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REVISTA DE 2012

“Quem quer corromper não utiliza prendas”

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"Ainda ontem recebi lá em casa um azeite novo, de um grande produtor. Oferecer prendas é um costume português." Eduardo Gatroga, ex-ministro das Finanças em Governos do PSD, disse ontem, no tribunal de Aveiro, desconhecer casos de quaisquer más intenções de quem oferece ou recebe presentes. Não será, pelo que sabe, essa a via para alcançar favorecimentos.

Ouvido enquanto testemunha abonatória de José Penedos, ex-presidente da REN – acusado de corrupção passiva e participação económica em negócio, por, alegadamente, ter intercedido em benefício do filho e também arguido, Paulo Penedos, à data dos factos, advogado do empresário Manuel Godinho -, Eduardo Catroga afirmou que "há que desdramatizar tudo isso de receber prendas. Quem quer corromper outro não utiliza a via da prenda natalícia. Esse tipo de acusação não tem base nenhuma", acrescentou, evitando entrar em pormenores, dizendo que "há outras vias mais sofisticadas, toda a gente as conhece".

Preferiu deixar bem vincada, sim, a sua "estranheza" pelo facto de se usar as prendas natalícias para se criar "um caso e pôr em causa uma pessoa à prova de bala", disse, citando o ex-presidente da República, Jorge Sampaio, quando da sua recente passagem pelo Tribunal de Aveiro.

Ao longo da sua carreira de quatro décadas, nas empresas, "ainda na CUF, antes do 25 de Abril", e em missões de governação, Eduardo Catroga disse que "era perfeitamente normal, sobretudo no Natal, receber e oferecer prendas", do lado de fornecedores, de alguns clientes, incluindo de bancos.

"Quanto maior o grau de responsabilidade, maior a quantidade de prendas, há uma correlação, é típico da sociedade portuguesa. Nota-se mais em anos de vacas gordas, com resultados mais saborosos", explicou o gestor, confessando que teve a sala "grande" de casa mais recheada "de montinhos" quando das passagens pelo Governo, já que as próprias empresas que tutelava enviavam presentes.

"Malcriadamente nunca agradeci, considerava normal", referiu, assumindo, no entanto, que as grandes organizações empresariais, nos últimos anos, "até pela projeção mediática de muitos casos", fazem aplicar regulamentos e comissões de ética. "Encontrei isso agora na EDP", exemplificou.

Júlio Almeida | Diário de Notícias | 13-12-2012

Comentários (35)


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Si, concordo. Oferecer, oferecer, é lugares remunerados a € 600.000 para decidir das remenuerações de meia dúzia de pilecas....
Sun Tzu , 13 Dezembro 2012
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Uma vergonha este comentário. Deste Senhor. Receber prendas não é normal pela classe que ocupa. Esse processo não vai ter resultados, é tudo corrupto e defendido pelos lobbies do sistema das sociedades de advogados...
Vai tudo sair em liberdade...
Os advogados dos vários arguidos é sempre jantaradas em grupo...a gozar com a justiça...

