A degradação do estatuto remuneratório dos candidatos à magistratura é uma das principais críticas que a Associação Sindical dos Juízes faz ao diploma do Governo sobre o modelo de ingresso nas magistraturas quarta-feira em discussão no parlamento.
Com a presença da ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, a Assembleia da República discute quarta-feira, em plenário, a proposta de lei que reformula o regime de funcionamento do Centro de Estudos Judiciários (CEJ) e o modelo de ingresso nas magistraturas.
O governo refere que o diploma aprova um conjunto de alterações que procuram melhorar o sistema de recrutamento e formação dos magistrados, revitalizando o CEJ como entidade vocacionada para a formação dos diferentes operadores de justiça, tendo a proposta sido globalmente bem acolhida pelo Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) e pelo Conselho Superior da Magistratura.
A Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) critica a alteração que reduz de 14 para 12 mensalidades o sistema remuneratório dos auditores de justiça, considerando que esta redução "não se encontra devidamente justificada" e que coloca "a dúvida sobre as reais dimensões desta alteração e também dos seus objetivos".
"Trata-se de uma óbvia degradação do estatuto remuneratório dos candidatos à magistratura e, a ser aprovada, produzirá inequívocas consequências naquele que se pode considerar como o perfil profissional do juiz, onde o factor remuneração se inclui inevitavelmente", diz um parecer da ASJP.
Embora sem fazer uma apreciação globalmente negativa e manifestando concordância quanto a outras alterações, a ASJP, presidida por Mouraz Lopes, não deixa contudo de manifestar preocupação pelo facto de esta alteração legislativa aparecer "sob o signo da urgência e da contenção de custos", o que "não faz adivinhar um bom futuro para esta reforma".
A proposta mereceu a "concordância geral" do o SMPP quanto à unificação dos tempos formativos entre as duas vias de ingresso (académica e profissional), embora se adiantem "reservas" quanto ao âmbito subjetivo dos estágios de curta duração e quanto à simplificação dos parâmetros avaliativos e ao ajustamento dos respetivos procedimentos.
A Ordem dos Advogados (OA) criticou, sobretudo, a utilização no diploma de certas expressões como "honestidade intelectual", realçando que a "honestidade deve estar presente em toda a atuação do magistrado, quer se trate de operações ou de atividade intelelectual, quer se trate de actos de convivência, seja nos assuntos específicos do foro, seja ainda nos demais atos da vida de um qualquer cidadão ou magistrado".
"Ser-se honesto implica toda a atuação da pessoa e não apenas a sua atividade inteletual", diz o parecer da OA, assinado pelo bastonário, Marinho Pinto.
Segundo o Governo, a proposta uniformizam os tempos formativos das vias académica e profissional, evitando, assim, a disparidade nos momentos de ingresso como magistrados nas respetivas carreiras entre auditores dos mesmos cursos de formação, que tem reflexos na antiguidade e é geradora de sentimentos de injustiça.
O diploma aprova, ainda, alterações que visam estabelecer um modelo de avaliação global, que não se limita à avaliação contínua e que implica uma responsabilização coletiva pela atribuição das classificações, o qual se projeta tanto no 1º como no 2º ciclos.
O novo modelo de avaliação introduz a menção a aspetos essenciais para aferir da aptidão para o exercício das funções de magistrado como a honestidade intelectual, a urbanidade, a atuação conforme à ética e deontologia profissional.
Na proposta elimina-se a possibilidade da realização de estágios de curta duração, por se revelar desaconselhável a inserção de estágios numa fase em que já há exercício efetivo de funções, com responsabilidades próprias no cumprimento do agendamento de diligências.
Notícias ao Minuto | 22-05-2013
Comentários (25)
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eeee
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Sobre corrupção: não tenho conhecimento que esta classe sofra desse mal mas há tentações e a ganhar pouco ... nunca se sabe.
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José Pedro Faria (Jurista) - Quando a razão soçobra...
Alguns comentadores estão a confundir atividades profissionais com características e condutas dos titulares das mesmas. Isto leva-nos a generalizações precipitadas, abusivas e indesejáveis, enquadráveis nas chamadas falácias indutivas.
Tem tanto sentido dizermos que "os advogados são vigaristas" ou que "os juízes são corruptos" como afirmar, por exemplo, que "as mães brasileiras são más mães" porque são conhecidos alguns casos de mães brasileiras que abandonaram os seus filhos.
Isto que escrevi parece óbvio. Mas, quando a razão cede à emoção, faz falta às vezes dizer-se coisas simples e evidentes.
