Alertas. Mário Soares, Jorge Sampaio e Ramalho Eanes apontaram receios no momento atual de crise. Investigador recusa uma rutura social e diz que "alternativa séria" é a "saída do euro"
Um presidente: "Quando os governantes manifestam medo do Povo – e fogem dele – algo vai muito mal. (...) É próprio de uma Ditadura, não de um regime que ainda se diz democrático."
Outro presidente: "Devo dizer que a austeridade pela austeridade, a austeridade excessiva, pode prejudicar terrivelmente a democracia. Porquê? Porque a democracia precisa de esperança. Se não se conseguir ver a luz ao fundo do túnel, a esperança desaparece, há pessoas dispostas a acreditar em tudo, e é por isso que os extremismos estão a florescer."
Mais um presidente: "Se nós não damos a todos a dignidade suficiente, convencemo-nos de que viver em conjunto não traz nada de bom. Se não lhes dermos uma janela de esperança em relação ao futuro, convencem-se de que também não são os filhos que vão viver melhor."
E o atual Presidente: "Obviamente [que a austeridade tem um] efeito recessivo que afeta o rendimentos cidadãos e, como tal, o consumo."
Este coro de uma tragédia portuguesa reúne a três tempos os três ex-chefes de Estado da democracia – a que se junta, com óbvias cautelas, Cavaco Silva, o atual inquilino de Belém. Mário Soares, num artigo no DN, Jorge Sampaio, numa conversa no jornal francês L eMonde, e Ramalho Eanes, entrevistado na Rádio Renascença, deixaram nas últimas 48 horas alertas suficientes sobre riscos de uma implosão social em Portugal. Este cenário é recusado por Manuel Villaverde Cabral, investigador, doutorado em História, que prefere devolver as perguntas suscitadas pela intervenção dos antigos presidentes da República.
"Acho que estamos à volta do círculo, quando nos falam de risco da democracia, estarão eles a falar do risco de uma ditadura? Isso está excluído."
Villaverde Cabral questiona de que austeridade se fala. Do equilíbrio do défice externo, do ganho de tempo para a dívida e o défice? Não se leia nestes exemplos, pede o investigador agora reformado, uma justificação favorável ao Governo. "A austeridade é sempre má, por mim falo." Mas, contrapõe, "estamos muito longe da rutura social". Tratam-se de "gritos do coração, de intervenções que não aumentam nada".
"A única alternativa séria", insiste Villaverde Cabral, "e concebível, é sair do euro". Afinal, diz, "a nossa situação não é pior do que a dos Estados Unidos, do Reino Unido ou dos países da União Europeia que estão fora do euro". "Ninguém sabe como é sair do euro, pode imaginar-se", mas fora da moeda única talvez a situação se pudesse ultrapassar. Apesar de essa saída nos mandar "para o Norte de África durante muitos anos".
Jorge Sampaio, ao Le Monde, defendeu que "a democracia não recua", apesar de isso ser, "talvez, paradoxal. A democracia, argumentou, "avança enquanto encara novos desafios, e talvez seja preciso redefini-la". E aponta como "o grande desafio atual" o de "construir uma alternativa" às "dificuldades crescentes" do sistema capitalista ocidental. "Espero que possamos avançar na regulação, mas sei também que as forças maiores do mundo da finança são superiores à economia real. Gostava que a política, enquanto tal, pudesse dominar, regular o mundo da finança", afirmou.
Eanes lança o alerta de que "quando não há unidade num país, os homens passam muito rapidamente da resignação à indignação, terrível na medida em que é (...) a mãe de todos os disparates".
Miguel Marujo | Diário de Notícias | 11-10-2012
Comentários (9)
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Toda essa corja abrileira fez a lei para se engordar e lixar o Povo. Diz o Hino nacional: "Às armas..."
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Podiam taxar a 90% os rendimentos dos trabalhadores que estava tudo bem. Aliás o Governo é bem ruim, podiam ter resolvido isto com medidas mais fortes, ninguém protestava (só uns velhotes e uns moços do PCP e tal com umas bandeiras) - já estava tudo ultrapassado. Podiam até confiscar um ou dois ordenados e darem umas rações de combate.
À carai que eu rebento...
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