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REVISTA DE 2013

O que falta para o poder cair na rua?

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A profecia de Mário Soares cumpriu-se, mais cedo do que tarde, e assim um dos pais da Democracia pode ficar de bem com a sua consciência, porque não incitou à violência, limitou-se a avisar para o que aí vinha. A CGTP ouviu Soares e, desiludida, passou à fase seguinte, a invasão dos ministérios.

O que o País viu ontem foi uma forma de manifestação organizada que fez lembrar o PREC e um País em estado de sítio. A central sindical do PCP invadiu quatro ministérios, horas depois da aprovação do Orçamento do Estado no Parlamento pelos deputados eleitos pelos portugueses - parece óbvio, mas às vezes é necessário recordar o óbvio ede uma decisão do Tribunal Constitucional que, desta vez, não pode ser transformada no novo centro de legitimação da oposição que a Oposição não consegue fazer.

A invasão dos ministérios - intolerável - sucede-se à igualmente inaceitável manifestação de polícias nas escadarias da Assembleia da República e a uma reunião de uma certa Esquerda na Aula Magna, com o alto patrocínio do antigo Presidente. Têm, todos, um traço comum. Quando a razão não chega, sobra a força na rua. E o País deixa de viver num estado de normalidade democrática. Qual será a próxima forma de intervenção, tendo em conta a escalada de conflitualidade social dos últimos dias? Greves de fome, sequestros de ministros e deputados?

A Esquerda, uma certa Esquerda, que tanto criticou o Governo e a 'troika' por apontar o risco constitucional ainda não disse nada sobre esta forma de pressão sobre os juizes do Palácio Ratton. Percebe-se. É que ninguém fica bem na fotografia. Esta iniciativa da CGTP leva ainda mais longe o conceito do poder ao povo. Quando os eleitos no Parlamento não conseguem negociar nos termos que a central sindical considera necessários, o que se faz? Invade-se os ministérios para discutir directamente com os ministros as decisões que foram votadas e aprovadas pelos deputados.

As palavras de ordem, os cartazes passam bem nas televisões, rimam e até fazem sorrir. Seria cómico se não fosse grave, porque se limitam a demonstrar um estado de espírito, uma indignação, mas não são alternativa, são apenas um instrumento de pressão. A alternativa ao corte de despesa não é a diminuição dos impostos. Infelizmente. A discussão é outra, é sobre a distribuição dos sacrifícios, e aí haverá sempre alternativas. Mas nem isso se vê e lê.

O problema do estado de sítio é que as consequências não são neutras, e de uma assentada, a CGTP ultrapassa o Constitucional pela Esquerda, e transforma-se no principal risco de regresso assistido aos mercados e de normalização da vida económica e social do País.

António Costa, Director Diário Económico | 27-11-2013

Comentários (8)


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"A invasão dos ministérios - intolerável - sucede-se à igualmente inaceitável manifestação de polícias..."

é intolerável isto... é inaceitável aquilo... mas quanto ao roubo dos cidadãos pelo Estado, ah! isso é normal e vivemos numa democracia, e blá blá blá...
Anónimo profundamente indignado , 27 Novembro 2013
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"Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht no poema "Sobre a Violência").
O que Mário Soares, não é nada de novo, e há muito alguns aqui vêm escrevendo. É tudo uma questão de tempo e de um click.
De resto, só na cabeça do director do DE é que podia surgir uma comparação entre as invasões dos Ministérios e o TC.
Até posso não concordar com o feito, mas não sei onde o desespero os faz agarrar Centrais Sindicais e atacar.
Um dia iremos perceber.
Orlando Teixeira , 27 Novembro 2013 | url
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Este Costa é um magano. É vê-lo nas TV´s a perorar sobre o mal que será o aumento de impostos se o TC disser que não aos impostos encapotados sobre os FP e reformados. Curioso, começo a sentir-me estrangeiro na minha Pátria, pois que já nem a minha família (eu, mulher e 2 filhos9 são considerados «famílias» portuguesas. Enfim, esperemos serenamente, que isto cairá de maduro.
Sun Tzu , 27 Novembro 2013
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Para o triunfo do mal só é preciso que os bons não façam nada.
Edmund Burke, filosofo político e advogado inglês do século XVIII.
Maria do Ó , 28 Novembro 2013
Este director e financeiro
(no bom sentido de especialista em economia e mercados financeiros) anda muito preocupado com o seu governo, o que por si só já significa alguma coisa de bom. Gosto de os ver preocupados quando o Povo começa a sair à rua.
Preocupado... , 29 Novembro 2013
A Porca da República
O poder arrasta-se pela lama da pocilga governamental.
A rua está genericamente mais limpa!
Kill Bill , 29 Novembro 2013
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Antonio Costa escreve no artigo que a invasão da escadaria da AR e dos ministérios leva a que "o País deixa de viver num estado de normalidade democrática". Como se, antes disso, existisse normalidade democrática...
Gostaria de saber o que escreveria se os cortes fossem no ordenado dele.
A haver falta de normalidade, só na sua pobre cabeça!
jlcdiniz , 30 Novembro 2013 | url
...
Para que o poder caia na rua, basta que o PCP e a CGTP queiram. Para isso, precisam da aliança dos órgãos de comunicação social, o que lhes está garantido.
Triste sina a deste país que nunca mais se livra dessa gente.
Pires, o sadino , 01 Dezembro 2013

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