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REVISTA DE 2013

Imposição de metas estatísticas é "ilegal"

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A imposição de objectivos estatísticos aos procuradores do Ministério Público (MP) referentes à tramitação de processos está a provocar um mal-estar dentro da magistratura. Os procuradores consideram que, face a esta imposição em forma de metas percentuais, está em causa a autonomia de cada magistrado que é assegurada pela lei. O Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) já fez aprovar uma moção em que contesta severamente a situação, considerando-a ilegal.

Em causa está a fixação de metas a cumprir para diferentes formas de processo a tramitar, nomeadamente formas de processo especiais como o processo abreviado, o processo sumaríssimo e a suspensão provisória de processo, muito usada em casos de condutores sob efeito de álcool apanhados pela polícia.

Fonte do MP disse ao PÚBLICO que existem procuradorias distritais com orientações aos procuradores para que apliquem formas de processo especiais a 60 por cento dos casos com acusação pública deduzida e cujas molduras penais não possam vir a superar os cincos anos de prisão. Processos homologados por um juiz, mas que não vão a julgamento e, por isso, libertam os tribunais.

Metas subvertem princípios

"Gerou-se uma competição entre círculos judiciais. Periodicamente são emitidas divulgações internas com um ranking e isso provoca concorrência. Diz-se mesmo quem é a procuradoria distrital que vai à frente. Quem é o campeão. Isto subverte os princípios de actuação. Muitos procuradores sentem-se levados a tomar certas decisões pressionados por objectivos a cumprir, quando deviam era decidir face ao caso e a princípios de legalidade", disse ao PÚBLICO uma chefia do MP.

"É inadmissível exigir dos magistrados do MP que pensem em estatísticas quando decidem qualquer caso. A fixação de metas para a aplicação dos institutos processuais penais não respeita a autonomia do MP", refere a recente moção da assembleia de delegados do SMMP. Esta pressão é provocada, amiúde, por uma "questão de estilo" de algumas chefias que "querem mostrar resultados", disse o presidente do SMMP, Rui Cardoso, que exige que a procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, tome posição. A procuradora-geral confirmou que irá receber o SMMP em audiência esta quarta-feira.

O SMMP diz ainda que a imposição é ilegal. "Faz tanto sentido exigir aos magistrados do MP quotas mínimas de uso de qualquer instituto processual como faria exigir aos juízes quotas para qualquer tipo de pena. Numa e noutra situação, essa exigência é não só ilegal como inconstitucional", lê-se na moção. O documento admite que os mapas estatísticos já existem há vários anos, mas sublinha que são cada vez mais complexos. "Só há cerca de dois anos é que esses mapas traçam objectivos percentuais", explica um magistrado. Por outro lado, a moção destaca que se "alguns superiores usam as metas como "meros incentivos", outros "elevam-nas à obsessão e querem atingi-los a todo o custo, indiferentes à solução exigida pelo caso".

Pedro Sales Dias | Público | 01-07-2013

Comentários (6)


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Se se tratar de mero indicador de «normalidade» não há mal nenhum. O pior é se se tratar de um verdadeiro «contador», pois que isso passa a condicionar os MP´s a propor mais ou menos sumaríssimos, sumários, suspensões de inquérito, etc. e isso só deverá ser feito em função do caso concreto.
Sun Tzu , 01 Julho 2013
É necessário manter a espinha direita.
Onde está escrito que um orgão de soberania (o governo) pode impor objectivos/metas ou outras formas de tentar condicionar a acção de outro órgão de soberania?
Porque é isso mesmo que o governo quer, na linha do que um tral pinoóquio em tempo queria ao dizer que iria partir a espinha aos juizes. Pois espinha é mesmo aquilo que é dificil encontrar nos empregados da politica e dos partidos.
Luis , 01 Julho 2013 | url
Mal habituados.
Que me desculpem mas eu estou de acordo com os Objectivos instaurados. É evidente que, tal como menciona o comentador Sun Tzu, são meramente indicativos mas também é verdade que há anos e anos que os magistrados dos Ministério Público "cismam" em acusar sem se preocupar com outras formas alternativas de fazer justiça. Não vislumbro minimamente que os Objectivos que foram implementados possam ferir a sensibilidade e a autonomia de qualquer magistrado. A mim não me ferem nada, mesmo que a eles estivesse obrigado.
José Augusto Rodrigues de Sá , 01 Julho 2013 | url
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Peço desculpa se o que digo ofendo alguém, mas, como pode um MP ser competente neste país se vive no "terror" de não subir a pendência... chega a um ponto que não quer saber se a prova foi bem ou mal feita, se poderia fazer mais, se deve interpor recursos, etc. É claro que não pode.
O que verdadeiramente quer é tirar os processos das suas mãos e mais nada.
Tudo devido às "pressões" constantes (internas e externas) de baixar pendencias. E depois a culpa é da Lei do tempo da D. Maria!? Pode haver por aí muita gente que cai neste discurso, mas se soubesse o que se passa verdadeiramente dentro de um tribunal e as condições de trabalho que aí existem, corriam estes "salvadores da justiça" á pedrada.
Este é o misero país que temos....
Cautela , 02 Julho 2013
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o luis ainda não leu o nº 1 do art. 219 da crp.

o m.p. fora da j. criminal e da j. de menores é claramente inútil e ineficiente.
lys , 02 Julho 2013
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E o pior é que não são apenas metas estatísticas a cumprir para as diferentes formas de processo especial, como o processo abreviado e o processo sumaríssimo ou para a suspensão provisória de processo. Já me chegou aos ouvidos que há procuradores coordenadores que chegaram à conclusão de que os seus adjuntos recorrem pouco e que já reuniu com eles para os informar que quem não recorre com regularidade é porque "anda a dormir e vai ter problemas". Sei eu de fonte segura que já há MPs adjuntos a escolherem avulso três ou quatro decisões "mais recorríveis" todos os meses só para não terem chatices com a hierarquia. Assim vai a Justiça em Portugal!
Juiz de Direito , 02 Julho 2013

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