Pedro Santos Guerreiro - Isto não é um caso, é uma poucavergonha. O escândalo dos "swaps" nas empresas públicas pode revelar-se ruína maior que um BPP ou várias PPP. Mas em causa está mais do que má gestão. Em causa está má gestão, má auditoria, má governação - e talvez má-fé. Quando vir alguém pendurado por causa desta história, olhe também para quem pendura.
O país está para enforcamentos rápidos. E é óbvio que, se se confirmar que as administrações de empresas públicas compraram produtos altamente especulativos, fazendo o Estado incorrer em riscos inaceitáveis, então quase apetecerá que tenha sido por corrupção - por que se não foi por burrice. Ou enganaram ou foram enganados. Mas há mais gente envolvida do que parece.
É normal que as empresas comprem produtos financeiros que reduzam o risco de variações de preços de factores que não controlam mas de que dependem. Assim é por exemplo com taxas de juro, taxas de câmbio ou preços de petróleo. E foi isso que várias empresas públicas fizeram. Só que correu mal, pois as taxas euribor, por causa da crise financeira, não subiram, caíram. E correu ainda pior porque, segundo o Governo, as suas estruturas eram altamente especulativas. Conheciam os gestores os riscos do que estavam a comprar? Eles ainda não se defenderam, mas aparentemente não. Se é o caso, esqueceram-se da regra básica de Warren Buffett: não invista no que não compreende.
O problema parece no entanto ser mais tentacular. Alguns destes "swaps" datam de 2004. Foram aprovados por Conselhos de Administração e foram publicados em relatórios & contas, reportados a revisores oficiais de contas, vistos por conselhos fiscais, analisados por auditores externos e aprovados pelo Estado em Assembleia Geral. Ninguém sabia? Ninguém reparou? Ninguém chumbou nem realçou os riscos? O Tribunal de Contas levantou o problema em 2006. Há relatórios da inspecção-Geral de Finanças de 2008 que chegam a elogiar esta gestão de risco, pois tinha então sido lucrativa! A Direcção-Geral de Finanças tinha conhecimento. Há despachos do Governo, assinados por Costa Pina, em 2009 e 2011, sobre a matéria. E agora, em 2013, é que toda a gente acorda?
O caso é muito grave. Nas actuais auditorias, a Inspecção-Geral de Finanças tem-se feito acompanhar de peritos informáticos, o que pode indiciar que há suspeitas de corrupção. Três mil milhões de euros (que é perda potencial, que será menor se as taxas euribor subirem nos próximos anos) é o dobro do corte de despesa do Estado que o Tribunal Constitucional agora chumbou. Há muitas responsabilidades por apurar, sobretudo das administrações à data dos Metros de Lisboa e do Porto, mas incluindo também as políticas por se ter escondido o problema durante muito tempo - vigilância que deve estender-se a este Governo, que já fez tombar dois secretários de Estado por este caso.
O Governo ainda não prestou informação, as empresas não falaram, os suspeitos ainda não se defenderam. Entretanto, os bancos (estrangeiros) estão a ser pressionados a negociar. Mas se fizeram outros de parvos, os parvos são os outros. Curiosamente, não há notícia de perdas desta dimensão em empresas privadas. O escândalo ainda vai no adro mas já se penduram cordas. A única coisa que se já sabe é quem são As bestas. São os contribuintes, claro, As bestas de carga do costume. Bestas de carga fiscal.
Pedro Santos Guerreiro Director | Jornal de Negócios | 26-04-2013
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O vento
Quando um País não tem estrutura para ir a coisa vem até ele.
O que se passa é que a coisa não funciona.
Se a coisa funcionasse as universidades estrangeiras vinham estabelecer-se em Portugal.
E o Programa Erasmus voltava para o sítio de onde ele pertence, ou seja, para o lixo.
A Liberdade de circulação é uma ideia falaciosa que só serve a pessoas do sistema, não necessariamente endinheiradas, mas extremamente bem informadas e enraizadas no esquema da viagem de estudo ou trabalho. Isso tem que acabar.