Enfim...
Pereira , 13 Dezembro 2012
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Isto não é um facto; é uma opinião.
Logo, este senhor deve ser um perito na matéria!
Coiso , 13 Dezembro 2012 | url
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Há países, países a sério, onde os políticos entregam os presentes recebidos aos seus serviços, fazendo-se um inventário das prendinhas (que, no fim, se não servem para um museu, por exemplo, são vendidas para proveito de todos ou entregues a instituições de solidariedade).
Por cá, vale o costume.
Receber prendas, cuspir para o chão, bater na mulher, etc. Tudo está certo, porque é costume.
Coiso , 13 Dezembro 2012 | url
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o pior é que parece que muita boa gente????gosta de receber prendas e prendinhas a que não chamam corrupção mas obséquios
ACABE-SE com toda a fantuchada; quem quer prendas que as compre!!!!
paulo , 13 Dezembro 2012 | url
Todos eles têm muito a esconder.
Este individuo desempenhou altas funções do Estado e foi o elemento do PSD nas conversações com a troika; está tudo explicado. Estranho é que o tenham arrolado para falar de sucata quando ele só percebe de ... pintelhos.
Mais um que perdeu uma grande oportunidade para esconder a sua falta de idoneidade para desempenho de funções públicas.
A ver vamos se os juizes se deixam impressionar por aquele desfile de vaidades que xuxam na politica. E ainbda falam eles na poliitzação da justiça. É ver onde milita esta malta.
Luis , 13 Dezembro 2012 | url
Deixem-se de tretas Paulos, Luises,coisos e compª!
O catroga tem razão!
Quem quer corromper e quem é corrompido, não se deixa levar por uma garrafa de Wisky, por uma caixa de robalos, por uma Parker com aparo de ouro , ou por outras bijutarias do mesmo género!
MAL VAI A VIDA QUANDO A RAPOSA ANDA AOS RATOS!!!
Mal vão as investigações neste país quando tudo o que encontram para acusar alguém de corrupção são "PROVAS/INDICIOS" DESTES!!!!!
É trágico a revelador da INCAPACIDADE dos orgãos que investigam!
No entanto, eu que sou má lingua estou mais tentado a achar que é deliberado! Acusam-se os tipos de terem recebido uns bacalhaus e depois acaba tudo por ficar nas águas dos mesmos!
Pedro Só , 13 Dezembro 2012
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O que se pede no processo da Face Oculta é que aos SR. Juízes condenem e condenem bem...
Pereira , 13 Dezembro 2012
Óbviamente o homenzinho tem razãozinha
Apenas os inhos tipicamente portuguesinhos confundem a socialitezinha e a maniazinha de dar prendinhas com corrupção! Apenas mais uma caracteristicazinha mais do vosso paízinho de complexadinhos! E a avaliar pelos comentáriozinhos a coisinha pega!
Baron Hubert Von Trak , 13 Dezembro 2012
Conversa fiada...
Qual a razão de ser das prendas?
Um agradecimento ou um "lembra-te de mim".

Não é com robalos ou parker's com aparo de ouro que se compra alguém... mas num país onde é preciso ter "conhecimentos" para tudo e mais alguma coisa, fica sempre bem uma lembrança no natal...
Não há almoços de graça , 13 Dezembro 2012
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Aqui fica uma para o economista Eduardo Catroga: "Não há garrafões de azeite grátis"
Top Chef , 14 Dezembro 2012 | url
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Desde quando o activo não pode mimar o passivo!
Picaroto , 14 Dezembro 2012
...
Tem piada.
Oferecem tantas coisas ao Snr. Catroga. Porque será ?
A mim ninguém me oferece nada ! Porque será ?
Quando lhe pedirem para devolver o favor será que vai ter coragem para dizer não !
Ninguém gosta de mim.
Je m'en fous.
Ai Ai , 14 Dezembro 2012
A mim já me ofereceram montes de mixuruquices...
A Nacional Tradição do presentinho por mais insignificante que seja, é UMA SIMPLES AFIRMAÇÂO DE SUBSERVIÊNCIA FRENTE AOS MAIS PODEROSOS!
A mentalidade dos tais escravos de cupróar de que falava Sena!
Mas como dizia minha avózinha; "Favores de mer)@ pagam-se a cag@&"!
Pedro Só , 14 Dezembro 2012
José Pedro Faria (Jurista) - "Muito obrigado, mas..."
Aceita-se habitualmente que determinado tipo de lembranças (oferta de garrafas de whisky ou de canetas, por exemplo - ainda que seja preciso ter em conta o valor dos objetos oferecidos) a um funcionário ou titular de cargo público, não tem um desvalor ético e jurídico que permitam integrá-las no crime de corrupção.

Já por algumas vezes me pronunciei aqui acerca desta questão e já apresentei o meu ponto de vista em determinada audiência de julgamento, perante a aparente surpresa do coletivo.

Especialmente nas situações em que existe um contacto regular e continuado entre um cidadão e um serviço público (mas não apenas), a aceitação de uma oferta é suscetível de criar um clima de cumplicidade entre ofertante e ofertado, colocando em risco princípios como o da isenção e da imparcialidade. Atente-se que não importa exclusivamente o valor patrimonial do(s) objeto(s), não é esse o único critério relevante.

Mesmo que não seja possível estabelecer uma ligação clara entre uma vantagem patrimonial e uma contraprestação (designadamente fazer subir um papelinho, que está no fundo de uma pilha, para o seu topo...), existe sempre a questão da imagem dos serviços públicos (à mulher de César...).

