Medeiros Ferreira - Passos Coelho tomou o Acórdão 187/2013 do Tribunal Constitucional como um agravo pessoal e amuou. Nem falo de cultura democrática mas tão-só de falta de sentido institucional e de respeito pela multissecular aquisição da separação de poderes. Mais importante: o primeiro-ministro aproveitou a oportunidade para manobrar sem pudor.
Assim, marcou para sábado passado um Conselho de Ministros extraordinário e, findo este, pediu uma audiência com caráter de urgência ao Presidente da República, que a concedeu, rápido e magnânimo, no prime-time televisivo. A essa hora, a bateria de comentadores dispersava-se na antevisão de um pedido de demissão do governo, no anúncio da remodelação e até no aparecimento de algum ultimatum europeu forjado entre correias de transmissão pouco dadas a constitucionalites. Nada disso, porém, transpirou do pedido de audiência de Passos Coelho a Cavaco Silva. O encontro saldou-se pela compassiva declaração presidencial segundo a qual o executivo mantinha as condições institucionais para continuar no exercício das suas funções. Fora apenas uma manobra palaciana para arrefecer a hipótese reclamada por toda a oposição de parar esta política suicida pelo recurso a novas eleições. O PS era, no entanto, a força política mais visada.
Por isso mesmo a sua resposta requeria mais tempo e mais cuidado, o que irritou os programadores do tempo político televisivo daquela noite de sábado.
Como se atrevia o Secretário-Geral do PS a diferir a sua intervenção para o dia seguinte e convocar uma reunião do secretariado nacional do seu partido? Isso estragava o ritmo do espetáculo político...
Correra entretanto que Vítor Gaspar se teria querido demitir.
E aqui entronca a outra manobra conduzida por Passos Coelho. Este teria de remodelar o governo e encetou mesmo uma teoria da informação sobre as modalidades e os prazos desta. Para já tudo se resumiu à substituição de Miguel Relvas por dois talentos que não irão mudar em nada a natureza política do governo por mais eficientes que sejam. O executivo de Passos Coelho está prisioneiro de Vítor Gaspar e ficou mais dependente de Cavaco Silva. Esperemos pelos números da execução orçamental. A crise governamental continua.
Medeiros Ferreira | Correio da Manhã | 13-04-2013
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