Se tudo o que é de fora é bom, então viva a importação e tragam as Universidades públicas e privadas da Alemanha, Holanda, Bélgica, França, Itália para Portugal e não façam as pessoas deslocar-se aos respectivos países.
Aposto que essas universidades iriam ter sistemas de ensino, classificação de alunos e de recrutamento de professores honestos.
O -------- não é professor de Direito da Concorrência? Olha acredito que haja melhores.
- É o cúmulo ter sido obrigada a assistir a uma prova oral de Economia Política de uma aluna a falar um idioma que para mim é desconhecido, tudo por culpa do professor da cadeira ser um deslumbrado e um afectado, tenho a certeza que é mais um que me odeia graças a Deus.
As universidades portuguesas e os seus profissionais de ensino superior não iam aguentar este tipo de concorrência, porque a única coisa que sabem fazer é nada.
Vou escrever uma carta ao Presidente do BPI a propor-lhe esta ideia de uma parceria com universidades estrangeiras para se estabelecerem em Portugal, trazendo, obviamente só profissionais recrutados segundo os critérios de origem. Tenho a certeza que o País aguenta coisas de qualidade. Aguenta aguenta.
Em relação à Troika punha-os na rua.
Obviamente também.
Importar serviços universitários é isto meus caros, os programas de intercâmbio que existem só servem para sorver dinheiro e dar emprego aos mesmo de sempre.
E não me digam que não gostam de Direito Europeu e de livre circulação de serviços que aqui a saloia má aluna e débil mental, não acredita.
Coitadinho do Direito Internacional Público, não me esqueci dele, as Universidades norte-americanas também fariam parte deste programa de recepção direta e estabelecimento no nosso Portugal.
University of Columbia e Harvard University com uns belos edifícios nos arredores de uma capital de distrito qualquer.
Adoro fardos de palha para professores burros e dar uma bela banana para tipos com cara de macaco e filhas que nem filhas deles devem ser, pois têm uma bela testa para levar um para de galhos.
Université Paris-Sorbonne com um campus jeitoso e uns professores bem giros a falar francês correcto e com pronúncia que se apresente.
Estes de cá têm ferrugem desde novos e os velhos cheiram a mofo.
Yours dearest English pleased
Raquel
PS. que uma universidade com portas e varandas que valha pena, em que se escute alguma coisa que preste e não o vosso exibicionismo provinciano da treta, de deslumbrados que viajaram muito e chegam ao vosso País e não sabem por em prática o melhor que viram lá fora.
As salas de aula servem para ensinar a matéria do programa e não para dar lições de moral e geografia, nem para expressar as vossas frustrações de velhos casados e arrependidos que querem passar a mensagem a alunas pacóvias, nem para falar da m***a do contrato de casamento que não interessa nem às palhinhas do menino Jesus.
Fazendo bem as contas...
...
...
«Curiosamente, não há notícia de perdas desta dimensão em empresas privadas»
Alguém lhe conte uma «estória» dos 3 porquinhos: o BPN, o BPP, o BNIF, o Millennium... ups, afinal são 4 e esqueci-me do BPI, que também lá tem 1.100 milhões nossos! Quer dizer, que nós pagaremos.
...
É isto que ganhamos com esta gente.
http://1.bp.blogspot.com/-O3Y3s_1MGwg/UXpYPqFYvQI/AAAAAAAAKpU/k__HXicoghQ/s1600/DIABO.jpg
Bestas tanto cá, como lá
Estou cá no Brasil, porém seja aqui ou em Portugal, os governos nos comem, defraudam à vontade, pois controlam tudo, desde os tribunais, até as forças policiais. Sugiro que só pela força ocorrerão mudanças. Ou a menos que venha a vigorar o verdadeiro sistema Federalista de governo, onde o povo é que conta com o poder. Islândia deveria ser tomada como modelo
...
durante um ano (1993-94) tive a honra de ser aluno de "Erasmus" numa Universidade da Irlanda. A minha Universidade de origem era a de Coimbra, minha amada Universidade!!!
