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REVISTA DE 2013

A tirania à espreita

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Baptista-Bastos - O ataque ao Tribunal Constitucional atingiu aspectos indecorosos. Dos sectores da Direita mais radical e asinina, até à colaboração de articulistas indignos, ou ao silêncio ordenado da maioria da "comunicação social", a execração ultrapassa tudo o que seria previsível. Até a troika, agora, em comunicado tão absurdo como abusivo, alude às decisões do Tribunal, interferindo, gravíssimamente, na estrutura jurídica de um Estado; apesar de tudo ainda soberano e democrático.

O dr. Cavaco, ante esta acometida, calou-se de modo abjecto. E o enfadonho Durão Barroso também não se eximiu de admoestar os juízes do Constitucional, com aquela leveza paquidérmica habitual no seu estilo.

Parafraseando um velho amigo meu, Rui Cunha, socialista e homem de bem, não se dera o facto de aquele Tribunal se portar à altura dos legados morais, a ditadura já estaria aí, "reorganizada" em moldes "democráticos" e actualizada pelas circunstâncias europeias.

Há algo de podre e de dissoluto num Governo que estabelece leis e impõe métodos ilegítimos e se apoia numa falsa legalidade do voto. Na realidade, o voto permite ir até certo ponto, e impede que esse ponto seja tripudiado pelos caprichos de um grupo. Neste caso, de um grupo celerado. A partir da altura em que a lei é atolada, a rebelião patriótica torna-se exigência suprema.

Assisti, há dias, entre indignado e colérico, às declarações de Passos Coelho, num fórum de patrões. Foi muito aplaudido, porque se deslocara ao Algarve unicamente para fazer genuflexões de servilismo. O rol de iniquidades que aí vem, entre as quais a diminuição do subsídio de viuvez, toma as leis de Salazar uma piedosa litografia. Pior ainda: o tirano apoiava-se na repressão; este que tal, agora, sustenta-se na falsa "legitimidade" do voto "democrático." Ao patronato foi garantir a intocabilidade dos seus processos e o apoio político aos seus rumos. Aos outros, a nós, caucionou e parafraseou a frase sinistra do banqueiro Ulrich: aguentam, aguentam.

Temos necessidade de que os grandes problemas portugueses sejam estudados e dilucidados por homens que possuam e defendam valores morais partilhados. A partilha desses valores não me parece seja comum, não só entre os governantes como naqueles que se esticam para os substituir. A doença é endémica, e o paradigma que se nos pretende impor simplifica ou rejeita os princípios e os padrões de solidariedade e de compaixão que construíram a Europa do pós-guerra.

A questão central é a de que o capitalismo não tem emenda nem reforma, e de que estamos a ser apanhados por uma pertença de egoísmo e de violência sem paralelo, aliás, na génese do sistema. E quase sem possibilidade de nos defendermos. O desaparecimento da relação social é um projecto imperial de novo tipo, escorado na desagregação do próprio conceito de condição humana.

Baptista-Bastos, Escritor | Diário de Notícias | 09-10-2013

Comentários (3)


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«... não se dera o facto de aquele Tribunal se portar à altura dos legados morais, a ditadura já estava aí ...»

Só nisto discordo de baptista Bastos. É que a ditadura já está mesmo aqui, com ou sem TC. Aliás, este foi parte da sua instauração, ainda que de modo involuntário, creio. Ao permitir cortes de vencimento inconstitucionais abriu a boceta d epandora, que agora não será capaz de voltar a fechar. Agora, meus amigos, só com forquilhas na mão é que isto lá vai.
Sun Tzu , 09 Outubro 2013
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O Zé das Beiras, agora tornado filósofo em Paris, é que deu cabo deste país, levando-o à bancarrota. É por causa dele e dos seus camarilhas que Portugal está como está. Mas é intocável para a maioria dos jornalistas. É de esquerda, rico e a viver no luxo.
A memória costuma ser curta, mas não no caso do Zé das Beiras. O povo não se esquece do muito mal que ele fez ao país. É por isso que ele fugiu para Paris, para não ser sovado numa qualquer rua de uma qualquer cidade do nosso país.
Pires, o sadino , 09 Outubro 2013 | url
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Bom Dia!

Segundo se podia ler no Diário Ecnómico online, e foi versado por 5 alminhas na Sic Notícias, o (des)governo não tem dinheiro para pagar os salários de Dezembro.
Será que estas criaturas (Ana Lourenço, José Gomes Ferreira, Pedro Adão e Silva, Ricardo Costa e Graça Franco) não perceberam que o jornal oficial do (des)governo estava já a preparar a acção que este vai ter brevemente, quando anunciar que não há dinheiro e que não pode pagar o Subsídio de Natal, pagável em Novembro, torneando assim a decisão do TC? E vamos todos aceitar e calar, ou ainda sobra alguma cerviz para por na ordem esta troupe de miúdos a brincar com coisas sérias?
Mais tirania que isto não sei o que possa ser, quando as leis são mero pormenor.
Respeitosamente
Orlando Teixeira , 10 Outubro 2013 | url

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