A profecia de Mário Soares cumpriu-se, mais cedo do que tarde, e assim um dos pais da Democracia pode ficar de bem com a sua consciência, porque não incitou à violência, limitou-se a avisar para o que aí vinha. A CGTP ouviu Soares e, desiludida, passou à fase seguinte, a invasão dos ministérios.
O que o País viu ontem foi uma forma de manifestação organizada que fez lembrar o PREC e um País em estado de sítio. A central sindical do PCP invadiu quatro ministérios, horas depois da aprovação do Orçamento do Estado no Parlamento pelos deputados eleitos pelos portugueses - parece óbvio, mas às vezes é necessário recordar o óbvio ede uma decisão do Tribunal Constitucional que, desta vez, não pode ser transformada no novo centro de legitimação da oposição que a Oposição não consegue fazer.
A invasão dos ministérios - intolerável - sucede-se à igualmente inaceitável manifestação de polícias nas escadarias da Assembleia da República e a uma reunião de uma certa Esquerda na Aula Magna, com o alto patrocínio do antigo Presidente. Têm, todos, um traço comum. Quando a razão não chega, sobra a força na rua. E o País deixa de viver num estado de normalidade democrática. Qual será a próxima forma de intervenção, tendo em conta a escalada de conflitualidade social dos últimos dias? Greves de fome, sequestros de ministros e deputados?
A Esquerda, uma certa Esquerda, que tanto criticou o Governo e a 'troika' por apontar o risco constitucional ainda não disse nada sobre esta forma de pressão sobre os juizes do Palácio Ratton. Percebe-se. É que ninguém fica bem na fotografia. Esta iniciativa da CGTP leva ainda mais longe o conceito do poder ao povo. Quando os eleitos no Parlamento não conseguem negociar nos termos que a central sindical considera necessários, o que se faz? Invade-se os ministérios para discutir directamente com os ministros as decisões que foram votadas e aprovadas pelos deputados.
As palavras de ordem, os cartazes passam bem nas televisões, rimam e até fazem sorrir. Seria cómico se não fosse grave, porque se limitam a demonstrar um estado de espírito, uma indignação, mas não são alternativa, são apenas um instrumento de pressão. A alternativa ao corte de despesa não é a diminuição dos impostos. Infelizmente. A discussão é outra, é sobre a distribuição dos sacrifícios, e aí haverá sempre alternativas. Mas nem isso se vê e lê.
O problema do estado de sítio é que as consequências não são neutras, e de uma assentada, a CGTP ultrapassa o Constitucional pela Esquerda, e transforma-se no principal risco de regresso assistido aos mercados e de normalização da vida económica e social do País.
António Costa, Director Diário Económico | 27-11-2013
Comentários (8)
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é intolerável isto... é inaceitável aquilo... mas quanto ao roubo dos cidadãos pelo Estado, ah! isso é normal e vivemos numa democracia, e blá blá blá...
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O que Mário Soares, não é nada de novo, e há muito alguns aqui vêm escrevendo. É tudo uma questão de tempo e de um click.
De resto, só na cabeça do director do DE é que podia surgir uma comparação entre as invasões dos Ministérios e o TC.
Até posso não concordar com o feito, mas não sei onde o desespero os faz agarrar Centrais Sindicais e atacar.
Um dia iremos perceber.
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Edmund Burke, filosofo político e advogado inglês do século XVIII.
Este director e financeiro
A Porca da República
A rua está genericamente mais limpa!
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Gostaria de saber o que escreveria se os cortes fossem no ordenado dele.
A haver falta de normalidade, só na sua pobre cabeça!