Candidatei-me a essa vaga por na altura ser a única que o meu curso dispunha em Países de língua inglesa; havia muitas outras mas eram para Itália e França. Por sorte, encontrei um País encantador que acolhia muito bem os seus visitantes, e uma Universidade com um excelente sistema de ensino e mais de 2.000 alunos estrangeiros - de mais de 90 países - ao abrigo do "Erasmus" e outros programas de intercâmbio mundial.
Juntamente com as vivências de Coimbra, pude assim experimentar o que de melhor um ser Humano pode desejar, e que não se limitou à vertente académica! "Erasmus" é muito mais que isso!!! É a possibilidade de interagir com uma multiplicidade de conhecimentos e culturas numa situação privilegiada que de facto só programas de intercâmbio podem proporcionar! Para quem quer experimentar uma Universidade de outro País, mas também para quem acolhe; daí a dupla importância da existência desses programas.
Cumprimentos

Oportunidade de qualidade de ensino superior alargada a todos
É com regozijo que lhe respondo, depois de com ainda maior regozijo ter lido a sua missiva.
Sempre soube que pessoas que experienciaram o Programa "Erasmus" e dele tiraram grande proveito intelectual e pessoal existiam, fico feliz por o meu interlocutor pertencer ao clube dos "felizmente erasmeados" com louvor, distinção e satisfação ... cultural, curricular e pessoal, claro. Digo isto com sinceridade, com a mesma sinceridade com que escrevi o meu anterior comentário nesta revista.
Porém, o plano em que me posicionou, exige ao meu sentido de lealdade para com quem se deu ao incómodo de a mim se dirigir - o que muito me honra - um maior detalhe, em continuação do que me propus quando peguei no assunto.
Devo admitir que tem razão no ponto que toca À utilidade do Programa "Erasmus", porém isso não está em desacordo com o que escrevi anteriormente, pois a minha tese não se baseia na total inutilidade do mesmo, mas sim na sua grande margem de inaproveitamento para uma não despicienda camada estudantil, à qual o Sr. Dr. parece felizmente não pertencer.
Muitos alunos nunca participarão nesse programa por razões de cariz financeiro inerentes à sua situação pessoal, que não abarca riscos de falhas no apoio desse programa e de outro género, pois se o dinheiro faltar não dá para apanhar o eléctrico ou autocarro e ir para casa. Esta é uma debilidade que afasta muitos alunos que teriam intenção de participar.
Para os estudantes que aceitam a alia financeira confesso que, para eles a razão da existência do mesmo se justifica.
A co-existência do Programa" Erasmus com o estabelecimento de Universidades estrangeiras não é uma míriade de incongruências, mas sim um conjugar de existências, que possibilitariam a muitos dos recursos humanos de nacionalidade portuguesa uma capacidade de trabalho mais ampla, arejada e quem sabe até mais feliz a nível cultural e pessoal, que não somente académico.
Como lhe disse concordo consigo, em parte e agradeço a sua atenção e generosidade ao partilhar a sua própria experiência enquanto aluno para que da discussão saia alguma luz, para todos os que também nos lêem. Tenho a convicção que a "força " do tema é muito maior e que por isso, o mesmo não é fácil, nem acabado. O que está em causa é muito mais do que a ida e vinda de uns alunos ao estrangeiro, mas sim a economia de um País com um número elevado de recursos humanos com grau de formação superior no desemprego, que vêem posta em causa a sua formação a nível nacional e internacional, quando por grande infortúnio são "forçados" a emigrar, e é a perspectiva de futuro dessas pessoas que me faz escrever.

Cumprimentos
Para a Srª Drª Latifa, 1
agradeço, muito muito comovido, o comentário que me dirigiu.
