In Verbis


icon-doc
REVISTA DE 2012

Organização judiciária

  • PDF

Rui Rangel - Digam-me qual é o sistema que aguenta tantas reformas, tantas alterações, sem se dar tempo a que as leis respirem, repousem, se acomodem e consolidem.

Os governos de José Sócrates falharam com o País, com o Povo e com a Justiça. Na Justiça a tragédia foi completa. Legislou-se em excesso, de forma errada, com leis mal pensadas e pior executadas. Com reformas das leis criminais, a reboque de casos concretos e com uma crispação e um confronto contra os juízes de que não há memória. A única reforma que valeu a pena foi a do novo modelo de organização judiciária, que, apesar de só ter sido implementado em três grandes comarcas, ia no bom caminho. Os constrangimentos orçamentais impediram a sua completa implementação por todo o território nacional.

Este novo modelo de gestão e de reorganização do mapa judiciário merecia continuidade, alterando ou rectificando o que fosse de aperfeiçoar. Nunca uma radical mudança de génese, de orientação e de rumo estratégico, como, agora, é proposto pelo actual governo. Gastaram-se milhões de euros em estudos, em redes informáticas e em sistemas que, agora, vão ser deitados para o caixote do lixo.

Digam-me qual é o sistema que aguenta tantas reformas, tantas alterações, sem se dar tempo a que as leis respirem, repousem, se acomodem e consolidem.

É corrente definir um Estado como "um Governo, um Povo, um Território". É pacífica a forma democrática de Governo e o Povo, apesar de algumas questões de coesão social. Mas já não é pacífico o modo de organização do nosso Território.

O novo modelo do mapa judiciário tem implicações directas nas questões do ordenamento do território. Apesar do território nacional estar retalhado em mapas diversos, com disfunções graves provocadas pela chamada "litoralização do País", ninguém pode continuar a fomentar políticas que aumentem, cada vez mais, a desertificação do interior. A grande malha da população está concentrada sobre o litoral, daí que o sistema judicial tenha um papel decisivo na criação de novas centralidades e na proximidade da democracia.

Abandonar o interior do País, deixando as populações sem os serviços da governação, onde se encontram os tribunais, não é o caminho.

A verdadeira causa da redefinição do mapa judiciário não está, apenas, no desajustamento do volume processual. Está também num adequado ordenamento do território e no não abandono das populações. A proximidade da Justiça é outro decisivo elemento a ter em conta na vida das pessoas e na qualidade da democracia.

Se estes elementos não forem considerados, com bom senso e proporcionalidade, a Justiça e a equidade de nada valem. O argumento economicista não é o único válido, sob pena de passarmos a ter uma Justiça só para ricos.

Rui Rangel | Correio da Manhã | 02-02-2012

Comentários (8)