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Se há corrupção:
- alguém deveria dizer bem dos juízes (os beneficiados);
- com tantos inimigos, as denúncias concretas deveriam chegar Às paletes.
A "atoarda bojardenta"...
Muito gostam alguns de denegrir o vizinho, quando é sabido que, quanto pior ele estiver, pior estarão os demais (e vice-versa). Metam isso na cabeça, por favor!...
Certo é que as "atoardas bojardentas" lançadas sobre determinadas classes profissionais, por pessoas - aparentemente - escolarizadas, experientes e com responsabilidades na sociedade, se situam ao nível da conversa de taberna ou de rua, bem satirizada pelos Gato Fedorento no sketch "Isto aqui é tudo uma data de ladrões, uma data de gatunos e uma data de chupistas"...
O pior de tudo é que se ali era uma sátira, na realidade, tais comportamentos parecem fazer escola!...
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Apesar de não sentir intimamente o teor da bujarda que atirei (não conheço pessoalmente advogados corruptos e até conheço bastantes que parecem boas pessoas) não me arrependo nada de atirar uma bujarda em resposta a um "ingénuo" engraçadinho que, vejam lá, está "tão preocupado" com a corrupção no seio da magistratura portuguesa, que até quer debater o assunto. Quis só experimentar se os advogados também gostam de ouvir bujardas quando eles são o alvo e ... olha que interessante ... não gostam!
Vão trabalhar
«escol»
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Reduzamos a produtividade, marquemos menos julgamentos(só 3 dias por semana e só de manhã), saiamos às 17 horas RELIGIOSAMENTE e façamos saber que o fazemos e porque o fazemos! Se o fizermos TODOS não há CSM nem inspetores que nos toquem!
O colega de Alenquer teve a coragem de o fazer e o CSM logo se preocupou e muito...embora nada se preocupe com os ataques vis de que os juizes são alvo nem com os roubos que nos vêm fazendo nos nossos salários
Vídeo - Marinho Pinto
http://www.tvi24.iol.pt/503/in...-4073.html
Deus Meu!
Não injuriem este homem. Ele chega e sobra para auto-injuriar-se.
Reparem que ele refere escpressamente este site / Revista Digital. Não o injuriem. A sério. Ele sai a ganhar com isso! Srs. Magistrados, não desçam ao nível deste homem.
Quem apresentou queixa contra incertos fez mal. Deveria ter apresentado queixa contra Marinho Pinto.
Ele está a ganhar terreno! E V. Exas. estão a deixar. De que têm medo????????????
Isto assim vai acabar mal.
Respondendo a Juiz de Direito. E esclarecendo a preocupação.
Não estou preocupado (minimamente) com a dita "corrupção na magistratura", por não crer haver razões para tal.
Deposito inteira confiança no Poder Judicial, o qual se me afigura ser, actualmente, o último reduto da Democracia, merecendo bem mais do que as usuais críticas gratuitas e soezes, provenientes, lá está, dos tais infelizes concidadãos que gostam de ver os telhados dos vizinhos a arder, esquecendo que as consequências do fogo também chegam, necessariamente, às suas casas...
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A "escola marinhopintista"
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Parece que não conhece as máximas do seu mentor chinês de quem usa o nome...
Já mencionei aqui casos concretos.
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O custo de viver e estudar para ser Magistrado
Muito bem!
No meu secundário, nos idos de 92-95, conheci uma miúda inteligente, trabalhadora e boa aluna que só não foi para a Universidade porque os pais não tinham dinheiro para o alojamento. Até tinham dinheiro para as propinas, como ela me disse, mas para alojamento (ou melhor, para a soma das duas coisas) não. Foi trabalhar. Perdeu-se uma aluna universitária que, tenho a certeza, teria estado muito melhor no lugar de alguns colegas que tive. Por essa altura estava construído em Lisboa o CCB - obra que derrapou, se a memória não me atraiçoa, de 8 milhões de contos orçamentados, para 40! Essa eram as prioridades da Nação! Ah, grandessíssimo Cavaco! Deste cabo de não pouca coisa! Nisto não foste nada mau.
Aqui, na última página (não econtrei mais referência sobre a derrapagem do CCB na net para além desta):
http://www.sindefer.pt/caminhoferro.pdf
Quando vim para Lx, vi a enorme diferença entre aqueles que, como eu, vinham de fora e tinham de procurar alojamento (e durante o curso mudei 3 vezes de residência, ou seja, vivi em 4 sítios diferentes, sempre à procura de "um sítio melhor para poder estudar em condições", e às vezes o novo sítio não era assim tão melhor como o anterior e eu ficava a pensar se tinha valido a pena mais uma mudança; isto desanima uma pessoa e não é pouco), e aqueles que viviam cá ou por aqui perto, a quem estes problemas passavam ao lado.