De facto sinto-me um privilegiado por ter tido a oportunidade de fazer "Erasmus", e na Irlanda; pelo programa e pelo País. Imagine as imensas imensas experiências que aí tive - partilhas e cumplicidades!!!
Só até pelo facto de viver num imenso campus universitário que pouco dormia, com centenas de apartamentos só de estudantes - blocos de 4 cada, com apenas rés-do-chão e 1º andar, o meu era em baixo e à beira-rio. E de ter tido colegas de casa - éramos 4, cada um de nacionalidade diferente - verdadeiramente solidários; aliás, espero receber um deles - alemão - nas próximas férias, juntamente com a Família que entretanto constituiu.
Corri a Irlanda de lés-a-lés em todo o tipo de transportes, e até cheguei a fazer uma viagem de avioneta sentado no lugar de co-piloto, arranjada por esse Amigo Alemão que tinha uma amiga que era amiga de uma amiga de um amigo de uma amiga... relações públicas da companhia. Os jovens são assim. Não mexi nas manetes que havia do meu lado mas estava preparado para intervir a qualquer momento; é que a idade avançada do piloto não parecia segura para tão altos voos, e se lhe desse um ataque eu teria de pôr em prática tudo o que havia aprendido nos... filmes. Restava depois rezar que o final também fosse feliz... Tudo correu bem, não lhe deu o "chlique" e a viagem foi deslumbrante

Um aparte: curiosamente, e para minha pena, mantive pouco contacto com os outros 4 Portugueses, por sinal também oriundos de Coimbra, que aí faziam "Erasmus". Eram excelentes Pessoas, mas a quem faltou mais arrojo. É certo que houve muitas aulas a que não fui - mea culpa pois habituara-me mal em Coimbra... onde também faltava. Por sorte tive um tutor excepcional, e colegas que sempre me dispensaram os seus apontamentos.
Conto uma graça: houve uma vez um Professor que se preparava para me dar um raspanete: começou por falar em faltas e perguntou a minha Universidade de origem; quando respondi Coimbra, os olhos dele brilharam e disse algo do género: "falta quando quiseres e se precisares de alguma coisa vem ter comigo". E eu cumpri parcialmente, faltando às vezes...
Importa dizer que ajudou e estou muito grato por isso, mas que não teria precisado de ir para a Irlanda para contactar com Pessoas fantásticas ou têr experiências únicas. Assim consegui algo mais, é certo. Mas também em Coimbra conheci gente verdadeiramente notável, colegas e Professores, alguns dos quais serão Amigos toda a vida. O ambiente académico coimbrão permite criar laços com essa força!!!
Destaco,
- a minha participação no GEFAC e a confraternização que fazíamos depois dos ensaios, até altas horas, agradável cavaqueira e bons petiscos - que os elementos mais velhos, já licenciados e a trabalhar, nunca deixavam que os elementos ainda estudantes pagassem -.
- os colegas de casa e outros Amigos, com quem frequentemente se faziam jantares pela noite dentro - e que tanta gente atraia - com bom vinho, marisco e galinhas... que propositadamente iam cacarejar lá a casa para serem assadas...
- os gritos de desespero da Senhora da limpeza - que era uma excelente Pessoa! - quando logo de manhã via tal balbúrdia.
- as tentativas de alguns vizinhos em nos expulsarem, em especial um a quem carinhosamente tratávamos por "25 linhas", pois constantemente ameaçava com um requerimento dessa grandeza...
- a protecção e apoio que os Serviços Sociais da Universidade sempre nos deram, eles que jamais abandonavam os Alunos, em especial o seu Presidente - saudoso Sr. Dr. Luzio Vaz!!