Exibir/Esconder comentários
...
Resposta: é o português.
O Pinto , 02 Fevereiro 2012
A JUSTIÇA DOS RICAÇOS
Salvo o devido respeito, a "justiça" dos tempos que correm é, na realidade, só para ricos.
A "justiça" para pobres e para ricos "foi chão que deu uvas..."
Basta atentar na "imensidão" da taxa de justiça num simples divórcio sem consentimento...
And so on...
Nestas circunstâncias, é, realmente, indiferente onde é que estão e onde é que deixam de estar os edifícios dos tribunais.
Na prática, neles só entram quem tem dinheiro para gastar: em taxas de justiça, em honorários de advogados, em honorários de agentes de execução, etc...
Os "pobres", quando recebem qualquer citação, ficam, em regra, com a "papelada" a tremer nas mãos, pois não têm recursos para contestar e, muito menos, para recorrer se a decisão de primeira instância lhes for desfavorável.
Salvo o devido respeito, tudo o resto são "cantigas".
António , 02 Fevereiro 2012 | url
...
Digam-me qual é o Juíz de um Tribunal superior que aparece constantemente nas televisões e rádios a comentar os assuntos do momento, e assina colunas regulares em jornais, também sempre a comentar os assuntos do momento, que nesses comentários se pronuncia sobre todos os assuntos, mesmo que sejam assuntos de natureza estrita ou predominantemente política e até político/partidária, ou que emite abundantes opiniões sobre processos que foram distribuídos e decididos por outros Juízes, e que até lhe podem ser distribuídos em recurso, e que pensa que pode continuar a ser Juíz, sem ver a sua isenção e independência feridas de morte, já para não falar na postura de recato e discrição que é apanágio dos Juízes ?
Quem é ele, quem é ?
Não sabem ?
Eu dou uma ajuda: é aquele que marinho pinto (outro ícone da Justiça portuguesa actual) enxovalha regular e semanalmente num programa de televisão.
E já agora, qual é o País pretensamente civilizado em que isto pode suceder com total impunidade, por inacção do orgão disciplinar competente ?
Também não sabem ?
Eu ajudo:
É um país periférico, em estado de falência técnica, e intervencionado pelo FMI
Pensando bem, a falência não é só económica e financeira. É pior.
Hannibal Lecter , 02 Fevereiro 2012 | url
Parabéns a Hannibal Lecter
Parabéns a Hannibal Lecter pelo comentário certeiro. Nem mais uma palavra.
Apenas para realçar o que escreveu na parte final: " E já agora, qual é o País pretensamente civilizado em que isto pode suceder com total impunidade, por inacção do orgão disciplinar competente ?".
Pires, o sadino , 02 Fevereiro 2012
...
Meu Caro Hannibal Lecter, penso que se refre à Patagónia, não? Como, a Patagónia não é um Estado? Então não sei responder-lhe...
Sun Tzu , 02 Fevereiro 2012
A/C Dr. Rangel
Caro senhor desembargador,
apesar de não concordar com a opinião que vem acima expressa, noutras circunstâncias isso não me incomodaria nada. O que há de mais normal é dois, três, dez juristas discordarem uns dos outras acerca da mesma questão da política de justiça. Ocorre que V.Exa. vem sendo semanalmente enxovalhado na Tv e isso contamina toda uma classe, que nunca lhe perdoará. Sugiro-lhe, pois, com o devido respeito, um ato de higiene: demita-se. Demita-se daquelas funções indecorosas que desempenha para a SIC.
Ah e quanto ao mapa judiciário: vão manter-se todos os tribunais onde há pessoas.
Priolo , 02 Fevereiro 2012
...
"um Governo, um Povo, um Território".

Creio que, no caso do articulista, será mais "um programa de televisão, uma resposta "em abstrato" pois está sujeito a dever de reserva, um microfone"...smilies/grin.gifsmilies/grin.gifsmilies/grin.gifsmilies/grin.gifsmilies/grin.gif
Zeka Bumba , 02 Fevereiro 2012
...
Lecter e Pires,
Vexas ainda não constataram que o "órgão disciplinar competente" parece ter uma lista de intocáveis? Recordam-se do caso do cachecol partidário? Ou do recente caso do discurso "censurado" mas cujo autor não mereceu censura? (V. aqui e aqui). Haja respeitinho!
G. , 02 Fevereiro 2012

Escreva o seu comentário

reduzir | aumentar

busy

Últimos conteúdos

A estrutura da InVerbis está organizada por anos e classificada nos correspondentes directórios.Os conteúdos publicado...

O Estado assumiu, através da empresa pública Parvalorem, a dívida de quase 10 milhões de euros de duas empresas de Vítor...

Dos 118 homicídios cometidos em 2012, 63 tiveram familiares como protagonistas • Cinco pais e 18 padrastos detidos por a...

Pedro Lomba - Na primeira metade do ano o ajustamento negociado com a troika correu dentro do normal e expectável. Mas d...

Últimos comentários

  • Tutela da inveja

    Meu Caro Herr Flick, ouça bem que só vou dizer isto uma vez: nem todos vão para casa ao fim de 9 (não 12) anos. Apenas alguns....

  • Requisitório ao regime

    E houve um zombie(ser do outro mundo) uqe recebeu uma casa na Coelha por metade do seu valor...

  • Condenada por insultar Tribunal de Família

    bla bla bla. o que interessa saber é quem fica a ganhar dinheiro ou impunidade com os processos lentos e sem autoridade. nós sab...

Tradução automática

Opinião Artigos de Opinião Organização judiciária

© InVerbis | 2012 | ISSN 2182-3138 

Sítios do Portal Verbo Jurídico