Quatro anos depois de o procurador-geral da República, Pinto Monteiro, ter eleito o combate à violência em meio escolar como prioridade e apelado às escolas para participarem os casos, os estabelecimentos de ensino continuam a esconder das autoridades os crimes cometidos no seu interior.
O alerta foi feito esta quarta-feira por Celso Manata, coordenador dos procuradores do Ministério Público junto do Tribunal de Família e Menores de Lisboa.
"A atitude paternalista das escolas, típica dos países do sul da Europa, desculpando muitas situações, acaba por prejudicar os miúdos, porque passa uma ideia de impunidade e depois quando os casos nos chegam a nós já as coisas são mais graves", disse Celso Manata, no seminário Segurança em Ambiente Escolar, organizado pela PSP, que se realizou ontem no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, em Lisboa.
O procurador admite as dificuldades sentidas por professores, funcionários e órgãos de gestão das escolas e apela à sua coragem.
"Eu sei que muitas vezes é difícil participar as ocorrências porque os miúdos e as famílias não são fáceis, mas há que ter coragem para informar as autoridades", afirmou.
Os últimos números conhecidos apontam contudo para um aumento de 22 por cento nas ocorrências em contexto escolar participadas às forças de segurança. De acordo, com o Relatório Anual de Segurança Interna, a PSP e a GNR receberam no ano lectivo 2010/2011, no âmbito do Programa Escola Segura, 5762 ocorrências, das quais 4284 foram de natureza criminal.
Bernardo Esteves | Correio da Manhã | 18-04-2012
Comentários (5)
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Mas também vi frequentemente Pais totalmente desinteressados pela Educação dos Filhos.
- Numa vez em que fui director de turma, tive uma aluna de 17 anos que era frequentemente agredida pelo namorado. O conselho de turma decidiu não fazer nada. Mesmo assim, chamei o Pai à Escola dezenas de vezes e ele nunca compareceu. Ao que parece também ele era agressor. Certa altura encontrei o namorado à entrada da Escola e disse-lhe das boas com referências à polícia. Dias depois constou que o Pai da garota tinha concordado que o mandrião fosse viver lá para casa.
- Com uma outra aluna, de 14 anos, que o namorado ameaçava de abandono caso não engravidasse, o conselho de turma decidiu também não fazer nada. Mesmo assim chamei a Mãe e disse-lhe o que se passava; respondeu-me que não me preocupasse pois a filha já tomava a pílula. Também ela engravidara aos 14 anos e consta que certo dia levou a filha a vêr um certo muro defronte a uma discoteca, para lhe mostrar onde a havia concebido. Abstenho-me de dizer qual a posição sexual, por sêr muito vulgar.
- Coisas piores, muito piores... não vale a pena lembrar...
Civilidade & Urbanidade
Os alunos vinham da aula de educação física e, enquanto se acomodavam na sala de aula, iam ‘mandando bocas’ acerca das manifestações do dito, ora num tom mais jocoso, ora mais revoltado.
A partir de determinada altura, começou a desenvolver um fetiche por rapazes de cabelos compridos (e corpos bem delineados)…
Convidava-os para sair à noite, pagava-lhes bebidas e depois oferecia-lhes boleia…
Ocorreram, pelo menos, duas situações no contexto turma.
Como é que nos apercebemos disso?
Através de comentários enviesados dos colegas, que deixavam entender o pior…
Tais alunos, ambos com bom aproveitamento até à suposta ocorrência, mudaram radicalmente a sua atitude, quer em termos cognitivos, quer sociais – tornando-se muito fechados e baixando significativamente o seu rendimento escolar.
Uma profunda tristeza estampada no rosto e uma apatia geral dominavam a sua postura atitudinal.
Que atitude tomar?
Que mecanismos accionar?
Seria quase (?) impossível provar…
Que direito teríamos nós de forçar uma exposição pública relativamente a uma questão tão sensível, sabendo de antemão que não teríamos solução compatível com a gravidade da situação?...
Baixámos (eu tb) o rosto e pregámos os olhos no chão… com um profundo sentimento de vergonha, de impotência e de revolta, por nada se poder fazer para moralizar a situação… fazendo de conta que não perceberamos nada daqueles comentários...
Visitas de estudo que impliquem passar noites fora deixaram de fazer parte da minha agenda...
Desde ganzas em pleno hotel até uma situação de "violação" (no contexto de um par de 'namorados')... tudo é possível!...
E é preciso perceber uma coisa muito simples: os professores não são cães-polícia!...
Se, para lá do programa oficial, os professores se dipõem a acompanhar os meninos à 24 de Julho e fazer o périplo pelos bares e discotecas da zona até às 4 da manhã, seria expectável que (1) no momento em que se organiza o regresso ao hotel, de táxi, em grupos de quatro, todos comparecessem em devido tempo e não houvesse nenhum grupo 'espertinho' que se lembrasse de atravessar a ponte e ir até à margem sul prolongar a noite, totalmente à revelia do estipulado; (2) uma vez no hotel, quando se pede colaboração na moderação do comportamento - e porque são horas de dormir - houvesse um pouco de respeito, não andassem a saltar de quarto em quarto, a fazer o que não é suposto, a provocar reacções explosivas da parte da gerência, pelo ruído que não deixava dormir ninguém, inclusive outros hóspedes que nada tinham a ver com o grupo... (e não, não estavam alcoolizados; isso era controlado por nós.)
Viagens de finalistas são muito giras...
Agora, motos furtadas (desmontadas e as respectivas peças espalhadas pelos vários sacos de viagem) conseguirem atravessar a fronteira e os oito jovens professores de então (ainda passávamos todos por alunos...) verem-se confrontados com uma enorme gritaria a dizer "conseguimos, conseguimos" (passar a fronteira sem que as peças tivessem sido detectadas) e depois alvo de chacota por parte das 'tias' 'competentes' lá da parvónia... não é propriamente do mais edificante que há...
E só não fomos alvo de um processo de inquérito, porque a escola não estava oficialmente ligada à viagem e, por outro lado, junto das autoridades, as criaturas tiveram a ombridade de dizer - a verdade - que os professores não sabiam de nada...
Enfim, lições...
Nos meus tempos de aluna éramos todos uns anjinhos...
A violência existe; está diagnosticada, nas suas mais diversas formas...
O problema está em saber como (1) solucionar as questões de forma satisfatória para os lesados e, sobretudo, (2) imprimir um cariz pedagógico que potencie a inflexão de comportamentos no sentido da harmonia, cooperação e respeito mútuo...
Em suma, a civilidade e a urbanidade nas relações entre as pessoas...
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