- a profunda Amizade pelo meu antigo colega de quarto, engenheiro físico após muitos anos como "dux veteranorum" e actualmente especialista em astronomia. Da experiência de na queima das fitas ir com ele ao mercado, acompanhados por caloiros e outros membros recolher carnes e legumes que as Pessoas entendiam dar... produtos que depois eram confeccionados carinhosa e gratuitamente pela tasca que fica ao lado do Museu Machado de Castro, e que por fim, colocados os enormes tachos em cima de um carro romano conseguido do programa televisivo "jogos sem fronteiras", eram distribuídos gratuitamente por quem quisesse.
- os excelentes Professores que tive em Coimbra - um dos quais o mais brilhante Professor de História e republicano convicto -, o meu Mais Querido Amigo!
Para a Srª Drª Latifa, 2
- Fiz uma pesquisa na net e foi com surpresa que vi que para a Irlanda as bolsas variam entre 300 e 370 euros mês, mais 2 viagens de avião. Só que o valor da bolsa nem deve dar para pagar o valor mensal cobrado pelas residências universitárias, que costumam explorar os estrangeiros... Se o estudante não tiver outra fonte de rendimento..., está tramado.
- Pelo que li, os Alunos que recebam bolsa por carência económica ou mérito, podem continuar a usufruir da mesma. O que acontece é que essas bolsas também são muito baixas. No ano passado ajudei a filha de uma ex-aluna a preencher os papéis de candidatura a bolsa de estudo; separada, a pagar casa ao banco, poucos rendimentos e vários filhos a cargo, a bolsa da filha creio, não chegou aos 200 euros... que também tem de servir para pagar as propinas da Universidade Pública que frequenta.
- Há 20 anos recebi eu, creio, 500 contos (2500 euros). É certo que mais de metade desse valor gastei-o em viagens de avião - que na altura não eram oferecidas e custavam muito mais que hoje em dia, graças às companhias low-cost -, mas penso que as bolsas não acompanharam a subida do custo de vida. Por sorte, recebi também outra bolsa da Universidade de Coimbra e um generoso apoio da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira (que voltou a ajudar-me depois disso mas que entretanto se esqueceu de mim, e o Presidente vai sair...), e o resto foi pago pelos meus Pais. Imenso dinheiro.
- É certo que eu sou péssimo a controlar o dinheiro e não sirvo de exemplo para ninguém, mas creio que os valores que os Alunos de "Erasmus" dispõem hoje não permitem a tranquilidade desejável num País estrangeiro, nem integrar-se, interagir ou explorar essa realidade. E se fôr para o Aluno ser abandonado à sua sorte, confesso que prefiro mais valer estar-se quieto...
Relativamente ao estabelecimento de Universidades estrangeiras em Portugal...
- Presumo que não seja economicamente viável, e os Professores de mais experiência e carreiras brilhantes dificilmente deixariam a Família - ou trocariam a segurança que entretanto conseguiram - para irem para outro País. O que as Universidades fazem normalmente é acolher Alunos/Professores estrangeiros, dando-lhes formação específica que depois eles podem divulgar nos seus Países de origem. Eu próprio fiz um ano de estudos superiores numa Universidade Espanhola, já depois de licenciado, sem qualquer bolsa e infelizmente sem utilidade.
- Outra forma é os Países colocarem os chamados "leitores/lecteurs" por essas Universidades fora, uma maneira de divulgarem a sua língua e cultura, mas também para lhes permitir adquirirem competências. Lembro-me que em Coimbra havia vários Professores de nacionalidade estrangeira e, pese embora na Universidade onde fiz "Erasmus", pelo menos na altura, não haver "Leitores" Portugueses, encontrei uma na Universidade de Cork (Univ. também Irlandesa) quando aí participei num interessantíssimo Seminário de vários dias, em que esteve presente o embaixador Português - que de lanche nos ofereceu pequenas fatias de pizza supostamente cobertas de caviar -.
