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REVISTA DE 2013

Depósitos acima de 100 mil euros com corte de 30%

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O acordo fechado na madrugada desta segunda-feira entre Chipre, a Comissão Europeia e o FMI pressupõe um corte de 30% a aplicar sobre os depósitos acima de 100 mil euros, noticiou a AFP, citando um porta-voz do Governo cipriota.

"O corte será de cerca de 30% sobre os depósitos do Banco de Chipre superiores a 100 mil euros", referiu à rádio estatal do país. Também os depositantes do banco Laiki serão afectados pela medida, já que o plano prevê a reestruturação destas duas instituições financeiras.

Este corte é muito superior à taxa de 9,9% prevista na versão inicial do plano, que foi depois chumbada pelo Parlamento cipriota. No entanto, essa versão alargava a medida a todos os depositantes, prevendo uma taxa de 6,7% para os depósitos inferiores a 100 mil euros.

Na madrugada desta segunda-feira, o país fechou as negociações com o Eurogrupo para avançar com um plano de resgate que afectará apenas os depositantes acima de 100 mil euros, os accionistas e os detentores de títulos do Laiki, o segundo maior banco do país. Esta instituição será desmantelada, estimando-se que a medida represente 4200 dos 7000 milhões que os bancos vão ter de gerar para escapar à falência. Os depósitos inferiores a 100 mil euros vão ser transferidos, a par dos activos "sãos" do Laiki, para o Banco de Chipre, que será reestruturado com o objectivo de construir um núcleo duro de capitais próprios de 9% dos activos totais.

Dez dias depois do encerramento forçado dos bancos em Chipre, ainda não há uma data calendarizada para que reabram as portas. Existia a expectativa de que esse passo fosse dado já esta terça-feira, mas, com a aprovação do plano de resgate ao país, o ministro das Finanças não quis comprometer-se com um calendário.

Michalis Sarris recusou-se a avançar com uma data concreta para a reabertura dos bancos, afirmando que tal acontecerá "assim que possível", noticiou a AFP. "Será necessário encontrar um equilíbrio entre a prudência e a estabilidade", acrescentou o ministro das Finanças de Chipre, durante a conferência de imprensa em que foi anunciado o resultado das negociações com o Eurogrupo, a partir de Bruxelas.

Num comunicado publicado nesta segunda-feira no site do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde defendeu o plano de resgate acordado durante a madrugada com Chipre, afirmando que é "completo e credível para lidar com os actuais desafios económicos do país".

Por seu lado, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, disse nesta segunda-feira de manhã, enquanto apresentava em Berlim o acordo fechado durante a madrugada, que o plano de resgate é "equitativo" e "é capaz de estabilizar a situação em Chipre".

Também em conferência de imprensa, o presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças de Holanda tinha defendido o plano como uma "melhor solução do que na semana passada", referindo-se à intenção inicial de taxar os depósitos, que considerou "infeliz". Já o Presidente cipriota, Nicos Anastasiades, afirmou estar "satisfeito" com o resultado das negociações, no final das quase 12 horas de negociação em Bruxelas.

O plano selado na madrugada desta segunda-feira dispensa um novo voto do Parlamento cipriota, já que o impacto das medidas será sentido pelos depositantes e accionistas, no quadro da legislação aprovada na quinta-feira passada pelo Parlamento cipriota.

Rússia reage: Medvedev fala do "roubo do roubado"

Na sequência da aprovação do plano de resgate a Chipre, a Rússia já reagiu. O primeiro-ministro do país de onde provém uma parte substancial dos depósitos que hoje existem nos bancos cipriotas afirmou que "está em curso o roubo do roubado", numa referência à expressão que surgiu depois da revolução comunista de 1917, como a tradução do princípio marxista "expropriar os expropriadores".

Dmitri Medvedev afirmou, na primeira reacção da Rússia ao plano de resgate de Chipre, que "é preciso compreender como vai acabar esta história e quais serão as consequências para o sistema financeiro e monetário internacional, bem como para os nossos interesses", noticiou a AFP.

Já na semana passada as autoridades russas tinham expressado o seu desagrado com a versão inicial do plano, chumbado na quinta-feira pelo Governo cipriota e que implicava uma taxa sobre todos os depósitos.

Raquel Almeida Correia, com Lusa | Público | 25-03-2013

Comentários (6)


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"Chiprado": adjectivo. - Significado: que foi objecto de roubo, furtado, afanado, subtraído sem consentimento. - Sinónimos: roubado, gamado, entroikado, depenado - Utilizações célebres: sherife de Notingham, FMI, Goldman Sachs - Conjugações como verbo: eu chipro, tu chipras, o Gaspar chipra, nós no governo chipramos, vós na troika chiprais, eles na Alemanha chipram - Conjugações comuns no Sul da Europa: eu sou chiprado, tu és chiprado, ele é chiprado,...
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Anónimo , 25 Março 2013
Corja de ladrões
O presidente do Eurogrupo afirmou hoje que esta resposta dada à crise de Chipre deve ser estendida a outros países com problemas no sector financeiro. Para anotar.
Confiscado , 25 Março 2013
José Pedro Faria (Jurista) - Acontecimento de extraordinária gravidade (parte 2)
Já num outro comentário me debrucei sobre este tema, não há muito mais a acrescentar.

Talvez apenas dizer que Chipre vai ingressar numa Era das Trevas. Muitas empresas serão destruídas e o desemprego crescerá de forma alucinante, avizinhando-se o completo colapso social, com consequências imprevisíveis.

Vai registar-se uma fuga em massa de capitais russos (só estes vão perder algo como 40 mil milhões de euros em depósitos), mas não só. Haverá algum estrangeiro interessado em investir num país onde, de forma repugnante, se subtrai das contas dos depositantes 30% do seu valor? Nem na pior das ditaduras uma coisa destas acontece.

A Europa navega à vista sem rumo nem norte, e, infelizmente, o futuro apresenta-se muito negro. Talvez a Alemanha pense que está longe do desastre, mas se os países do sul se afundarem, toda a Europa tombará.

Apenas o surgimento de um ou mais verdadeiros estadistas (e não políticos de refugo como aqueles que temos por toda o continente, mormente em Portugal) poderá ainda salvar-nos do derrocada económica, financeira e social.
José Pedro Faria (Jurista) , 25 Março 2013
...
A Europa e o mundo têm demasiados paraisos fiscais onde o dinheiro sujo se esconde. O sobressalto causado por esta medida deveria provocar alguma iniciativa séria que definitivamente se orientasse para o fim destes off shores criminosos que toda a gente sabe que existem e para o que servem. A Suiça lavava mais branco, ou ainda lava.
Valmoster , 26 Março 2013
Estranho
é que só agora no caso de Chipre é que o modelo foi adoptado. Quando se tratou de bancos falidos de outros países europeus, com grossos depósitos de bancos e fundos alemães e de outros países, este modelo de recuperação da banca não foi sequer pensado.
É a guerra moderna, tão estúpida como a antiga, e como sempre, de consequências imprevisíveis.

A dupla Putin/Medvedev devem andar a ruminar uma resposta para breve.
Pois, pois! , 26 Março 2013
...
Daqui a pouco gamam tudo aos russos e aos chineses! Cuidado, a Europa começa a exagerar nas coisas...
Sun Tzu , 26 Março 2013

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