Denunciado há mais de um ano, o caso da antiga química forense Annie Dookhan, acusada de falsificar as análises laboratoriais de droga que realizava para a polícia, tem afinal uma dimensão ainda maior do que a inicialmente estimada: os reultados dos casos de mais de 40.323 pessoas podem ter sido adulterados pela ação da antiga funcionária estatal.
Segundo o jornal "Boston Globe", o número ultrapassa em pelo menos três mil o originalmente admitido, mas fica aquém do real impacto da má conduta de Annie Dookhan.
A questão agora é que a veracidade dos resultados de todos os 190 mil casos enviados para o laboratório Hinton, em Massachusetts, no início dos anos de 1990 está posta em causa, podendo estes vir a ser pura e simplesmente anulados, como já se pede.
Uma dor de cabeça para a justiça norte-americana, que terá ainda de perceber como corrigir os possíveis erros nas penas entretanto decretadas. Um verdadeiro imbróglio, do qual não será possível sair tão cedo e com custos demasiado altos, dado os milhões de dólares já gastos na investigação.
Queixas ignoradas
À margem da questão legal, outra questão é tentar perceber como foi possível esta mulher trabalhar nove anos sem ser descoberta. Porque as suspeitas vinham de longe. Trabalhadora incansável, sem requer receber as horas extra que cumpria, os colegas desconfiavam da sua produtividade. Era frequente terminar o mês com 500 análises realizadas, quando a média por funcionário não ia além das 150 e se sabia que os procedimentos requeriam tempo.
Houve queixas ignoradas pelos supervisores, que nem mesmo o facto de que Dookhan tinha apresentado um "curriculum" falsificado pareceu suficiente para justificar um trabalho de investigação.
Se foi para evitar as repercussões que se adivinhavam - o laboratório acabou fechado -, ou incompetência, certo é que uma investigação interna acabou por ser ordenada, o que levou a química a apresentar a sua demissão e, posteriormente, a admitir que falsificara resultados, assinara relatórios sem sequer submeter a droga a análise e que, noutros casos, trocara provas para obter resultados diferentes.
Aos 35 anos, Annie Dookhan terminou no banco dos réus. Em janeiro deverá conhecer a sentença.
Mafalda Ganhão | Expresso | 20-08-2013
Comentários (7)
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terceiro mundo
Haverá alguma dúvida quanto á decadência terceiro mundista dos EUA?
Veja apenas que os tipos condenados por tortura a prisioneiros levam seis meses de pena e o tipo que denuncia esse tipo de práticas apanha 35 anos!
Chama a isto o quê?
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