Já agora, decorria também nessa Universidade um encontro de tunas universitárias, em que participavam as do Porto e Braga (que foi de autocarro carregado de cerveja Portuguesa). Eram já umas 3 da manhã quando, em plena rua de densa zona residencial, começaram a entoar fados da sua cidade de origem. Rapidamente passaram para fados de Coimbra. Apesar do avançado da hora, centenas de Pessoas apinhavam-se à janela e ninguém mandou vir; todos a escutar fados de Coimbra e imensos aplausos no fim de cada canção; não imaginam a alegria que senti, ninguém pode imaginar...
Relativamente ao desemprego... nem fale...
Eu sou um desses desempregados. E sabe, é o facto de ter experimentado momentos tão únicos que me faz pensar que alguma coisa devo ter aprendido e que algum mérito terei; e que tudo isso me ajudará a vencer as dificuldades e aspirar a um futuro melhor do que o presente. É isso que face às contrariedades me mantém por cá. E mais do que a mim, poder ser útil aos outros.
Reitero os meus profundos agradecimentos pelo seus comentários; desculpe ter respondido com um tão longo - tive de o dividir em 2 para ser possível adicioná-lo.
Cordiais saudações

Para Sr. Dr. Franclim Sénior
Fico mais enriquecida depois de ter lido um relato de vida como o que me explanou. O seu historial revela um interlocutor nem sempre fácil de encontrar, o Sr. Dr. transmite a imagem de uma pessoa equilibrada a vários níveis, não é muito rico, nem muito pobre, não está empregado, porém tem "bagagem" formacional, enfim é um fiel da balança e um exemplo da pessoa que se divertiu como devia e como merecia.
Viver com outras pessoas no início estranhas é um acto de civilidade para uns, de prazer para outros e de necessidade para os menos afortunados. Para mim também foi uma experiência, porém, não a partilho aqui, porque não foi por razões de estudo. A melhor fase para fazer certas figuras é quando se é jovem, continuo jovem , não de fazer figuras descabidas, tenho um ritmo mais pausado, mais intenso, como aquelas marteladas: menos mas com mais força, assim são mais eficazes. Perdi demasiado a nível pessoal e, não sei perder, não gosto, portei-me muito mal, principalmente porque foi inútil não reverteu a meu favor e principalmente desgastou-me mais do que merecia.
O seu registo de escrita é literário, atrevido e muito alegre espero sinceramente que a sua vivência humana nacional e internacional tenha sido tudo o que escreveu e muito mais do que ficou por escrever e que só a si pertence como todas as emoções e sentimentos que nos são queridos. Sou uma pessoa hermética no que toca a falar de mim, mas às vezes ocorre o momento em me sinto capaz de o fazer. A realidade das pessoas que não são residentes permanentes nos países em que estudam pode ser problemática e, por cá, até para os cidadãos as bolsas também não cobrem muitos dos custos e podem não chegar atempadamente, já soube de casos assim, felizmente não ocorreu comigo.
Tenho imensa pena que não haja verba para trazer as Universidades estrangeiras para Portugal; o ensino superior será, então, como sempre foi, mas quem ensina aprendeu lá fora e pronto as classificações serão o que tiverem que ser e o que foram. A divulgação cultural intra-universitária através dos "Leitores" terá os benefícios cabíveis e, de certo, bastante proveito para quem ouve. A melhor pizza que comi foi de uma pizzaria em Oeiras, com frango desfiado, oregãos e queijo, foi entrega ao domicílio, prefiro comer em casa do que fora dela, nunca mais comi outra tão boa.
O coro da Universidade de Coimbra também foi motivo de conversa com pessoas fora do nosso País, mas as tunas são mais animadas.
Espero que se empregue depressa e no que deseja.
Obrigada por partilhar os seus conhecimentos, informações e emoções que viveu e vive, eu apreciei e agradeço o seu à vontade franco.
Despeço-me, por agora, e retribuo as saudações cordiais
Latifa

Para a Srª Drª Latifa
agradeço, novamente muito muito comovido, o comentário que me dirigiu.
Gostaria apenas de acrescentar algo, de forma a garantir que nenhum dos leitores me entende mal.
