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REVISTA DE 2012

Concertação judicial

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Paulo Marcelo - A semana passada foi marcada pela concertação social. Mais do que as medidas concretas - aquém do necessário - o acordo é um sinal político importante para distender o ambiente pesado que se instalava. O exemplo pode inspirar a reforma da Justiça, onde é fundamental envolver os operadores judiciários na mudança.  

Foi esse um dos erros do passado. Recordo que Sócrates, no discurso de tomada de posse, apresentou as férias judiciais como medida emblemática, atacando aqueles que trabalham nos tribunais, acusando-os subtilmente de preguiçosos. O resultado foi virar todos contra o governo, que teve de recuar em toda a linha, sem fazer as reformas anunciadas ao longo de seis anos de poder socialista.  

Paula Teixeira da Cruz recebeu um ministério falido e os tribunais numa situação de ruptura. Mesmo depois de vários planos de "descongestionamento", os processos judiciais entrados continuam a superar os findos, engrossando as 1.678.806 pendências (2010). A situação só vai piorar com a crise. Perante estes números colossaiscomo dizia o outro - percebe-se que não vamos lá com remendos. Nem com mais operadores judiciários que, sublinhese, já muito aumentaram nos últimos anos, sobretudo advogados (27.000) e magistrados (3.172), cujos rácios já nos colocam no topo dos países europeus.  

Fico desiludido ao perceber que o acordo com a 'troika' se focou em problemas conjunturais, em especial nas pendências, a eliminar até ao segundo trimestre de 2013 (alguém acredita?), ignorando os problemas de fundo: uma cultura judiciária formal e burocrática, distante da verdade e da justiça no caso concreto; e alienada de critérios de eficácia. Apesar de dar jeito aos financeiros, que agora dominam a política, é um erro pensar que se melhoram as "estatísticas" sem resolver os problemas de fundo do sistema. É preciso ir mais longe, mudar de paradigma. O que passa por simplificar as regras processuais (para quando a reforma do processo civil?). E dar maior poder aos magistrados, assumindo que são titulares de um órgão de soberania e não uns meros funcionários qualificados. O que implica dar-lhes mais autonomia e os meios necessários, inclusive algo básico como dirigir os seus próprios funcionários, para se focarem no trabalho judicial, libertando-os da actual carga burocrática.  

Poderia continuar falando do mapa judiciário, dos recursos dilatórios ou da reforma dos tribunais superiores, onde é preciso ir "para além da troika". Mas como não acredito que os problemas se resolvem numa folha A4 (algo só ao alcance de Assunção Esteves), volto ao ponto essencial: só envolvendo os operadores judiciários, numa espécie de acordo de Concertação judicial, será possível fazer a urgente reforma estrutural da Justiça. Tudo o resto são números para a 'troika' ver.

Paulo Marcelo (Advogado) | Diário Económico | 24-01-2012

Comentários (4)


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VINHO VELHO EM ODRES NOVOS
A ideia não é nova, e até parece que até há um conselho judiciário que funciona na órbita do MJ, mas nunca é demais pensá-la.
O que existe actualmente, o dito conselho, tem a forma de uma burocrática comissão ministerial.
O congresso da justiça serviu para o então bastonário ter um palanque mais alto para se pavonear.
Esta ideia de "concertação judicial" coloca a ênfase na conflitualidade entre os diferentes actores, tentando-se que da discussão resulte a luz.
O pior é que o actor principal não tem assento: o Povo. Todos os restantes (poder executivo, advogados, magistrados, etc.) apenas procurariam puxar a braza para a sua sardinha...
Digo , 24 Janeiro 2012
SIMPLEX
Simplex, precisa-se, com muitíssima urgência.
As sugeridas "concertações" provavelmente só gerarão "desconcertos".
Quem foi eleito para governar, que governe!
O resto, salvo o devido e muito sentido respeito, são "tretas".
Santiago , 24 Janeiro 2012 | url
...
Ai mãezinha, acode a este País! Acordo social! Qual acordo? Deixemo-nos de mentiras e hipocrisias. A concertação social está para os trabalhadores como a democracia para o povo. Há quem se junte para inglês ver, a nível das organizações representativas do mundo do trabalho e patronal, este com o governo por aliado. O esquema resume-se facilmente. O poder económico-financeiro (sabe-se que os grandes grupos têm um banco no seu centro) diz ao governo o que quer. Este, invocando compromissos internacionais ou, dito de outra forma, exigências da troika com quem fez a tramoia sem dar cavaco "aos parceiros sociais mesmo como mero partido político) faz saber o que é "imperioso" para sair da crise. De seguida uns e outros chamam as cúpulas sindicais e põem-lhes o ultimato na mesa, com palha para dar de comer ao burro laboral. Este come e desculpa-se dizendo que seria pior se não se contentasse com a palhe em vez do grão que ele mesmo lavra e os outros gritam acordo social! E não têm vergonha! Não há assimn acordo porque não há igualdade de armas. Entre lobo e cordeiro não há acordos. O lobo come o cordeeiro se quiser e quando quiser.
Admitamos que havia igualdade de armas e por isso acordo. Em qualquer caso os dirigentes sindicais só representariam os membros dos sindicatos que os elegeram ou nomearam e apenas vinculariam os trabalhadores neles inscritos e com as quotas em dia. Logo uma minoria dos trabalhadores, os sindicalizados, neste caso, nos sindicatos da UGT. Ou estamos no corporativismo salazarista ou no sundicalismo de estado? Não sendo assim, o acordo "social" foi feito com quantos trabalhadores? 3 por cento da população laboral? Nem isso.
Vão brincar com o corcunda de Notre Dame! Irra que não têm vergonha nenhuma! Quem não vai no embrulho são os eventuais "investidores" que continuam a considerar que somos "lixo".
Barracuda , 24 Janeiro 2012
...
Acordo de concertação social ou compra da UGT pelo Governo? Não? Então expliquem-me lá porque é que eu li hoje nos jornais que os bancários vão continuar a ter 25 dias de férias, quando a restante «canalha» vai ver 4 dias por um canudo? Será porque os únicos sindicatos dignos do nome que compõem a UGT são de bancários? Ou é uma teoria da conspiração em que navego?
L. Cornelio Sula , 24 Janeiro 2012

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