Investimento bolsista dá prejuízo milionário no fundo que tem as reservas destinadas a financiar as pensões no futuro. Dinheiro apenas permite pagar oito meses e meio de reformas
O Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS), onde está colocado o dinheiro para pagar as pensões no futuro, perdeu, no ano passado, mais de 1,5 mil milhões de euros na Bolsa. Com um valor de 8,8 mil milhões de euros, uma redução de quase 8% face a 2010, o FEFSS tinha verbas para pagar reformas apenas durante oito meses e meio. O relatório do Tribunal de Contas sobre a Segurança Social em 2011 é categórico: "No cômputodo ano de 2011, o valor relativo a variação das mais-valias potenciais atingiu 1531,1 milhões de euros negativos." Ou seja, esta perda milionária em acções e obrigações "corresponde à variação líquida da diferença entre o preço de mercado de um activo num determinado momento e o seu custo de aquisição." E a sua repartição pela população acaba por corresponder a 146 euros por cidadão. Com a instabilidade nos mercados, o FEFSS sofreu uma quebra de 11% na taxa de rendibilidade acumulada. Mesmo assim, os prejuízos na Bolsa foram atenuados com ganhos obtidos noutras aplicações, com as perdas finais a cifrarem-se em quase 1,1 mil milhões de euros.
Para João Cantiga Esteves, estas perdas do FEFSS são "uma consequência da incerteza nos mercados." O professor do ISEG admite que," neste clima de instabilidade, não vai ser fácil obter uma rendibilidade interessante." Para já, como frisa o Tribunal de Contas, "o valor do FEFSS no final do 4º trimestre de 2011 equivalia a 61,5% do valor que se previa gastar com pensões em 2011″, que rondou 14,5 mil milhões de euros. Ou seja, os 8,8 mil milhões de euros apenas dão para oito meses e meio de pensões. O CM questionou o Ministério da Segurança Social sobre o valor actual do FEFSS, mas, até ao fecho desta edição, não obteve resposta.
Palácios para pagar as pensões
O Governo vai vender imóveis, entre eles vários palácios, para cobrir o buraco de 30 milhões de euros do Fundo de Pensões dos militares, confirmou ontem o ministro da Defesa. Segundo Aguiar-Branco, um estudo sobre o fundo concluiu que o resgate custaria 400 milhões de euros. Trata-se de uma matéria "delicada" admitiu o ministro. Aguiar-Branco, que foi ouvido no âmbito da discussão na especialidade da proposta de Orçamento do Estado para 2013, garantiu que a alienação do património será feita de uma forma o menos burocrática e o mais célere possível. Em relação aos cortes de 500 milhões anunciados pela ministra da Justiça e que seriam repartidos pela Defesa, Segurança e Justiça, Aguiar-Branco disse que não haveria cortes em 2013 e que os estudos se referem a medidas a implementar em 2014.
Fugir da dívida portuguesa
O FEFSS reduziu em mais de 20% a sua exposição à dívida pública portuguesa: no final de 2011, o investimento ascendia a 3,7 mil milhões de euros, contra quase 4,7 mil milhões em 2010. Num ano, a fuga da dívida pública portuguesa atingiu 955,5 milhões de euros, a maior diminuição registada no conjunto da carteira do FEFSS. Mesmo assim, o investimento em dívida pública nacional representava 42% do total. Incluindo as aplicações em CEDIC e Bilhetes do Tesouro, o FEFSS tinha 50,7% dos seus activos aplicados em dívida do Estado português.
António Sérgio Azenha | Correio da Manhã | 06-11-2012
Comentários (4)
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O responsável pela brincadeira resolveu jogar o dinheiro dos outros no Casino da Bolsa e perdeu. Perdeu ele, que provavelmente contava desviar para o bolso eventuais lucros, como prémio tão excelente golpe de gestão, como para aqueles que esperam ter o pagamento atempado da sua reforma.
E não há quem intente procedimento criminal contra este (ir)responsável?
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