Portanto, perante uma oferta nas condições mencionadas, a conduta ideal do potencial ofertado é responder de forma simpática "muito obrigado, mas não posso aceitar". No máximo (ao estilo da expressão "por mero dever de patrocínio"!) admito que uma circular interna normalize condutas neste âmbito, sendo autorizada a receção de ofertas a benefício dos serviços na sua globalidade, ou não sendo isso possível, que as mesmas sejam juntas a um bolo global de todos os serviços, e entregues a instituições de solidariedade, que com os objetos poderiam ficar se lhes forem úteis, ou, em alternativa, vendê-los para seu benefício.
José Pedro Faria (Jurista) , 14 Dezembro 2012
...
Valha-nos Deus, ao que este país chegou ! Até o dr. Catroga - ex-ministro das Finanças e chefe do programa do governo e das negociações troikistas (ou trotskitas?) está a precisar da ajuda dum Banco Alimentar! Chegaram-lhe azeite ! ...
f11 , 14 Dezembro 2012
O Catloga tem lazão
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Na nossa kultula dal plesentes é só amizade...
Lusitânea , 14 Dezembro 2012
...
Não há almoços (nem prendas) gratis entre pessoas que apenas estão em contacto por uma delas desempenhar um determinado cargo ou exercer determinada função.

Quem entrega uma prenda a um funcionário nas circunstâncias acima referidas muito provavelmente está a tentar "lubrificar" a pseudorelação existente para estar bem cotado o dia que necessite de um favor especial.
JVC , 14 Dezembro 2012
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Uns recebem e outros não. Não é corrupto quem quer. É quem pode.
Valmoster , 14 Dezembro 2012
...
quem quer corromper, faz o que achar preciso.

não há almoços grátis.
a b c , 14 Dezembro 2012
O redutor
Caro Pedro Só
É por isso que muita gente dá uma lembrança à empregada doméstica ou ao porteiro do prédio? É "UMA SIMPLES AFIRMAÇÂO DE SUBSERVIÊNCIA FRENTE AOS MAIS PODEROSOS" (sic)?
Ou há uma qualquer forma de contrapartida esperada?

Mas, ainda que tivesse razão, os servos, como sabe, prestam vassalagem ao Senhor, mas em troca recebem “protecção”. Ou só sabe da “tradição” a metade?
Este país não sai disto...
Top Chef , 14 Dezembro 2012 | url
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E já agora, se "Favores de m--)@ pagam-se a ---@&", favores de azeite pagam-se "untando"...
Top Chef , 14 Dezembro 2012 | url
A solução para a perda de rendimento dos Magistrados...
Eis, pois, Senhores Juízes e Procuradores, a solução para a vossa perda de rendimentos: Ponde à porta das salas de audiência uma caixa para donativos, onde o povo (partes, incluisive), anonimamente ou não, depositará generosas oferendas (leia-se, meras gratificações...).
Pelos vistos, pelo desenvolvimento do raciocínio catroguiano, não virá daí mal ao mundo, nem vossas independência, isenção e impercialidade sofrerão mácula!... E tudo será, naturalmente, bem aceite pela comunidade...
Cidadão Preocupado , 14 Dezembro 2012
Top Chef redutor?
Não entendo essa da sopeira e do porteiro!
Mas explico!
É ao contrário!|

Subserviência face aos poderosos É A EMPREGADA DOMÉSTICA OFERECER PRESENTES AO PATRÃO!

JVC: Afinal sempre aparece alguém esclarecido. Tem toda a razão. Mas essa relação dominante/dominado, faz parte da natureza animal incluindo os humanos! Os cães pequenos oferecem o traseiro e subordinam-se de barriga para o ar face aos cães grandes!
E todos os primatas incluindo os pelados assumem o mesmo comportamento!
Lamentávelmente parece que a grande maioria dos comentadores de esqueceu de ler Desmond Morris na sua adolescência!
De lamentar apenas que entre os humanóides nacionais a evolução não ter ainda atingido o nivel ético de que José pedro Faria (jurista) refere e muito bem no último parágrafo do seu pertiente comentário!
Pedro Só , 14 Dezembro 2012
Não leram Montesquieu
Montesquieu escreveu in “Do Espírito das leis”, livro quinto, XVII – Dos Presentes: “ Numa República, os presentes constituem coisa odiosa, porque a virtude não necessita deles. Numa monarquia, a honra é um motivo mais forte que os presentes. Baseado nas ideias da República, Platão queria que aqueles que recebessem presentes para cumprir o próprio dever fossem punidos com a morte. Era má a lei romana que permitia aos magistrados aceitarem pequenos presentes…” (sic)
Silva , 14 Dezembro 2012
Pedido de esclarecimento
Carissimo Silva:
Montesquieu teria eventualmente razão.
Quanto a Platão, tem toda a razão mas trata-se de um assunto diferente.
Quanto ao último ponto ocorre-me perguntar-lhe: Não somos nós os herdeiros da Lei Romana?
Kill Bill , 14 Dezembro 2012
...
O uso de azeite para meter cunhas é uma prática ancestral; conotado com o sagrado, era e continua a ser usado nos locais de culto para agradar às divindades a quem normalmente se costuma fazer pedidos.

