, o respectivo empréstimo no valor de 440 mil euros a pagar até 2047. "Tenho uma casa, que estou a pagar. Tenho despesas, e menos receita, porque somos afectados como todos. Além do mais sou funcionária pública", confessou Maria Luís Albuquerque que, com "três filhos pequenos" e "pouca margem para poupar" apenas regista um Seat Alhandra na declaração entregue ao Tribunal Constitucional.
Investidores típicos
Uma galáxia diferente daquela de onde chega António Pires de Lima, o último reforço de Governo que aceitou o desafio de trocar a Unicer pela pasta da Economia Nessa altura, o gestor desfez-se de todas as acções de empresas nacionais. Mas amealhou mais de 1,6 milhões de euros. Afinal, o que fazem ao dinheiro os governantes do país? O investidor-tipo português tem entre os 45 e os 64 anos, grau de educação superior e um ordenado mensal entre três e quatro mil euros, retrata o estudo mais recente da CMVM, que já data de 2009. Um perfil em que encaixa grande parte dos membros do executivo. No entanto, não faltam opções originais de investimento, alguns mesmo só justificáveis pelos requisitos éticos das novas funções. "Foi correcto face à posição que agora ocupa. Em prejuízo da rentabilidade, preferiu evitar conflitos de interesses", comenta José Santos Teixeira, presidente da Optimize, sobre a alienação dos títulos nacionais levada a cabo por Pires de Lima quando chegou ao Governo.
Dos fundos a acções da Hugo Boss
Mas há posturas no mercado bem menos consensuais. Se há quem nem tenha poupanças - casos de Maria Luís Albuquerque e Passos Coelho ouquem limite o seu aforro a depósitos a prazo (Assunção Cristas, por exemplo, mantém uma conta poupança no BPI com 35 mil euros) também há quem ainda tenha certificados de aforro, como Paulo Macedo, ministro da Saúde e antigo administrador do BCP. "Nada contra os certificados de aforro, mas aconselhamos os nossos clientes a investir nas Obrigações do Tesouro que estão com rendibilidades à volta dos 6%", diz Santos Teixeira.
Também há quem mantenha o grosso das suas poupanças em instjtuições estrangeiras - Poíares Maduro tinha, à entrada no Governo, mais de 260 mil euros num banco italiano e Nuno Crato em financeiras norte-americanas. "Revela algum pessimismo quanto à solvabilidade da banca portuguesa, o que até pode ser justificado, mas nesta altura recomendaria a passagem para uma gestora de activos independente", defende o responsável da Optimize. E afinal, entre o 'americano' Crato e o 'italiano' Maduro, quem está mais seguro? "Prefiro apostar em euros. É verdade que os EUA nunca vão falir, mas o risco de inflação é maior que na Europa", explica, lembrando que desde o início do ano o dólar já perdeu 8% face ao euro.
Paula Teixeira da Cruz, Paulo Macedo e Rui Machete são, entre os ministros, os que mais têm apostado em fundos de investimento. A carteira de investimentos do homem da Saúde, não faltam fundos americanos, asiáticos e europeus, enquanto Teixeira da Cruz aposta sobretudo através da banca nacional - mesmo que mantenha perto de 300 mil euros no Deutsche Bank - enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros apresenta a carteira mais diversificada: tanto tem acções da Hugo Boss, como da Sonae e da PT.
Certo é que o imobiliário, em que José Pedro Aguiar-Branco se destaca dos colegas de Governo, já foi um negócio mais seguro. "A população portuguesa está a diminuir e a envelhecer e a oferta que existe já é suficiente. Globalmente não pode ser considerado um bom negócio", explica José Santos Teixeira. Mas Aguiar-Branco está pronto para as oscilações do mercado imobiliário: só no BES tem mais de 370 mil euros.
ONDE OS NOSSOS MINISTROS GUARDAM! E INVESTEM O DINHEIRO
Pedro Passos Coelho, Primeiro-ministro
Dois apartamentos em Massamá - um T4 e um mais modesto T2 - e um Opel Corsa aparecem como os únicos bens registados em nome do primeiro-ministro naquela que é a mais modesta das declarações dos membros do Governo que lidera. Mais dois empréstimos: um para habitação, de 225 mil euros no BCP.e outro de 42 mil euros na CGD.
Paulo Portas Vice-primeiro-ministro
Em 2010 recebeu 71 mil euros e já este ano foi noticia a transferência que fez para o Deutsche Bank no valor de 80 mil euros. Ainda assim, Paulo Portas não pode ser criticado por ter colocado todo o dinheiro no estrangeiro: no Santander tem 100 mil euros e ainda contas no Millennium, CGD e Banco Popular.