- Apesar das brilhantes experiências que de facto tive ao longo de toda a minha vida - com algumas festas loucas pelo meio -, nunca me embebedei nem nunca senti necessidade de o fazer.
- E quanto a faltar às aulas... acontecia, e houve até uma vez que cheguei atrasado mais de 1 hora ao exame de melhoria de nota, por ter adormecido. A Professora deixou-me entrar e subi 2 valores.
Nunca chumbei um ano que fosse na Universidade, e assim de repente só me lembro de uma vez ter deixado uma cadeira para o ano seguinte - tinha regressado da Irlanda e o Professor estranhou não me conhecer. Contei-lhe que estivera fora do País em "Erasmus", e como resposta disse-me que só devia fazer exame depois de assistir às aulas. Fi-lo na mesma pois havia estudado pelos apontamentos dos colegas, e ele chumbou-me. Durante o ano seguinte assisti a algumas aulas e aprovei na cadeira.
Cordiais saudações

Parte I - 30 de Abril de 2013. Para o Sr. Dr. Franclim Sénior
Sr.Dr. Franclim Sénior,
Obrigada pela sua resposta e por ter pensado, também, no colectivo que eventualmente nos possa ler, eu pessoalmente penso sempre que posso estar a ser lida por mais que uma pessoa ao mesmo tempo.
Tive uma colega que foi uma aluna exemplar na Universidade e em algumas escolas que anteriormente havia frequentado, mas sabe porquê? Ela tinha sido expulsa de um colégio de freiras, depois de ter faltado e chegado atrasada e de ter reprovado num exame teórico básico para obter a carta de condução, coisa que nos liceus daquele País é facultado aos alunos. A minha colega bebeu sozinha no apartamento dela, nunca em público, mas embebedou-se e depois foi para a cama. Ela até chegou a experimentar cigarros de nicotina (não dos outros) e as lojas venderam-lhe apesar de ser proibido, ela diz que queria saber porque é que pessoas inteligentes e informadas não conseguiam largar aquele vício, o facto é que ela não gostou de fumar e nem ficou viciada, graças a Deus e também não teve a resposta para a pergunta que a levou a fazer aquela estúpida experiência
Muitos colegas meus de Faculdade nunca foram fazer um exame de melhoria porque não queriam estudar mais, outros porque tinham receio que ficasse demonstrada o erro de terem tido uma classificação positiva e outros até por terem copiado no exame.
(Continua)
Parte II - 30 de Abril de 2013. Para o Sr. Dr. Franclim Sénior
Há colegas que trabalham e estudam e conseguem ter melhores classificações do que aqueles que não trabalham - os primeiros são os brilhantes. Quando digo melhores classificações quero dizer um 17 no mínimo. Às vezes é possível distingui-los - para quem consegue - depois de duas palavras e meia de discurso, são pessoas que brilham, porque têm luz própria, que nasceu com eles e não lhes foi facultada por favor especial ou sem ser especial. A propósito a expressão " vou-lhe fazer isto, mas é por especial favor " é irritante, a menos que a pessoa precise muito muito do " sacaninha " do favor. Enfim, também existem alunos que aparecem nas aulas todos os dias sem faltar uma vez, às 7.30 já estão na Faculdade, quando ainda é de noite e a cidade dorme e poucas pessoas se vêem, só se ouvem alguns animais nocturnos que se preparam para ir dormir, uns "morceguitos" traquinas. Esses podem até ter sempre classificação negativa na prova escrita e passar na prova ora - porque frequentar as aulas é algo que fizeram e ainda bem para eles, porque conseguiram passar; às vezes questiono-me sobre a segurança e expectativa dessa gente aluna e estudante e colega e não são mais o quê, que depois de ter "chumbado" nas provas escritas de todas as cadeiras (com excepção de quatro do primeiro ano de curso para não desencorajar o caloiro) passou nessas mesmas cadeiras na fase oral. Que me diz? Devem ter mais ou menos segurança do que aqueles que passaram na escrita e nunca ninguém ouviu aquelas "alminhas" numa prova oral ou nas aulas dizer o que quer que fosse?
