Marisa Matias - Espero que Vítor Gaspar não fique para a história de Portugal. Se ficar, será provavelmente como o Nero português.
Uma das lendas sobre este imperador romano é a de que ele teria provocado deliberadamente o grande incêndio de Roma para a poder reconstruir a cidade a seu gosto. Esta história é desmentida pela maior parte dos historiadores, mas assenta como uma luva ao actual Ministro das Finanças. A diferença é que, neste caso, não se trata de destruir uma cidade, mas sim um país inteiro.
De facto, o recente despacho de Vítor Gaspar congelando toda a despesa pública é o acto de uma tal desorientação, que dir-se-ia ter origem numa mente desequilibrada. O Ministro das Finanças fecha a torneira a milhares de empresas que são fornecedores do Estado, bloqueia o funcionamento de serviços indispensáveis à população e prejudica a gestão corrente da administração pública, correndo aliás o risco de provocar custos agravados a prazo, por exemplo, através do entrave à celebração de contratos.
É por isso impensável que desta medida lunática possa advir algo de bom para a economia portuguesa. A decisão é simplesmente a consequência da reacção de Passos Coelho ao Tribunal Constitucional, tentando fazer do TC o culpado. Na "narrativa do Primeiro-Ministro", o descalabro da economia, o descontrolo do desemprego e a explosão da dívida são responsabilidade do TC. O programa de destruição do Estado Social, que o PSD já tinha apresentado, também só vai acontecer por causa do TC, e por aí adiante. Já sabemos, a birra de Passos Coelho é para responsabilizar o TC retroactivamente.
O objectivo é, portanto, muito simples: uma política de terra queimada. Uma destruição económica e social de tal ordem que permite a um governo de irresponsáveis uma reconfiguração forçada da sociedade portuguesa, de acordo com um programa de extremismo ideológico.
Qual é o resultado deste delírio? Segundo notícias vindas a público, os inspectores da ACT estão a ser obrigados a limpar as suas instalações, perdendo tempo para as suas reais funções que são as de proteger os direitos do trabalho na economia portuguesa. Para o Governo, isto não é um problema porque uma parte central da sua agenda é precisamente destruir esses direitos. Mas não se confunda isto com o objectivo de poupar na despesa ou cortar nas gorduras. Na mesma semana em que tudo isto aconteceu, ficámos a saber da nomeação para o IGCP de alguns boys do PSD com salários entre os 3.000 e os 10.000 euros. Austeridade sim, mas não para os amigos.
Marisa Matias | As Beiras | 13-04-2013
Comentários (3)
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Mas:
1.º CONTINUAM AS NOMEAÇÕES COM ORDENADOS PRINCIPESCOS;
2.º CONTINUAM AS MORDOMIAS PARA OS POLÍTICOS (RESTAURANTE GOURMET DA AR, BANQUETES E PASSEATAS DOS POLÍTICOS, SOBRETUDO AS DO PAULINHO DAS FEIRAS QUE POUCA CÁ ASSENTA PARA NÃO SE "QUEIMAR").
3.º NÃO SE CORTA NA VERGONHA DAS PPPS E RENDAS EXCESSIVAS;
4.º NÃO SE RENEGOCEIAM AS TAXAS DE JURO DOS EMPRÉSTIMOS;
5.º FAZ-SE TUDO PARA SE VOLTAR RAPIDAMENTE AOS MERCADOS...E AO REGABOFE DOS GASTOS (POIS AS CLIENTELAS POLÍTICAS ESTÃO SEDENTAS DE FAZER MAIS UMAS NEGOCIATAS COM O ESTADO).
Por muito menos do que isto, o Miguel de Vasconcelos foi defenestrado no 1.º de dezembro de 1640!!!