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REVISTA DE 2012

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O Procurador-geral da República completa dentro de semanas (no início de Abril) 70 anos, atingindo o limite de idade para o exercício da magistratura. Pinto Monteiro, por antecipação, veio desde já anunciar que tenciona manter-se em funções mais uns meses, até ao final do mandato (em princípios de Outubro). Argumenta que a Constituição e o Estatuto em vigor assim o permitem.

Há menos de dois anos, Pinto Monteiro insistiu teimosamente em conservar o seu vice, Mário Gomes Dias, depois de este ter completado o seu 70.° aniversário. Teimosamente, porque a questão da legalidade do exercício de funções para além do limite de idade estipulado foi imediatamente suscitada em foro competente e em público e Pinto Monteiro fez orelhas moucas. Até mais não poder. Ao ponto de acabar a ratificar e rectificar despachos e outros actos do seu vice que, por já não poder sê-lo, estavam manifestamente feridos de ilegalidade. Na altura, no Verão de 2010, a polémica foi maior porque Mário Gomes Dias era apontado como um dos principais agentes da pressão de que se afirmaram alvos os dois procuradores responsáveis pelo caso Freeport ostais dois procuradores que foram visados em procedimentos disciplinares pela forma como conduziram o processo e, nomeadamente, por terem incluído em despacho as perguntas que nunca puderam fazer ao primeiro-ministro em exercício à época.

A questão da legitimidade ou ilegitimidade de Pinto Monteiro para levar até ao fim um mandato que está para além do limite de idade que entretanto atingirá será certamente decidida em função do quadro normativo, constitucional e legal, que a quem de direito cumpre analisar – e que devia ser imediatamente esclarecida, uma vez que Pinto Monteiro já anunciou que não tomará a iniciativa de se afastar do cargo pelo simples motivo de completar 70 anos em Abril.

Até porque não é caso único: também o presidente do Supremo completará 70 anos sem o mandato terminado.

Esperar pelo facto consumado e, depois, levar meses a saber se o PGR pode/podia ou não manter-se em funções após ter atingido o limite de idade não tem razão de ser. Mesmo sendo a praxe do burgo, que arrastar os problemas é forma absurdamente usual de ultrapassar os obstáculos da Lei e da Justiça e de garantir de facto o que não é possível pelo direito. OUTRA questão é a de saber por que razão Pinto Monteiro quer manter-se em funções para além do limite de idade e até ao final do mandato. Será que o procurador-geral da República se propõe fazer em menos de meio ano o que não fez em todo o resto do mandato? Por junto, e até agora, Pinto Monteiro apenas contribuiu para piorar a desconfiança da opinião pública na Justiça e acentuar a ideia, aliás repetida esta semana pela própria ministra da tutela, de que há uma Justiça para ricos e outra para pobres e há uns que os tribunais levam anos a perseguir sem que consigam jamais provar o que quer que seja e outros a quem fecham os olhos, não por a Justiça ser cega (que, se o foi, há muito deixou de o ser), mas por não olhar a meios para atingir outros fins.

A VERDADE é que Pinto Monteiro, que quer continuar PGR até quando lhe for permitido, não tem nem a confiança política do Presidente da República (basta reler o discurso da noite em que Cavaco Silva foi reeleito) nem do Governo (como o confirmam as declarações de Paula Teixeira da Cruz, nesta semana, no Clube dos Pensadores). Nem tão pouco dos magistrados do Ministério Público – e é por demais conhecida a guerra que sempre moveu ao Sindicato liderado por João Palma.

Objectivamente, Pinto Monteiro, para acabar com dignidade o respectivo mandato como procurador-geral da República, devia ter vindo anunciar precisamente o contrário do que disse ao SOL na semana passada. Ficava-lhe bem, porque enfim prestava um bom serviço à Justiça, ter vindo dizer que no dia em que completar os 70 anos, obviamente, reforma-se. E com ele, os duques, as duquesas, os barões e as baronesas que começou por denunciar quando chegou à Rua da Escola Politécnica e com os quais, afinal, acabou a cultivar uma relação de promíscua vassalagem.

Mário Ramires | Sol | 27-01-2012

Comentários (5)


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...
Não tenho qualquer tipo de simpatia pelo actual PGR. Contudo, nesta situação em concreto a lei está do seu lado. É que para se ser PGR não é necessário ser magistrado (para quem existe o aludido limite de idade), sendo que se assim o entender o Governo pode propor a nomeação de um trolha e se também assim o entender o Presidente da República pode nomear o trolha como PGR.
A questão não se coloca assim ao nível da lei (no caso da CRP), mas sim ao nível do carácter. Depois da Ministra da Justiça já ter dito que não tem confiança neste PGR e verificando-se que o cargo depende de uma dupla confiança (do Governo e do PR), apenas restava ao actual PGR demitir-se, independentemente da idade que tenha. Mas como disse, isso é uma questão de carácter...
Gandalf , 27 Janeiro 2012
...
Não é uma questão de legalidade, é uma questão de bom senso.
(Mas provavelmente no meio de tantas habilidades, a sensatez não é o forte deste sector, esquecidos que estão os princípios para darem lugar às oportunidades).
Sic transit gloria mundi.
fc , 28 Janeiro 2012
PGR !
Está lá para servir o Partido no Poder !
Não venham com Contos(Já não se diz histórias)
----
povo , 28 Janeiro 2012 | url
Não sou o PGR, nem o BOA, nem ninguém de proa.
Preso por ter cão e preso por não ter cão.
Eles que são brancos que se entendam.
Advogados de defesa e acusação.
Julgue o Juiz da causa.
Nunca gostei de testes de personalidade e de carácter.
Cada um sabe de si e Deus sabe de todos.
Penso que o Juiz que julgue este caso deve ser imparcial.
Tribunal Constitucional ou Supremo Tribunal Administrativo. Deve haver quem respostas para tudo isto.
Alguém que seja Jurista.
Eu nunca gostei de emboscadas, nem de "bodes espiatórios".
Portugal tornou-se um caso difícil de explicar.


Feia mas pouco, , 28 Janeiro 2012
...
Deixem de mão o PGR, querem ocupar o lugar rápidamente, tenham lá uma calma, o PGR, ainda está lá para as curvas e contra-curvas, fora de mão - as derrapagens não contam
armando , 30 Janeiro 2012

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