(Continua)
Srª Drª Latifa
1. Rectifico um erro do meu texto do dia 29; no exame que fiz contrariando as indicações do Professor da cadeira, o chumbo não se deve à vontade do mesmo mas sim à minha não preparação para tão complexa matéria.
2. Também tive alguns colegas trabalhadores-estudantes que tiravam boas notas. Tal pode dever-se a terem objectivos de vida mais definidos e organizarem melhor o estudo.
3. Infelizmente não fui um aluno destacado; terminei a primeira licenciatura com 13 e a segunda com 14 valores. Mas apesar de tudo, há 18 anos e em Coimbra, parecem-me notas razoáveis... Por vaidade digo que em 1999-2000 frequentei o ano curricular de doutoramento da área da Educação, Univ. pública no estrangeiro, e tirei nota máxima a todas as cadeiras!; desisti depois disso...
4. Sobre o tabaco..., a minha experiência: de vez em quando o meu Pai fumava e eu sempre me convencera que nunca cairia nesse vício. O fumo enjoava-me! Aversão completa mas de pouca utilidade; aos 18 anos comecei por brincadeira com os colegas e de repente passei a fumar 3 e 4 maços dia. Fi-lo durante anos; por sorte há uns 2 começaram a haver cigarrilhas baratas, e hoje em dia um maço de 17 (por 2 euros) normalmente dura-me o dia todo. Uma redução louca, no custo e na quantidade. Nunca tentei deixar de fumar em definitivo.
5. Relativamente ao "por especial favor", junto a vulgar "mesmo que quisesse, não posso". O "mesmo que quisesse" diz tudo...

6. Sobre as provas orais... as questões que coloca são muito pertinentes, mas infelizmente não tenho grande resposta para dar. A realização de oral pressupunha - e penso que assim continua a ser regra nas Universidades Públicas - que o Aluno teve, creio, pelo menos um 7 ou 8 no exame escrito; e isso é uma segurança de que alguma coisa saberá. Desse modo, com esse tipo de avaliação, complementar, preocupam-me mais os chumbos injustos do que as aprovações obtidas graças a alguma complacência do examinador da oral.
Cordiais saudações

...
A única vez que me embebedei tinha 16 ou 17 anos, e jurei pra nunca mais.
Foi uma garrafa de champagne Dom Perigon inteira só para mim, que bebi, na minha casa com a minha Família, nos E.U.A. nos arredores de Nova Iorque num Reveillon e depois fui directa para a cama.
Não gostei da bebedeira, por muita qualidade que ela tenha, é sempre um despropósito, porém foi uma vez sem exemplo e nas minhas quatro paredes. Uma pequena e desnecessária loucura de adolescente ... fora do País - mas para nunca mais repetir
Cordiais saudações,
Latifa
3 de Maio de 2013. Sr. Dr. Franclim Sénior
3 de Maio de 2013. Time: 19.52
Prezado Sr. Dr. Franclim Sénior, gostei muito da sua última carta!
Tem razão, em tudo o que escreveu.
Continuarei a ler a revista Inverbis, mas desta vez vou acompanhar de perto os seus comentários!
É uma pessoa muito educada e um interlocutor muito instruído.
As falhas e atrasos na publicação das minhas cartas foram-me alheios e alguns comentários meus em resposta a si não foram publicados e agora já não faz sentido republicá-los,
Fique bem ,
Latifa

Srª Drª Latifa
infelizmente não mereço qualquer elogio pelos meus textos. Mas muito, muito grato pela sua simpatia!!!
Cordiais saudações

Nota:
Li os seus comentários na madrugada de sábado; já estava com duas directas e preferi responder depois. Entretanto com o fim-de-semana... atrasei-me; queira desculpar só o fazer hoje.