Lisboa e a sua classe dirigente, em sentido muito lato, é um cancro, tal como os estado-unidenses dizem que Washington (D.C.) é um cancro, tal como os brasileiros dizem que Brasília é um cancro, e tal como Bruxelas é um cancro. Quem lá vive e manda, manda como se o resto do País ou da Federação não existisse. O resto do País é a Tugulândia, onde algures eles têm uma casa de férias, ou onde vão dar uns passeios aos fins-de-semana para "descomprimir" (sabemos que não é para relaxar porque "relaxados" na quinta casa já eles são.)
Há alguma dúvida de que os Governos têm tentado, ao máximo, dificultar a vida a Juízes (sobretudo aos que entram, porque é aí que se faz a primeira "selecção"; e mais não digo; quem quiser saber mais, que leia as reclamações (creio que é o termo técnico correcto) aquando do movimento anual de juízes), às autoridades policiais e de polícia criminal, aos professores do ensino público, etc? Para eles a Justiça é uma inimiga, a polícia um obstáculo, e os professores do ensino público, sobretudo os melhores, um concorrente inadmissível dos professsores dos seus filhos. (Nada tento contra colégios privados - presto serviços num! O que me dá pena é a miséria a que a escola dos pobres chegou, só isso.) Agora a miséria também vai chegar ao CEJ... Mas as PPPs e as pensões milionárias dos ex-administradores da coisa pública continuam. O dinheiro não chega para todos e alguns têm de passar a receber menos, porque estamos em recessão. Mas só para alguns...
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Em primeiro lugar não parece haver grande justificação no lançamento de uma suspeita sobre a existência de corrupção na magistratura que acabou por se transformar no cerne desta discussão.
Não conheço nem conheci nenhum Juiz corrupto - ou com vaga fama disso - pelo que presumo que não existam. Mas por presumir isso não vou ao ponto de afirmar que não existam e parece-me tão leviano afirmar que não há como dizer que há. Tudo indica que não haja... até que apareça um caso.
Preocupante é saber que há Juízes que admitem que possa surgir corrupção na classe se virem a sua situação remuneratória degradar-se. É que, inegavelmente, a grande maioria dos portugueses ganha muito menos do que um Juiz em princípio de carreira (não se trata de comparar funções ou responsabilidades mas rendimentos) e nem por isso são desonestos. Aliás, os desonestos ganham, provavelmente, mais do que um Juiz em topo de carreira.
Por isso, quem pensa que não pode continuar a desempenhar funções honestamente só pelo facto de ficar, por exemplo, a ganhar metade do que ganha, faça um favor a si próprio e a todos nós e saia da magistratura. Se só é honesto pelo que lhe pagam...
Outra confusão é o quase endeusamento do CEJ como sucursal do Olimpo. Quem cá ande há algum tempo conheceu Juízes tão bons ou melhores do que os actuais antes da existência do CEJ.
Mais uma confusão é a de se pensar que o Estado (nós) devemos pagar integralmente a formação de certas profissões - não são só os Magistrados mas também, por exemplo, os Médicos - quando, num país de tesos, talvez fosse mais curial optar por um sistema de bolsas.
É certo que há profissões mais importantes - em termos de necessidades sociais - do que outras, mas isto de ordenados a estudantes - sejam auditores ou internos - leva-nos a perguntar se quem quer ter outras profissões não tem dificuldades económicas nem merece os mesmos apoios... num país sem dinheiro.
Amenizando a discussão, relembro a velha anedota do sujeito que perguntava ao Advogado (dos tais que foram acima designados de corruptos) - Ó senhor doutor, não seria melhor mandar um cabritinho ao Juiz, com um cartãozinho, para ele ficar do nosso lado?
- Homem, você é doido? Então queria comprar o Juiz? Não faça tal coisa que ainda se lixa!
Foi o julgamento, o tipo ganhou e, ufano, virou-se para o Advogado:
- Senhor doutor, afinal eu tinha razão naquilo do cabrito.
- Mas você mandou o cabrito ao Juiz?
- Mandei sim. Mas depois de pensar no que o Sr. Dr. me disse, juntei um cartão com o nome do outro.
A anedota é velha mas não é só ficção. Já tive um cliente que, estou absolutamente convencido, ficou prejudicado porque, contra o meu aviso, resolveu "meter uma cunha".
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