É pois perfeitamente "natural" que também se dê azeite aos políticos; resta agora apenas supor que tipo de ladaínha o terá acompanhado, mas não andará longe disto:

- divindade catroga, dai-nos contratos muito lucrativos;
- divindade catroga, arruinai os nossos inimigos;
- divindade catroga, olhai por nós...
Franclim Sénior , 14 Dezembro 2012
...
Sempre que recebi prendas, tinha o cuidado de as distribuir pelos meus colegas. Até para que estes não ficassem com dúvidas sobre a minha isenção. Mas não estou a ver muitos dos Srs Drs a receber canetas Mont blanc e Barcas Velhas, e distribuírem-nas pelos cargos inferiores... Uma das vezes até fizemos um lanche com caviar e vinho,
Mas, quando exemplo vem de cima, ao ponto de um ex-presidente cá do Burgo ter ficado com todas as ofertas que recebeu no exercício das suas funções... Assim se vê a "normalidade" com que estas coisas são encaradas aqui na ilustre Lusitânia...
aluz , 14 Dezembro 2012
Até com um café
Sou policia à cerca de 3 anos e comecei por prestar serviço nos açores. Logo no principio um senhor pagou-me um café sem eu me aperceber e soube depois quem era. Numa Operação Stop quando o tive que autuar senti-me comprometido. Foi só apenas um café, não tive contacto com a pessoa e nem me coloquei naquela situação...
Ricardinny , 15 Dezembro 2012 | url
Não há almoços grátis !

A corrupção é como um vírus à espera de um hospedeiro.

O mais grave é ceder ao pequeno e primeiro favor.
É a pequena brecha na coerência, e que vai permitir que não se negue o segundo, depois o terceiro, o quarto favor, já maior,e se quebrem as resistências,os argumentos de resistir, pois, se já aceitou, e sabia que não devia, onde está a lógica de não voltar a ceder...não tem desculpa, já foi desonesto... e depois é a pressão , a chantagem velada da ameaça de espalhar que é um vendido.....
Deus nos livre dos salamaleques e lambe-botas que tudo fazem, com facilidades e ofertas, para dar a dentda da víbora ..
Compreendo o que sentiu RicardinnY, no caso do simples café.. .
Por isso se diz e com razão..."não há almoços grátis !"
Telmo , 15 Dezembro 2012
...
Sem mais Ricardinny.
Agora o Snr. Catroga deve ser um grande ingrato pois dão-lhe prendas e depois, sem qualquer sentimento, recusará qualquer pedido que lhe seja feito.
Este se calhar é um que já devia estar preso para pensar melhor nas prendas que aceitou.
É só podridão despudorada ... mais nada.
Ai Ai , 15 Dezembro 2012
...
Tratou-se apenas de umas garrafitas de Azeite Fátima trazidas por um amigo que foi à Covada Iria pedir a ajuda divina para o seu negócio properar.
http://www.agencia.ecclesia.pt...?id=89568
Maria do Ó , 15 Dezembro 2012
Xiiiii !
Nunca quis acreditar que neste país as pessoas se vendessem por tão pouco!
Mas a avaliar por uma significativa parte dos comentários isto está mesmo de rastos!
Qualquer trapo do bazar da esquina srbe para arranjar grandes contratos!
Pedro Só , 15 Dezembro 2012
...
Em relação ao meu post (puro humor) à notícia supra quero acrescentar que não vejo qualquer problema nas ofertas mencionadas. Creio que se inserem no âmbito do convívio social, na manifestação de amizade e carinho. Eu próprio gosto de oferecer prendas a quem Estimo.
Cumprimentos.
Franclim Sénior , 15 Dezembro 2012
...
Ai se um juiz dissesse que recebe umas prenditas de empresários e sociedades de advogados...
Ai , 16 Dezembro 2012 | url

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Atualidade Direito e Sociedade “Quem quer corromper não utiliza prendas”

© InVerbis | 2012 | ISSN 2182-3138 

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