Maria Luís Albuquerque
Não mentiu quando disse que não tinha poupanças. Na declaração ao Constitucional há apenas registo de uma moradia em São Pedro do Estoril e um empréstimo para construção, contraído na CGD, no valor de 440 mil euros a abater até 2047. Em 2012, o último ano fora do Executivo, ganhou 64 mil euros.
Rui Machete
A sua declaração de rendimentos tem um anexo: "Considerando a extensão da informação a prestar". E percebe-se porquê. Não por ter recebido. em 2012 mais de 300 mil euros, mas pela quantidade de aplicações financeiras. Há acções no Millennium, Santander e BPI. Entre elas, mais de dez mil euros na PT, REN e EDP.
José Pedro Aguiar-Branco
Entre os depósitos à ordem, os cem mil euros em aplicações financeiras e a carteira de títulos num valor superior a 200 mil euros, é um dos ministros com melhor pé-de-meia. Além das contas espalhadas por BES, Barclays e BBVA, o responsável pela Defesa ainda tem imóveis em Guimarães, Porto e Braga.
Miguel Macedo
Com metade da sociedade de advogados a que dá o nome, Macedo tem a carteira de títulos limitada a 8.000 do Millennium bcp. O titular da pasta da Administração Interna apenas tem dois BMW - série 3 e serie 1 - e um Jaguar XF e os números, comparados com outros ministros, são modestos. Em 2010 ganhou 58 mil euros.
Paula Teixeira da Cruz
Tem mais de 419 mil euros investidos em títulos e 129 mil em fundos de investimento tanto através do Millennium.de que detém algumas acções, como do Deutsche Bank onde tem activos num valor superior a 286 mil euros. No último ano antes de chegar ao governo, declarou rendimentos na ordem de 160 mil euros.
Luis Marques Guedes, Presidência
O homem da presidência do Conselho de Ministros concentra na CGD a vida financeira. É no maior banco nacional que mantinha a conta com 83 mil euros a prazo e uma carteira de activos financeiros no valor de 33 mil euros. Além da moradia em Alcabideche, Marques Guedes tem quatro carros. Sem luxos: dois Peugeot, um Kia e um Fiat.
Miguel Polares Maduro
Chegou para o lugar de Miguel Relvas e trouxe novas ideias ao Executivo. Também na hora de declarar os bens se notam diferenças: é o único com acções de um clube de futebol, neste caso 21 euros em títulos do Sporting. De resto, destaca-se a conta na Cassa Pisparmio Firenze no valor de 267 mil euros.
António Pires de Lima
O estatuto de um dos gestores mais reputados do pais não traz .só fama. Em 2012, Pires de Lima, o homem que o CDS quis a definir a política económica, recebeu mais de 823 mil euros. Também de respeito o proveito com a "alienação de todos os títulos de acções portuguesas", como se lê na declaração, que rendeu mais de 1,6 milhões de euros.
Jorge Moreira da Silva
Saltou da vice-presidência do PSD para o Ambiente. Na declaração ao TC,- a maior fonte de rendimento são as Nações Unidas: como director do pelouro da economia e alterações climáticas do programa para o desenvolvimento recebeu cerca de 32 mil euros, verba superior às de trabalhador dependente e independente respectivamente. 27 mil e 25 mil euros.
Assunção Cristas
Uma conta-poupança no BPI no valor de 35 mil euros e PPR no valor de 4.010 euros, são os bens registados por Assunção Cristas.
Também no BPI estava o crédito à habitação no valor de 80 mil euros para pagar até 2039 assim como outro no valor de 51 mil euros a vencer um ano antes. No ano antes da entrada no Governo tinha ganho 73 mil euros.
Paulo Macedo
A entrada de Paulo Macedo no Governo em 2011 seguramente que deixou marcas no saldo bancário. Como gestor - entre outros cargos, como vice-presidente do conselho de administração executivo do BCP - ganhou mais de 816 mil euros no ano em que abandonou o sector privado. Uma curiosidade: é o único membro do Governo que ainda mantém certificados de aforro.
Nuno Crato
Os 150 mil dólares entregues à Park Avenue Securities mostram a confiança de Nuno Crato pa banca norte-americana. Porque depois há mais de 44 mil dólares entregues à Life Insurances Guardian USA e mais de seis mil no Bank of America. A revelar a aposta internacional do responsável pela Educação, os 41 mil euros guardados no italiano BNL.
Pedro Mota Soares
Podia não ter mais nada registado, mas está lá a famosa Vespa de 125 cc. que celebrizou por utilizar quando não tutelava o ministério da Solidariedade e Segurança Social. Mota Soares é comedido: 610 acções do Santander, um empréstimo imobiliário de 64 mil euros no Tottae PPR à volta de dez mil euros.
Por Filipe Garcia | Diário Económico | 01-11-2013
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