Rui Rangel - Não pertenço à maçonaria nem nunca fui convidado. Pertencer à Maçonaria não é crime, não é ilegal e não colide com os princípios que estruturam o Estado de Direito. Não ser da Maçonaria não me impede de reflectir sobre este tema, que persiste em andar sempre escondido atrás do biombo ou do avental. A história da Maçonaria, na perspectiva da Fraternidade Iniciática e Simbólica, está ligada às ideias do Iluminismo, da procura da Razão e do aperfeiçoamento do homem e da sociedade. É um puro acto de liberdade do homem, na sua plena dimensão.
O seu relevante papel histórico está bem datado, nos regimes onde não há liberdade de pensamento, onde não existem direitos, onde a opressão humana é a marca genética do Poder. Aqui a sua actuação é fora e contra o Poder. Na democracia a sua actividade é, publicamente, reduzida e menos transparente na procura de um homem melhor, em termos espirituais, éticos e morais. E na denúncia da corrupção no aparelho do Estado, no tráfico de influências, nos negócios em torno da coisa pública, no asfixiamento dos valores democráticos e no escândalo de serem sempre os mesmos a beneficiar de cargos no sector privado, abusando da influência que tiveram quando estiveram ao serviço do Poder Público. Bem como na denúncia dos aparelhos partidários que comem tudo, não deixando a sociedade respirar e não reconhecendo valor e competência a tanta gente independente e de excelência que existe. Aqui a Maçonaria vive dentro e dorme com o Poder instalado.
Respeitando a soberania individual do homem em manter o segredo de pertença, deve discutir-se a transparência na vida política. Entre a transparência na vida pública de quem exerce cargos com poder e o direito à privacidade, inclino-me a dar preferência à transparência. Isto nada tem de inconstitucional, mas sim de moral e de ético. Nesta colisão de direitos é bom que quem estiver em altos cargos diga, de forma livre, ao que pertence.
O problema não está na Maçonaria mas sim no homem. O homem está acima do Estado, mas não está livre da suspeição sobre os seus actos e a sua honra, se renega a transparência. Há várias Maçonarias, com interesses diferentes e que lutam pelo Poder. Há muito que deixou de ser só uma "escola" de virtudes. Se eu fosse maçon e tivesse de julgar um membro da minha loja, com grau diferente ou equivalente, não sei se seria isento, imparcial e independente. E há maçons nas magistraturas. Ninguém obriga a ser juiz, procurador ou político. É um ónus que em democracia devemos saber respeitar. Daí que, em nome de um Bem Superior, o da transparência, é importante conhecer, ligações e cumplicidades na vida pública e política.
Rui Rangel | Correio da Manhã | 12-01-2012
Comentários (4)
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Rangidos 2
Mal posso esperar pelo dia em que o assunto seja a clonagem de vasos capilares, para ver como o nosso Enciclopedista domina o tema.
Rangendo e rindo...
José Pedro Faria (Jurista) - Maçonaria e transparência.
O problema é que a maçonaria, hoje, não passa de um poderoso grupo de pressão. A fraternidade de que falam os maçons, não tem como destinatários os "profanos", mas antes, e apenas, os membros da própria maçonaria. Por isto mesmo, é imperativo ético, em nome de princípios basilares (isenção, transparência...), que saibamos quem são os maçons que orbitam na esfera pública e que cargos ocupam.